Miguel Lucena*
Somente razões ideológicas podem levar um profissional de saúde, como o fez um pediatra em programa nacional de rádio, a relativizar a gravidade das relações sexuais de adolescentes e até menores de 14 anos, em contraponto à proposta de abstinência sexual feita pela ministra Damares Alves.
As igrejas já pregam a abstinência sexual, como forma de evitar a gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis, além de realçar a importância do laço matrimonial.
Sexo é muito bom e importante na vida das pessoas, mas não pode ser a qualquer tempo e de toda maneira.
Quem defende o sexo livre de qualquer convenção não vive o drama das meninas de 10, 11, 12 e 13 anos grávidas nas periferias das cidades. São crianças carregando outras no ventre.
Já presidi vários inquéritos sobre estupro presumido, após o hospital comunicar que menor de 14 anos havia dado à luz no Hospital do Paranoá. São mães sem a menor condição de criar os filhos, que são deixados com as avós.
Os especialistas de vida boa deveriam olhar para esse aspecto da gravidez indesejada e não planejada, em vez de travar guerra ideológica com a ministra da Mulher e Direitos Humanos.
As mesmas pessoas que se engajam em campanhas pelo fim do tabagismo, por exemplo, consideram uma ofensa tratar de sexualidade precoce, desde a época em que Xuxa e as paquitas apareciam seminuas para os baixinhos, deixando-os curiosos para ver mais.
Parece até uma trama para desorganizar a sociedade, na esperança de uma revolução que nunca vem.
É lugar comum a referência ao “amor livre” como fenômeno dos anos 60, mas foi o bolchevique Karl Radek, antes e durante a Revolução de 1917 na Rússia, o pioneiro da revolução sexual, defendida em plenárias e escritos.
Ele pregava o amor livre como prática revolucionária. Anos depois, os próprios comunistas chamavam de “filhos de Radek” os milhares de filhos sem pai que eram encaminhados para os orfanatos da União Soviética.
Radek foi muito importante na Revolução Russa. Ele era ucraniano de Lviv, nascido em 1885, quando o país pertencia à Polônia, tinha contato com os alemães e negociou a viagem de Lênin em um trem blindado sob o compromisso de os comunistas, assumindo o poder, fazerem a paz com a Alemanha, abandonando a Aliança com a Inglaterra, França e Estados Unidos, na Primeira Guerra Mundial (1914-1917).
Após ocupar importantes postos na nomenclatura comunista e redigir a Constituição Soviética de 1936, Radek divergiu de Josef Stálin e foi condenado à prisão em 1937. Por ironia, o ditador mandou interná-lo em uma centro de menores infratores, onde foi pisoteado e morto em 1939 por delinqüentes juvenis, mais conhecidos como “Filhos de Radek”.
Miguel Lucena é delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.