Com a flexiblização do distanciamento em grande parte do país, o comércio teve o segundo mês consecutivo de alta em junho e já recuperou o patamar verificado em fevereiro, antes da pandemia. Ainda assim, fecha o primeiro semestre com o pior resultado desde 2016.
De acordo com o IBGE, as vendas do varejo no país subiram 8%, após avanço recorde de 13,9% em maio. Com os dois meses de alta, o setor fechou o mês 0,1% acima do registrado em fevereiro.
A retomada do nível anterior, porém, foi puxada pelas vendas dos supermercados, que representam 52,8% do indicador. “Esse movimento tem de ser relativizado, pois o crescimento das vendas foi muito desigual”, diz o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Além dos supermercados, outras duas atividades voltaram ao nível pré-crise: material de construção e móveis e eletrodomésticos. Mas todos os outros segmentos continuam bem abaixo. Um dos mais atingidos, tecidos, vestuários e calçados, ainda tem vendas 45,8% menores que fevereiro.
O gerente do IBGE destacou também que o nível de fevereiro já era baixo. No primeiro bimestre de 2020, as vendas do varejo brasileiro recuaram 1% em relação ao registrado no fim de 2020. Em 2020, o varejo acumula recuo de 3,1%.
O chamado varejo ampliado, que inclui as vendas de automóveis, cresceu 12,6% em relação a maio, mas registra queda de 0,9% em relação a junho de 2019.
No semestre, as vendas no varejo registram queda de 5,2% em relação ao semestre anterior, abaixo apenas dos 6,9% do primeiro semestre de 2016, quando o Brasil vivia fortes impactos da recessão. As vendas no setor estão 4,8% abaixo do melhor nível da série, que ocorreu em outubro de 2018.
“Estamos longe do melhor [momento do setor], mas estamos no mesmo nível pré-crise”, disse o gerente do IBGE. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, as vendas do varejo fecharam junho em alta de 0,5%.
Para Santos, a adaptação ao comércio eletrônico e o auxílio emergencial ajudaram na recuperação das atividades que já retomaram o nível anterior. “As pessoas estão passando mais tempo em casa, entendendo as necessidades, e pode ser que essa renda do auxílio acabe virando consumo e não poupança.”
A única atividade que registrou queda em junho, na comparação com o mês anterior, foi artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,7%), que não sofreu tanto os efeitos da pandemia.
Por outro lado, as maiores altas se deram em livros, jornais, revistas e papelarias (69,1%), tecidos, vestuário e calçados (53,2%), móveis e eletrodomésticos (31%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (26,1%).
Com a retomada das vendas, a CNC revisou suas projeções de queda nas vendas em 2020, que passaram de 6,3% para 4,7%. No varejo ampliado, que inclui as vendas de automóveis, o número passou de 9,2% para 6,9%.
Para a entidade, a menor adesão ao distanciamento social e o auxílio emergencial ajudaram a melhorar o desempenho do setor. “A extensão do benefício, nos moldes atuais, até dezembro também poderá acelerar o processo de recuperação das vendas”, defendeu o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
A CNC estima que, entre em março e julho, os prejuízos do comércio tenham sido de R$ 286,4 bilhões. O setor, porém, tem apresentado perdas menos intensas nos últimos meses. Em julho, foram quase R$ 10 bilhões a menos que os R$ 54,6 bilhões de junho.Junho marcou a reabertura do comércio de rua em São Paulo, principal mercado do país, medida que era vista pela indústria como uma das principais esperanças de retomada após o tombo recorde registrado no início da crise.
Respondendo à retomada das vendas na ponta, a indústria registrou crescimento de 8,9% naquele mês, também o segundo mês seguido de alta. Principal motor da economia brasileira e ainda sem sinais de recuperação, o setor de serviços terá o resultado de junho divulgado nesta quinta (13).