Servidores do GDF foram vacinados para trabalhar no antigo hotel. Cinco invasores seguem presos; reintegração de posse durou 5 dias.
Equipes da Secretaria de Saúde realizam nesta terça-feira (7) a desratização do Torre Palace, antigo hotel de luxo no centro de Brasília que foi desocupado no domingo. Agentes de Vigilância Ambiental também trabalham para eliminar focos do mosquito Aedes aegypti – transmissor de dengue, febre amarela, chikungunya e zikavirose. Todos os servidores serão vacinados contra tétano e hepatite B para evitar contaminação durante o serviço.
A vacinação é uma forma de reforçar a proteção dos trabalhadores em um ambiente que tem ferrugem e mofo [tétano], resíduos orgânicos, como fezes de animais [hepatite B], e possíveis mosquitos infectados com vírus [febre amarela]”, diz a diretora de Atenção Primária da Região Centro Norte, Célia Aparecida Becker.
A operação de reintegração de posse durou cinco dias. Ligados ao Movimento de Resistência Popular, que cobra moradia do governo, mantiveram dois bebês e duas crianças maiores no local durante a resistência. Eles jogaram pedras e pneus da cobertura do Torre Palace, e foi preciso interditar as vias em um raio de até 150 metros de distância para evitar acidentes.
Depois de frustradas as tentativas de negociação, policiais militares invadiram o hotel no domingo. Dos 13 presos em flagrante, cinco seguem detidos depois de audiência de custódia. Eles respondem por organização criminosa, tentativa de homicídio, tortura (contra as crianças), resistência, desobediência e danos a patrimônio público e privado.
Dois deles responderão também por falsidade ideológica, por terem apresentado nomes falsos à polícia quando foram rendidos. As mães das quatro crianças que integravam a ocupação foram liberadas e vão responder em liberdade. O estado de saúde delas é considerado bom e elas estão em casas de familiares.
Além da dedetização e da desratização no prédio, o governo trabalha com 27 detentos na construção de um muro de tijolo, para evitar novas invasões. A primeira parte do trabalho foi feito por uma empresa contratada. A Defesa Civil informou que não há risco de desabamento do prédio.
Desocupação
Os invasores do prédio abandonado foram retirados neste domingo pela PM, após cinco dias de operações na área. A ação, que começou por volta das 6h30 e levou 40 minutos, envolveu dois helicópteros e teve disparos de bala de borracha.
Bombas de efeito moral também foram jogadas para intimidar o grupo, formado por 12 adultos, entre eles quatro mulheres, e quatro crianças. Os invasores, ligados a movimentos sociais, revidaram com pedras, tijolos e telhas. Outro homem foi encontrado escondido no prédio no domingo.
Cerca de 200 homens do Batalhão de Choque (BPChoque) e do batalhão de Operações Especiais (Bope) participaram da operação, que teve também o auxílio do Corpo de Bombeiros. Segundo a PM, os ocupantes se renderam às 7h07. As quatro crianças foram as primeiras a serem retiradas. Elas foram atendidas na ambulância do Corpo de Bombeiros que estava no local. Apesar de assustadas, o estado de saúde delas era bom.
O prédio havia sido ocupado em outubro do ano passado. A reintegração de posse teve início na quarta-feira e o grupo resistia mesmo com a determinação do governo de cortar a água, a energia elétrica e a entrega de alimentos. Por causa da operação de desocupação, os arredores do prédio ficaram isolados todos esses dias e o trânsito precisou ser desviado.
Na manhã de sábado (4), a PM levou parentes de invasores para tentar convencer o grupo a deixar o prédio abandonado. O pai de uma jovem de 21 anos, que estava no local com a filha de 3 meses, conversou com a filha, mas não conseguiu convencê-la a sair. A irmã de outra pessoa que está no edifício também foi levada pelos policiais para ajudar nas negociações, mas também não houve sucesso.
Na sexta, o ex-deputado distrital e federal José Edmar foi detido por tentar doar mantimentos ao grupo. O político furou o bloqueio da PM levando uma caixa com produtos como sardinha, ovos, água, álcool de cozinha e pão. Ele pode responder por desobediência. AoG1, Edmar disse que ficou sensibilizado ao ver que havia crianças no hotel sem alimentos e sem água.
Suspeita de extorsão
Entre os adultos estava o líder do Movimento de Resistência Popular, Edson Silva, preso em dezembro do ano passado por suspeita de extorquir dinheiro de integrantes de movimentos sociais. O homem está em liberdade provisória e aparece em imagens feitas pela TV Globo no local. Ele sempre negou as acusações.
Silva é apontado pela polícia como o responsável por forçar um grupo de 80 pessoas, filiadas ao movimento, a pagar entre R$ 50 e R$ 300 aos líderes do MRP. O movimento ocupa o hotel desde outubro do ano passado.
Na época da prisão, a polícia tinha informado que Edson Silva levava uma vida confortável de classe média.
Com o dinheiro supostamente conseguido com o esquema, ele teria comprado um carro avaliado em R$ 85 mil e morava com a mulher em um apartamento em um edifício com área de lazer completa e junto a um parque em Taguatinga. Silva tinha sido preso com outras seis pessoas, incluindo a mulher, Ylka Carvalho.
Para o delegado Luís Henrique Sampaio, titular da delegacia de Repressão ao Crime Organizado, o patrimônio dos suspeitos não condizia com a realidade deles, que diziam militar por moradia. “O líder ocultava essa riqueza. Quando ele ia para o acampamento, passava com o carro longe, porque tinha medo de chamar a atenção.”
Ponto de drogas
O prédio de 14 andares e 140 apartamentos havia se transformado em ponto de uso de drogas e convivência de moradores de rua depois de ter sido desativado pelos donos no início de 2013.
As janelas do edifício têm uma vista privilegiada do Congresso Nacional, da Esplanada dos Ministérios, da Catedral Metropolitana, do Museu da República, da Torre de TV e do estádio Mané Garrincha, todos instalados no Eixo Monumental. Com pichações na fachada, os vidros das janelas e do hall de entrada já tinham sido quebrados em atos de vandalismo.
O Torre Palace foi fundado pelo empresário libanês Jibran El-Hadj e inaugurado em 1973, funcionando por 40 anos em um dos pontos mais valorizados da cidade. Com a morte do patriarca, em 2000, o imóvel passou à gestão dos sete herdeiros, que teriam entrado em desacordo sobre os rumos do hotel.