SENTIMENTO RUIM
Miguel Lucena*
A inveja, um dos sete pecados capitais, leva o invejoso a preferir perder dois a ver o vizinho ganhar um. Faz a pessoa desfocar de seus objetivos para atrapalhar as conquistas de outrem.
O invejoso não se satisfaz com o que tem, mesmo que seja igual ao objeto de seu desejo. Ele só tem olhos para o que o outro está alcançando, anota ponto a ponto, e não percebe que as oportunidades estão passando à sua porta.
A inveja se manifesta por meio de desdém, chistes, bajulação e ataques injuriosos.
A sabedoria popular ensina que quem desdenha quer comprar. Desdenhar é fazer pouco do valor do outro, diminuir a importância de determinado feito ou atividade. Já o chiste representa a piada de mau-gosto, o humor depressivo, feito para ofender e não para divertir. O invejoso costuma bajular, em certo momento, a pessoa invejada, até que no estágio final ele, não se contendo por não possuir as mesmas qualidades daquela, passa aos ataques diretos, sempre colocando-se como vítima de alguma injustiça.
A Polícia Civil do Distrito Federal sofre muito com esse sentimento. Ela não reclama dos ganhos dos outros, não se intromete em movimentos alheios, presencia tranquila as conquistas de terceiros, pede apenas o que lhe pertence por história e tradição, mas então os invejosos de plantão largam tudo o que estão fazendo para desdenhar-lhe os feitos, chamar de balconistas investigadores experientes e premiados, com índices de resolução de crimes em nível de Primeiro Mundo, e ameaçando mil e uma coisas se a PCDF fizer jus a algo que é seu de direito.
Quando os governos encheram determinados segmentos de auxílios, serviços extras, escolas e hospitais, a Polícia Civil não se manifestou nem pediu para si essas benesses, porque aguardaria a paridade histórica com a Federal, mesmo que fosse necessário esperar anos e ela saísse a conta-gotas, de forma parcelada. A coceira da inveja, porém, fez os que estavam quietos, satisfeitos com a derrota alheia, saírem de seus becos escuros para fazer ameaças. Nem prestaram atenção nos bônus que lhes serão concedidos até o fim do mês.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.