
Miguel Lucena
“Hoje é domingo, dia do Senhor, veja como vive essa gente nossa!”, cantava Padre Zezinho pelo alto-falante da Igreja do Bom Conselho, despertando Princesa para a missa das sete. O menino, coroinha zeloso, descia apressado por uma ruela próxima à Rua Grande quando ouviu da beata a profecia carinhosa: “Meu filho, você será um santo!”.
A igreja imensa estava cheia, e Frei Mariano comandava a cerimônia com cânticos que ecoavam no coração do menino. Ele se impressionava especialmente com o trecho que falava das mãos pobres, sempre abertas para tudo dar, e do perfume que fica nas mãos generosas que oferecem rosas.
Depois da missa, vinham as brincadeiras na rua com os amigos, o almoço simples e caloroso em família e, à tarde, o esperado clássico entre Cancão e Central no campo enladeirado do Sítio Laje. Quando o Cancão marcava um gol, o velho Miguel jogava seu chapéu para cima, enquanto o maestro Zé de Menininha animava a torcida com um frevo alegre.
Era esse o nosso mundo, feliz e leve, sem as guerras e conflitos que ocupam as cabeças dos adultos.