
Miguel Lucena
O dever de urbanidade foi substituído pela grosseria no parlamento. Uma nova geração, mas não tão nova assim, entende que fechar a cara e dizer palavras rudes são requisitos para ser reconhecida como autêntica e combativa.
As perguntas feitas à ministra Marina Silva não foram questionamentos normais, mas tentativas de humilhação, de colocar uma cabocla do Norte em seu lugar, que é o de ouvir sem levantar a voz, como nos tempos do carrancismo.
A ministra, com serenidade e firmeza, respondeu sem cair na armadilha da baixaria. E, por isso mesmo, incomodou ainda mais. Para esses valentões de microfone, o ideal seria uma mulher amedrontada, de cabeça baixa, pedindo desculpas por existir.
Mas Marina é filha do seringal, sobreviveu à malária, ao preconceito e à hipocrisia institucionalizada. Conhece a floresta, mas também os salões de conferência. Fala baixo, mas sua palavra ecoa longe.
Num tempo de gritaria, ela permanece como exemplo de resistência — sem precisar gritar.