
Iniciados há cinco meses, os protestos por liberdade em Kong escalaram para um confronto entre estudantes e forças policiais nas últimas semanas num ritmo que parecia irrefreável. Até que, nesta terça-feira, a chefe do executivo da cidade, Carrie Lam, pediu que a polícia tente resolver de forma “humana” a situação. É um apelo ao bom senso vindo do poder central inesperada por observadores internacionais.
Lam é, desde a largada, figura central na onda de protestos. Foi dela a iniciativa de passar uma lei que permitiria a extradição de moradores de Hong Kong para julgamento na China continental pelos mais variados tipos de crimes. Cidadãos da ilha, que gozam de liberdade política mesmo com a devolução do território à China, há 22 anos, foram às ruas protestar de forma pacífica contra a medida.
Os protestos foram ganhando corpo, e se tornando mais e mais violentos na medida que o governo local restringiu a área de atuação dos manifestantes. Primeiro, Lam prometeu não levar o projeto adiante e depois, em outubro, abandonou-o definitivamente.
Mas, assim como aconteceu em outros lugares do mundo, as ruas continuaram cheias, numa demanda mais ampla por mais liberdade que exigia, entre outras mudanças, a saída da governante.
Lam foi eleita em 2017 com explícito apoio de Pequim mesmo após a primeira onda de protestos por liberdade na ilha, a revolução dos guarda-chuvas, em 2014. A demanda, então, era por eleições independentes. O governo local é eleito por um comitê com 1.194 membros, muitos deles aliados ao governo central. A governantes se comprometeu a defender o lema “um país, dois sistemas”, que garante a Hong Kong liberdade de expressão (com imprensa e internet sem censura) e Judiciário independente.
Nas últimos semanas, os protestos escalaram com denúncias de interferência de forças militares chinesas. Um estudante morreu e outro ficou gravemente ferido ao ser atingido a queima roupa por um policial. Um grupo de 100 manifestantes se aquartelou na universidade politécnica, cercado pela polícia, numa batalha que já deixou 200 feridos.
O novo chefe da polícia local, que chegou a ameaçar usar armas letais em larga escala, afirmou que 30.000 homens estão trabalhando para conter as manifestações. O embaixador da China em Londres acusou ontem países estrangeiros, incluindo Reino Unido e Estados Unidos, de interferir nos assuntos internos chineses ao comentar os confrontos em Hong Kong. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou que o governo local é o maior responsável por assegurar um retorno à calma.
Hong Kong é uma mostra de que o presidente chinês Xi Jinping não está disposto a concessões democráticas. A questão em aberto é até onde o ocidente está disposto a ir na reação.