Miguel Lucena*
O Carnaval sempre foi a festa da descontração, quando as pessoas se libertam das amarras do dia a dia e caem na farra, sendo até permitido que homem se vista de mulher e vice-versa.
É assim, desde os velhos tempos. Na folia, os amores sempre foram fugazes, em meio a risos, alegrias e palhaços no salão, o arlequim chorando pelo amor da colombina e a misteriosa mascarada sumindo sem deixar rastros.
Havia, no passado, os contos de tarlatana, envoltos em mistérios, de seres do outro mundo que se travestiam de foliões e sumiam de repente, largando para trás homens e mulheres apaixonados.
Na festa, os homens aproveitavam para se liberar de certas convenções e dirigir galanteios às mulheres. Na Bahia, alguns casais de namorados entravam em acordo e suspendiam o namoro no período de carnaval, para aproveitarem melhor a folia.
As mulheres, vaidosas, aproveitavam para mostrar partes do corpo que antes viviam escondidas. Com o tempo, passaram a mostrar tudo, com um tapa-sexo para tapear.
Tudo corria bem até que se fortaleceu no mundo o politicamente correto, que passou a liberar todas as condutas devassas e a censurar qualquer atitude que não estivesse de acordo com o seu credo.
Esse movimento foi reforçado pelo crescimento do homossexualismo, que criou barreiras para a aproximação de pessoas do sexo oposto.
Daí para o massacre aos heterossexuais no carnaval foi um pulo. Qualquer elogio a um corpo sarado e desnudo, sendo do sexo oposto, passou a ser taxado de assédio. Claro que ninguém aceita, como nunca foram aceitáveis, a importunação ofensiva ao pudor, a insistência de bêbados e a aproximação grosseira, mas classificar tudo como assédio sexual simboliza bem a marcha ideológica dos que veem como solução para tudo a destruição do patriarcado euro-americano e a construção de uma sociedade de homens afeminados e frouxos.
Miguel Lucena é Delegado da PCDF, jornalista e escritor.