Maria José Rocha Lima[¹]
Ontem, recebi com grande tristeza a notícia do falecimento do ex-deputado e amigo Ewerton Almeida. Otoniel Saraiva, presidente da Associação dos Parlamentares da Bahia (Assed-BA), comunicou-me profundamente consternado. Fiquei muito abalada com a partida de Ewerton: não é fácil encontrar na política um Tom Legal. Foi um presente que os baianos nos deram ao elegê-lo e reelegê-lo — político competente, honesto, trabalhador e um verdadeiro gentleman.
Não por acaso ficou conhecido como Tom Legal. Ao estudar sobre nomes próprios, aprendi que os apelidos carinhosos dizem muito sobre a personalidade e as forças de caráter predominantes no sujeito. E Tom, de fato, foi muito legal. Era talhado para a política e a exercia como arte: conversava com todos, sempre com respeito, serenidade e maestria.
Ewerton foi vereador em Jequié entre 1971 e 1973; deputado estadual constituinte pelo PMDB entre 1987 e 1991; e reeleito para o mandato de 1991 a 1995, também pelo PMDB. Fomos colegas nos dois mandatos que exerci na Assembleia Legislativa da Bahia.
A vida parlamentar de Ewerton Almeida se confunde com a luta pelo reconhecimento do Brasil como país exportador de cacau com 100% de qualidade e com a defesa de investimentos no setor produtivo. Ele foi presidente do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau, representou o Brasil e os produtores em reuniões internacionais nos Estados Unidos e no México, em 1980, e integrou missão oficial do Ministério das Relações Exteriores na reunião dos Produtores de Cacau na Costa do Marfim, em 1981.
Também enfrentou, com muita coragem, aqueles que “espalharam a praga do cacau” para prejudicar produtores e trabalhadores baianos. Por sua dedicação à causa, recebeu inúmeros troféus: Mandacaru de Ouro (1984, 1985 e 1986); Imprensa do Cacau (1986); Flor do Cacau (1987); Cacau de Ouro (1988); além de títulos honoríficos, como Conselheiro Honorário do Conselho Nacional dos Produtores de Cacau; Sócio Benemérito do Jequié Tênis Clube e da Associação Bahiana de Endodontia – Seção Itabuna; e Títulos de Cidadão de Aiquara e Uruçuca. Em 1990, recebeu a Medalha de Reconhecimento conferida aos constituintes de 1989, pela Assembleia Legislativa da Bahia, e a Ordem do Mérito da Bahia, Classe Grande Oficial.
Embora o cacau do Sul da Bahia faça parte da história do país há mais de 250 anos, mesmo enfrentando os gravíssimos desafios da década de 1980 — inclusive a disseminação criminosa da Vassoura-de-Bruxa —, hoje a região ressurge com força no cenário nacional, graças à luta de parlamentares como Ewerton Almeida. O Sul da Bahia reafirma sua vocação cacaueira, com foco na qualidade das amêndoas, na modernização dos formatos de produção e na preservação ambiental.
Em 2023, o Brasil foi reconhecido pela segunda vez como país exportador de cacau com 100% de qualidade. A aprovação foi concedida em Madagascar, na África, durante painel do Conselho Internacional de Cacau, realizado nos dias 13 e 14 de junho. Destacou-se ali o dinamismo do setor produtivo brasileiro, sobretudo pelo manejo do Sistema Cabruca, técnica agroflorestal que planta o cacau em meio às árvores da Mata Atlântica e que se mostrou altamente positiva para a conservação de espécies. Pelo protagonismo brasileiro em fóruns mundiais — em cuja construção Ewerton teve papel fundamental — foi emitida recomendação internacional para que o Brasil seja mantido como exportador exclusivo do produto.
Solidarizo-me com seus familiares, amigos e admiradores. Que o exemplo de Ewerton Almeida — o nosso querido Tom Legal — siga nos inspirando.
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[1] Maria José Rocha Lima é mestre em Educação pela UFBA e doutora em Psicanálise. Foi deputada estadual de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira, integra a Organization Soroptimist International – SI Brasília Sudoeste e é Sócia Benemérita da Hora da Criança.
