Ilustração
Miguel Lucena
Dona Rosa vivia em um sítio acolhedor, cercado pela paz e pelo som da natureza, na zona rural de Cristalândia, Tocantins. No terreiro de sua casa, uma árvore frondosa era o lar de um casal de joões-de-barro, que construíram ali sua morada de barro com tanto cuidado que parecia uma obra de arte. Eles eram uma companhia alegre e constante para Dona Rosa.
Certo dia, uma tragédia abalou a harmonia do lugar: o gato malhado, sempre à espreita, atacou e matou a companheira do joão-de-barro. Dona Rosa ficou desolada ao ver o passarinho sozinho e triste. Com o coração apertado, ela pegou o corpo da pequena ave e o colocou ao lado da casinha de barro, para que o joão-de-barro pudesse se despedir.
Os dias que se seguiram foram melancólicos. O joão-de-barro permanecia no terreiro, sem cantar, e Dona Rosa, que sempre se alegrava com o som da natureza, sentia a tristeza do pássaro como se fosse sua própria. Todos os dias, ela rezava pedindo que ele encontrasse uma nova companheira, alguém que trouxesse de volta a alegria ao pequeno pássaro.
Dezessete dias depois, algo mágico aconteceu. Logo pela manhã, Dona Rosa foi surpreendida por um alvoroço de cantos e voos: um bando de joões-de-barro chegou ao terreiro, enchendo o ar com música e alegria. Eles dançavam e pareciam comemorar algo muito especial. Quando o grupo foi embora, uma linda joana-de-barro permaneceu, aproximando-se timidamente do joão-de-barro.
Os dois trocaram gestos carinhosos, esfregando os bicos como se estivessem se conhecendo e se apaixonando. A joana entrou na casinha, olhou ao redor e saiu, repetindo o gesto algumas vezes, como se estivesse avaliando as condições da moradia. Após a última inspeção, ela parecia satisfeita. O joão-de-barro, então, começou a bater as asas em um movimento cheio de entusiasmo. Era o início de uma nova história.
Desde aquele dia, eles passaram a viver juntos, reconstruindo o que havia sido perdido e trazendo nova vida ao terreiro de Dona Rosa. Observando tudo com um sorriso no rosto, Dona Rosa percebeu que o bando de passarinhos não tinha vindo por acaso. Aquela era uma celebração: um casamento cheio de alegria e esperança.
A partir de então, o joão e a joana-de-barro viveram felizes para sempre, e Dona Rosa também encontrou em sua convivência com os pássaros um novo motivo para sorrir. Afinal, a vida, mesmo em suas perdas, sempre encontra um jeito de florescer outra vez.