Maria José Rocha Lima
A vida dos professores importa?
A minha querida amiga professora Maria Helena Medina Pegoraro, também dirigente da Casa da Educação Anísio Teixeira, compartilhou um vídeo da professora Marcia Friggi que vale a pena reproduzi-lo, fazendo dele memória histórica do tratamento dado aos professores, no Brasil.
A autora denuncia o desrespeito e a invisibilidade imposta aos professores pelas autoridades. Ela lembra que, desde o início da
pandemia, são ouvidos sobre o retorno às aulas especialistas, infectologistas, médicos, mães, secretários de educação, prefeitos, vereadores, alunos, repórteres, os programas de televisão, mas os professores ninguém escuta, ninguém nem a eles se referem. Ela relata a experiência com o Programa Encontro, onde ocorreu simulação de uma classe, com a representação da transmissão do coronavírus em tinta fosforescente, em seguida uma especialista foi entrevistada, abordou a necessidade da volta às aulas presenciais; mencionou a necessidade do regresso escalonado, minimizou os riscos da transmissão entre crianças, ressaltando que crianças são menos vulneráveis, nestas os sintomas do Covid são leves. Citou a importância da escola para as crianças, mas não se referiu aos professores, em nenhum momento. A professora chegou a contar a inumerável citação da palavra criança, mas cansou de esperar a pronúncia da palavra professor, que esperava ansiosa e continuava esquecido, invisibilizado.
Marcia Friggi se pronuncia muito indiginada sobre “a eterna invisibilidade do professores, que gritava no discurso daquela senhora, que lhe embrulhou o estômago”. Estava ali, patente, “naquela fala vergonhosamente o desrespeito pelo professor”. Para Márcia Friggi, a não citação da palavra professor esconde o desprezo pelo trabalho pedagógico, a educação não tem valor algum para as autoridades brasileiras. A construção do conhecimento não tem nenhum valor! A escola se transformou num lugar para depositar crianças, espaço para juntar os adolescentes, uma vez que “cabeça vazia, oficina do diabo”, enfim a escola como espaço apenas para a tal socialização, escancarado o desrespeito com o professor.
Marcia Friggi analisa o corpo docente da sua escola e traça um parâmetro, poucos professores não estão no grupo de risco; a maioria dos professores apresenta comorbidade; entre os jovens e saudáveis estão as grávidas. Isso sem considerar as cargas de trabalho dos professores, muitos trabalham em mais de um lugar e utilizam transporte público. Ela destaca o esforço para manter a qualidade da educação, sob a pressão que sofreram para aprender a ensinar a distância, utilizar as mídias, sem nunca ter estudado sobre isto, uma coisa que nunca fizeram, aprenderam na marra, diz ela. As casas dos professores se transformaram em estúdios, os celulares ferramentas de trabalho e voz para dez turmas, 400 alunos, e no caso de Marcia Friggi, que trabalha com crianças, ela ainda tem que atender os pais alunos, que não respeitam dia nem hora, segundo ela. “E a volta às aulas para os professores? Será também escalonada? Trabalharemos em aulas presenciais e remotas ao mesmo tempo? Penso que se não morremos por covid, morreremos por exaustão”.
Friggi afirma que a omissão da palavra professores na discussão sobre o retorno às aulas “é um desrespeito pelas vidas dos professores, como se as nossas vidas e a nossa saúde não fossem importantes”
A vida dos professores importa!