Maria José Rocha Lima
No Dia Internacional da Democracia, o CEATE, destacou uma das frases mais pervasivas do educador Anísio Teixeira “Só pela escola se pode construir a democracia e dada a absoluta penúria da escola pública brasileira, democracia é ainda uma palavra vã, usada para justificar a farsa triste de um sufrágio universal irrisório”. Atual, ele inspira, orienta e ilumina os caminhos dos que só acreditam na democracia com um povo educado e preparado para governar e controlar quem governa.
Desde 1932, o apelo contido no Manifesto dos Pioneiros foi que na hierarquia dos problemas nenhum deve sobrelevar ao da educação, nem mesmo os de caráter econômico. E ainda, que só existiria uma democracia no Brasil no dia em que se montasse a máquina que prepara as democracias. “Essa máquina é a escola pública. Mas não a escola pública sem prédios, sem asseio, sem higiene e sem mestres devidamente preparados, e, por conseguinte, sem eficiência e sem resultados. E sim a escola pública rica e eficiente, destinada a preparar o brasileiro para vencer e servir com eficiência dentro do país”.
O alerta dos Pioneiros não foi ouvido pelos governantes. O resultado é que, 59 anos depois, o país é considerado um dos poucos países do mundo contemporâneo que experimentam graves problemas educacionais. São 60 milhões de brasileiros subescolarizados. Nas últimas décadas, embora tenhamos avançado na quase universalização fundamental, 48 milhões de crianças e jovens na educação básica, mas é baixa a qualidade do ensino. Em 2018, nas Regiões Norte e Nordeste 70% das crianças de 8 anos, eram analfabetas. Os índices de evasão eram altíssimos. No 9º ano do ensino fundamental 370 mil crianças abandonavam a escola. E no ensino médio 570 mil jovens abandonavam a escola no primeiro ano. A formação dos professores é negligenciada 80% dos professores da rede pública são formados em instituições privadas de ensino.
A educação na Primeira Infância só conquistou um Marco Legal em 2016. Depois de muitos anos de estudos, que evidenciavam os primeiros 1000 dias da vida de uma criança como muito importantes. Nesse período o cérebro do ser humano atinge o pico de sua atividade. Os bebês aprendem nos três primeiros anos como jamais aprenderão ao longo de toda a sua vida.
No campo da Neurociência, o cientista Jack Shonkoff (2016), do Centro de Desenvolvimento Infantil, da Universidade de Harvard, estudou um fenômeno chamado plasticidade cerebral, que ele descreveu como a capacidade do cérebro de ser flexível e adaptável e como ele pode reajustar-se para assumir novos desafios. A plasticidade do cérebro está em níveis ótimos no nascimento e na primeira infância. Para ele “o bebê ao nascer tem no cérebro todos esses neurônios, mas pouquíssimas conexões. Esses circuitos são rapidamente desenvolvidos nos primeiros anos de vida. O neurocientista afirma que 700 a mil novas sinapses são formadas a cada segundo no cérebro de um bebê”.
O prêmio Nobel de Economia James Heckman (2019) [2] realizou um estudo sobre a importância dos primeiros anos de vida das crianças, evidenciando ser um período crítico para a formação de habilidades e capacidades determinantes para todo o ciclo de vida. Estudos sobre a formação de habilidades mostram que o retorno dos investimentos na escolarização é mais alto para as pessoas, quando estas habilidades são formadas cedo.
Os cientistas de várias partes do mundo são unânimes na afirmação de que o destino de uma criança, de uma nação e da Democracia depende da educação desde a mais tenra idade.