Psiquiatras afirmam que quadro se desenvolve diante de episódios repetitivos de estresse. Exaustão, tensão constante e até dores no corpo estão entre sintomas.
Por Amanda Sales*, g1 DF
Estresse constante, exaustão e até dores físicas. Esses são alguns dos sintomas da síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, que se desenvolve em ambientes de trabalho desgastantes, com muita pressão e competitividade.
Desde 1º de janeiro, a síndrome passou a ser considerada doença ocupacional, após ser incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na prática, significa que agora os acometidos agora possuem os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados no caso das demais doenças relacionadas ao emprego.
E o número de pessoas frustradas com o trabalho é grande. Um estudo da empresa Pulses, feito com mais de 3 mil pessoas no Brasil, aponta que 81% dos funcionários se sentem esgotados no trabalho, e 60% relatam falta de disposição para trabalhar. Para entender a síndrome e como tratá-la, o g1 conversou com especialistas no tema.
O que é a síndrome de burnout?
O psiquiatra e professor do curso de medicina da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Boechat Barros explica que o burnout é mais comum em profissionais que lidam diretamente com outras pessoas, em áreas como educação, saúde e comunicação.
Ele destaca que a síndrome é resultado de estresse repetitivo no qual o paciente, além de cansaço psicológico, começa a apresentar dores físicas. ”Vem de coisas pequenas, como dores de cabeça diárias, dor muscular, e é uma crescente de sintomas. Só piora”, completa.
O psiquiatra do Instituto Merake Saúde Mental Leonardo Rodrigues da Cruz afirma que o burnout não é um episódio repentino. De acordo com o médico, o paciente acumula sintomas ao longo do tema. O maior sinal é a exaustão emocional.
”Essa síndrome é um processo de esgotamento. O paciente começa a sentir os sintomas e passa a acreditar que é algo passageiro, até que chega no ápice e, infelizmente, é só aí que procura ajuda”, destaca Leonardo.
Os especialistas dizem que a maioria dos pacientes demoram em pedir ajuda por receio de perder emprego ou por vergonha de pedir afastamento por problemas psicológicos.
”Infelizmente, ainda é um tabu pedir licença por esgotamento psicológico e, por isso, muitos chegam nas consultas no limite”, diz Leonardo.
Quais os sintomas do burnout?
síndrome de burnout — Foto: Reprodução/TV Globo
Segundo os especialistas, os principais sintomas são a exaustão emocional e nervosismo, que podem desencadear outros traumas psicológicos, como depressão e crise de pânico.
De acordo com o psiquiatra Leonardo Rodrigues, o paciente perde o prazer em trabalhar e, muitas vezes, apresenta uma despersonalização, que é o sentimento de constante desconexão do corpo com os pensamentos no ambiente de trabalho.
”Esse paciente começa a apresentar uma baixa autoestima em relação ao trabalho. Então, passa a acreditar que não consegue realizar as atividades propostas, apresenta medo de ir trabalhar e muito pessimismo em relação ao emprego, além de uma diminuição na realização pessoal”, diz.
Outros sintomas comuns são:
- Insônia
- Sobrecarga emocional
- Dor de cabeça frequente
- Alterações repentinas de humor
- Isolamento
- Pressão alta
- Dores musculares
- Dificuldades de concentração
- Diminuição na empatia
Os psiquiatras Raphael Boechat e Leonardo Rodrigues explicam que, para tratar a síndrome, é preciso fazer uma análise de cada caso, levando em consideração o estilo de vida de cada paciente e se há algum outro quadro associado ao burnout, como depressão ou crise de pânico.
”O paciente, quando chega com esses sintomas, geralmente já tem algo além do burnout. A gente costuma recomendar o afastamento do local de trabalho, o que muitas vezes assusta esse paciente, por medo de perder o emprego”, diz Raphael.
Leonardo destaca que, mesmo com o afastamento, muitas pessoas retornam para o mesmo ambiente e, depois de meses, voltam a apresentar os mesmos sintomas. ”Na medida do possível, recomendamos a saída deste local ou uma mudança brusca de estilo de vida”, completa.
Além de acompanhamento médico, os especialistas recomendam, se necessário, o uso de medicamento psiquiátricos.
Onde buscar atendimento no DF?
- Núcleo de Saúde Mental SAMU – 192
- CAPS – Lista de endereços e telefones