*Frutuoso Chaves
Na Paraíba, tudo começou com a Rádio Clube, em 1932. Era uma época em que a radiofonia brasileira emergia da iniciativa de um ou outro grupo de pessoas organizadas em agremiações para a difusão de música.
Descobertas durante a revolução industrial do Século 19, as ondas hartezianas já permitiam a consolidação do rádio como fenômeno de massa na Europa e Estados Unidos desde a segunda década do Século 20.
E seria um paraibano o primeiro brasileiro a falar pelo rádio. Transcorria 1922, o ano do Centenário da Independência, fato que levou os coordenadores da festa a importar uma aparelhagem radiofônica e os primeiros receptores para a transmissão do discurso do Presidente da República, Epitácio Pessoa.
Em 1923, o pioneirismo de Roquete Pinto favorecia a implantação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, transformada, posteriormente, naquilo que hoje é a Rádio MEC, vinculada desde sua origem ao Governo Central.
Como o nome indica, as Rádios Clubes, ou Rádios Sociedades, não passavam de grêmios dependentes da contribuição mensal de associados, já que inexistiam os departamentos comerciais que hoje garantem o faturamento de qualquer emissora mediante a divulgação de produtos do comércio ou da indústria.
E foi nesse clima que surgiria em João Pessoa a Rádio Clube da Paraíba conduzida por gente como o empresário Oliver Von Sohsten, o prefeito José de Borja Peregrino e a professora Hortense Peixe. O exemplo era o da Rádio Clube de Pernambuco, cujos sinais já atravessavam limites territoriais com as primeiras propagandas da firma Alimonda Irmãos e do sabonete Tabarra, como lembrou, tempo atrás, em conversa comigo, o historiador José Octávio.
Em 1934, a programação da Rádio Clube da Paraíba ganhava espaços em “A União”, o jornal do Governo do Estado. Faziam sucesso “as gravações escolhidas por senhoritas da sociedade para a hora do jantar”. Quem tivesse discos poderia levá-los para difusão. Em 1936, a Rádio Clube pegava fogo e oferecia a primeira mão de obra para a segunda emissora paraibana, a PRI-4 Rádio Tabajara.
Em 1935, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro tinha sua criação inspirada pelo centralismo estatizante do Governo de Getúlio Vargas. O Estado começava a perceber a força do rádio e, no mesmo ano, surgia o noticiário “A Hora do Brasil”.
Em perfeita sintonia com o Estado Novo, o interventor Argemiro de Figueiredo decidia criar a Tabajara, inaugurada em 25 de janeiro de 1937. E, desde então, ninguém usaria a rádio oficial da Paraíba tão bem como o fez Argemiro que encomendou noticiário equivalente ao da “Hora do Brasil” e iniciou contato com as Prefeituras para transmiti-lo por meio de alto-falantes em praças e prédios públicos.
A Tabajara não nascia sozinha. Em dezembro do mesmo ano, surgia o Departamento de Estatística e Publicidade para a coordenação do serviço de estatística, propaganda e radiodifusão no Estado. Como o de Getúlio, o Governo de Argemiro se preocupava com o estatismo e o controle de opinião.
Mas a orientação política conservadora e centralista de Argemiro – contava-me José Octávio – não o impediria de realizar um governo voltado para o fortalecimento da economia estadual e a urbanização de João Pessoa. A PRI-4, enquanto isso, promovia o interventor junto às chefias rurais nas quais se apoiava politicamente.
Nos anos seguintes, a emissora consolidava o prestígio, exibindo algumas singularidades. Ganhou, por exemplo, o primeiro prédio especificamente construído para uma emissora de rádio no País. Situado na antiga Rua da Palmeira (hoje, Rodrigues de Aquino), o prédio terminaria demolido pelo ex-governador Wilson Braga a fim de abrir espaços para as novas instalações do Tribunal de Justiça.
Nos anos de 1940 e 1950, a sede da Rodrigues de Aquino atraia multidões para programas de auditórios nos quais se apresentavam, rotineiramente, os nomes de maior expressão do cancioneiro popular, como se costumava dizer naqueles tempos. Não raramente, o público paraibano comprava ingressos para ver, no palco da Tabajara, atrações internacionais, a exemplo do cantor Bievenido Granda.
Transcorria a fase de ouro do rádio e a Tabajara não ficava atrás. A Orquestra Tabajara, do famoso Severino Araújo, surgiria cinco anos depois da criação da emissora. Em programas como “Matinal do Guri” e “Expresso da Alegria” exibiam-se as Irmãs Batista, Emilinha Borba, Ângela Maria, Marlene, Alcides Gerardi, Cauby Peixoto, Orlando Silva e donos de outras vozes nunca ausentes do gosto e da alma dos brasileiros.
Pelos microfones da Tabajara também passariam alguns dos personagens mais importantes da cena política e cultural da Paraíba. É o caso de locutores como Humberto Lucena, Abelardo Jurema, Fernando Milanez, Paulo Pontes e Josélio Gondim. A Tabajara ainda teve o mérito de revelar as vozes mais famosas da radiofonia paraibana, em meio às quais as de Paschoal Carrilho, Gilberto Patrício, Otinaldo Lourenço, Paulo Rosendo, Marconi Altamirando e Francisco Ramalho. (Na ilustração, o prédio antigo da Rodrigues de Aquino, em João Pessoa, tal como aparece na Internet, sem identificação do autor).
*Jornalista profissional com passagens pelos jornais paraibanos A União (Redator e Chefe de Reportagem), Correio (Redator e Editor de Economia), Jornal da Paraíba (Editorialista), O Norte (Editor Geral), O Globo do Rio de Janeiro e Jornal do Commercio do Recife (correspondente na Paraíba, em ambos os casos). Também pelas Revistas A Carta (editada em João Pessoa) e Algomais (no Recife).