Em entrevista, Graciela Nienov, nova presidente do PTB, contou rotina de Jefferson em Bangu 8 e prometeu cessar ataques ao STF: “Sou de paz”
Graciela Nienov tem um desejo para Jair Bolsonaro: que ele não se corrompa no Centrão, recém-filiado ao PL. A sucessora do ex-deputado Roberto Jefferson no comando do PTB afirmou que o presidente abandonou Jefferson e maltratou o partido.
Em entrevista à coluna, Nienov disse que Bolsonaro causou decepção ao entrar para o PL, do outrora tão espezinhado Centrão, e deu recados sobre a eleição.
“É uma decepção Bolsonaro ter ido para o PL. Creio que essa escolha vai prejudicá-lo em 2022. Que ele não se corrompa, ou o PTB não estará com ele”, afirmou.
Quanto ao STF, Nienov promete uma vida nova de harmonia. Se antes de ser preso Jefferson já insinuou a morte do ministro Alexandre de Moraes e exibiu armas de fogo, Nienov diz que nada importa mais do que a paz.
Além de contar da provável filiação de Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, Graciela Nienov disse que Jefferson deverá ser pastor evangélico e, emocionada, relatou sua rotina na prisão Bangu 8: converte presos, mas não deixa de lutar boxe.
Leia os principais trechos da entrevista:
Depois de Roberto Jefferson, o que mudará no PTB na sua gestão?
O Roberto é meu líder, mas eu sou a Graciela. Ele me criou, mas eu tenho pensamento próprio, penso diferente dele. Tenho outro jeito de trabalhar. Não é que eu tenha medo, mas sempre fui de pacificar. Eu sou de paz. Gosto do diálogo sempre.
Antes de ser preso, Jefferson publicou um vídeo exibindo armas e ameaçando ministros do Supremo. Isso tem chance de se repetir?
Zero. Tenho gratidão e lealdade ao Roberto, mas não gosto de nada dessas coisas. Agora nós precisamos de equilíbrio no partido, de cuidar de nossos candidatos. Precisamos de paz.
Os ataques acabaram?
Certeza absoluta. Da minha parte, não haverá.
Mesmo com Bolsonaro filiado ao PL e tendo recusado o convite do PTB, vocês estarão com o presidente em 2022?
Hoje, nosso candidato é o Bolsonaro. Pode surgir algum de direita. Ainda não surgiu. Sergio Moro não é de direita. É uma decepção o presidente ter ido para o PL. Creio que essa escolha vai prejudicá-lo em 2022. Deus ajude que o PL e o PP sejam leais. Bolsonaro perdeu muita credibilidade.
Bolsonaro abandonou Roberto Jefferson?
Abandonou. Como disse o Roberto, Bolsonaro não recolhe os feridos. Se não surgir outro candidato que represente nossas crenças, estaremos com Bolsonaro. Se surgir, vamos avaliar. Ele se alinhou com pessoas que não representam a base. É a política. Mas para que maltratar os partidos que são alinhados? Nunca pedimos nada ao governo. Para Bolsonaro, o PTB não existe.
Agora Roberto Jefferson será presidente de honra do PTB. Qual é a possibilidade de ele voltar à presidência de fato?
Não há possibilidade. Quando ele me entregou a carta no sábado em Bangu 8, chorava como uma criança. Ele me disse que eu fui o maior acerto dele (chora). Eu chorei muito. Foi uma despedida dele do PTB. Ele entrega o partido para alguém que não é da família, que ele conheceu na militância, no Rio Grande do Sul, quando eu balançava bandeiras e colocava adesivos em carros.
Como vai Roberto Jefferson, após quatro meses preso?
Ele está muito ciente de tudo o que estou fazendo. Definimos o novo diretório do partido em concordância. A ala dele na prisão é de pessoas com nível superior, então tem dentista, vereador… Eu cheguei lá no sábado e o pessoal me disse: “Oi, presidente! Vou concorrer pelo seu partido!” (ri). Ele fala muito de mim lá dentro, tem orgulho. Eu ainda acredito que ele vai largar a política e virar um grande pastor da Assembleia de Deus. É a vocação dele. Ele está convertendo todo mundo lá no presídio. Levou leveza para a prisão. Está lutando boxe, bronzeado e canta hinos religiosos todos os dias no pátio.
O PTB filiará Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação?
Provavelmente. Há grandes chances. Ele já indicou uma pessoa na Executiva Nacional do partido, no meu conselho fiscal. É o Victor Metta (ex-assessor de Weintraub no ministério).
O que a senhora diria para o ministro Alexandre de Moraes, a quem Jefferson xingou diversas vezes e jurou rezar contra?
Que Deus toque o coração dele e dê paz. Se ser presidente de partido é difícil, imagine ser ministro do Supremo. Não tem nada mais importante do que a paz. Se algum dia a presidência do PTB tirar a minha paz, eu fico com a paz, não com o PTB. Eu nunca quis esse cargo, ganhei de Deus. Em 2011, fiquei quatro anos sem andar e pedi para Deus tirar a minha vida. Naquele dia, Deus me deu a visão de que eu teria um cargo muito importante. Qual era a possibilidade de eu presidir o PTB? Zero.
O empresário Otávio Fakhoury, até então presidente do PTB paulista, terá qual cargo?
O Fakhoury queria a vice-presidência do partido, mas ficou na vice da região Sudeste. O Roberto fez a indicação.
Fakhoury é investigado pelo STF no inquérito das fake news e no dos atos antidemocráticos. Ele também vai cessar os ataques?
Ele não vai mais bater. Chega.
A ex-deputada Cristiane Brasil, filha de Jefferson, ainda está brigada com o pai? Terá espaço na nova fase da legenda?
Não. Como teria? Ela não terá espaço no PTB. A expulsão dela era um pedido do Roberto. Mas não faço questão disso. Por mim, viramos a página.
O que deseja a Bolsonaro?
Que ele tenha responsabilidade, por mais que tenha ido para o PL. Que essas pessoas ao redor dele não o seduzam. Se ele não resistir, o PTB não estará com ele. Que ele não se corrompa. É a única coisa que eu peço todos os dias a Deus. Mesmo sem nenhum carinho de Bolsonaro. (Guilherme Amado/Metrópoles)