Barr disse que Trump havia se “desligado da realidade” ao pressionar o Departamento de Justiça para investigar fraudes inexistentes na eleição de 2020
Em depoimento gravado e exibido ontem pelo comitê que investiga a invasão do Capitólio, o ex-secretário de Justiça William Barr fez algumas das críticas mais duras ao ex-presidente Donald Trump. Barr disse que Trump havia se “desligado da realidade” ao pressionar o Departamento de Justiça para investigar fraudes inexistentes na eleição de 2020.
“Ele está deslocado da realidade se realmente acredita nessas coisas”, testemunhou Barr no vídeo exibido durante uma audiência do comitê. As alegações de fraude e outras teorias da conspiração que Trump abraçou eram “totalmente sem sentido” e “coisas malucas”, disse.
Segundo Barr, a decisão de Trump de reivindicar a vitória na noite da eleição foi estranha, porque muitos aliados esperavam que os votos por correio, que seriam apurados ainda, favoreceriam Joe Biden. Trump, disse ele, nunca demonstrou qualquer “interesse pelos fatos reais”.
Críticas
Barr foi um dos poucos membros do governo que rejeitaram as alegações de Trump e renunciaram por conta da pressão do ex-presidente. Sua fala, porém, difere de suas declarações públicas quando era secretário de Justiça.
Várias semanas antes da eleição, Barr disse ao Congresso que uma eleição com muitos votos por correio não seria segura, uma conclusão que ele disse ser apoiada pelo “senso comum”. Depois que os votos foram computados, ele nunca havia declarado o que pensava de Trump.
Desde que deixou o cargo, Barr disse apenas elogios ao ex-presidente. Durante a turnê de seu livro, ele afirmou que votaria em Trump novamente, se ele fosse o candidato republicano à presidência.
Comitê
O depoimento de Barr faz parte dos trabalhos do comitê da Câmara que investiga a insurreição de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Trump atacaram o Capitólio.
Em sua segunda audiência, o comitê disse que o ataque foi resultado direto das repetidas alegações de Trump de que a eleição foi roubada. O ex-presidente continuou insistindo nas acusações, apesar de ter sido informado repetidamente que Biden havia vencido de forma justa, de acordo com depoimentos de aliados de Trump.
Na audiência de ontem, o comitê ouviu de Barr que os conselheiros mais próximos de Trump, funcionários do alto escalão do governo e até sua família tentaram desconstruir suas alegações de fraude, mas o presidente derrotado estava se apegando a teorias “bizarras” para permanecer no poder.
O comitê também exibiu um vídeo com o depoimento do ex-chefe de campanha de Trump, Bill Stepien, que disse ter avisado ao ex-presidente, na noite da eleição, que era muito cedo para declarar vitória até que as cédulas por correio fossem contadas. Trump rejeitou o conselho, disse Stepien, e afirmou que havia vencido, chamando a disputa de “fraude” e “constrangimento”.
Stepien deveria ter dado um depoimento presencial, mas ele desistiu porque sua mulher entrou em trabalho de parto. O ex-chefe de campanha ainda é próximo de Trump e foi intimado a comparecer.
De acordo com relatos, o genro de Trump, Jared Kushner, tentou afastá-lo do advogado Rudy Giuliani e das falsas teorias de fraude eleitoral. Mas o ex-presidente nunca aceitou voltar atrás
Richard Donoghue ex-funcionário do Departamento de Justiça, contou que tentou desfazer “uma alegação após a outra” – de um caminhão cheio de cédulas na Pensilvânia a uma mala de cédulas desaparecidas na Geórgia – e disse a Trump que “muitas das informações que ele estava recebendo eram falsas”.
Doações
O painel também forneceu novas informações sobre como a máquina de arrecadação de fundos de Trump levantou US$ 250 milhões após as eleições para continuar lutando, principalmente com doações de pequenos valores. Um pedido por dinheiro saiu 30 minutos antes da insurreição do Capitólio.
Stepien e o conselheiro Jason Miller, também aliado de Trump, descreveram como o clima festivo na Casa Branca na noite da eleição mudou quando a Fox News anunciou que Trump havia perdido o Estado do Arizona para Biden. Assessores começaram a aconselhar Trump sobre o que fazer.
Mas o ex-presidente ignorou os conselhos, preferindo ouvir Giuliani, que foi descrito como um advogado totalmente “enviesado” por várias testemunhas. Giuliani negou o que classificou como “falsidades” a seu respeito.
Acusações
Enquanto pondera outra candidatura à Casa Branca, Trump insiste que a investigação do comitê é uma “caça às bruxas”. Na semana passada, ele afirmou que o ataque ao Capitólio “representava o maior movimento da história americana”.
Ao todo, nove pessoas morreram no tumulto e suas consequências, incluindo um apoiador de Trump baleado pela polícia. Mais de 800 pessoas foram presas no cerco e membros de dois grupos extremistas foram indiciados por acusações de sedição. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)