Maria José Rocha Lima
Mais de 95% dos estudantes brasileiros concluem o ensino médio sem saber ler e escrever fluentemente e sem domínio adequado da matemática. Essa estatística não é apenas alarmante — é uma sentença contra o futuro de uma nação. E o mais doloroso: não é novidade.
Rui Barbosa, ainda no século XIX, já denunciava em seus Pareceres (1878-1883) o estado de calamidade do ensino público: “há decadência, em vez de progresso… somos um povo de analfabetos”. Décadas depois, nomes como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes reforçaram esse alerta. Todos diagnosticaram a mesma doença: o desprezo pela educação — crônico, estrutural e politicamente conveniente.
Hoje, a tragédia se aprofundou. Segundo dados oficiais, 56,4% das crianças da 2ª série não estão alfabetizadas e 60% dos brasileiros são subescolarizados. O Brasil segue entre os últimos colocados em rankings como o PISA, ocupando vergonhosamente os piores lugares em leitura, ciências e matemática. A cada nova avaliação, confirmamos que estamos andando para trás.
E por quê? Porque há um projeto de poder que aposta na ignorância como ferramenta de dominação. Porque transformamos os Planos Nacionais de Educação em meros protocolos de intenções eleitorais. Porque a profissão de professor se tornou sinônimo de precariedade. Como bem apontou o filósofo Luiz Felipe Pondé, “se o país não sai da miséria, não sai do crime. E agora, caminha para o abismo”.
A escola pública está em frangalhos: sem infraestrutura, sem segurança, sem reconhecimento. O professor é mal pago, desmotivado, instrumentalizado por disputas ideológicas e sindicais que pouco têm a ver com a formação crítica e humanista. Falta salário digno — um piso de R$ 10 mil não deveria ser utopia, mas ponto de partida. Falta valorização social e política. Falta vontade real.
A educação brasileira vive um desespero mudo, como dizia Anísio Teixeira, sufocada por burocracias, por falsos discursos de salvação e pela persistência da “tardança” como método de sabotagem. Não precisamos de mais diagnósticos. Precisamos de ação. Urgente.
Enquanto isso não acontece, resta-nos a vergonha — e a resistência.