A segunda-feira começou com um ataque contra um edifício residencial em Kiev, que deixou ao menos uma pessoa morta e 12 feridos
A quarta rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia começou na manhã desta segunda-feira (14) por videoconferência, informou Mykhailo Podolyak, negociador e conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“A comunicação (com Moscou) continua estabelecida, embora seja complicada”, tuitou Podolyak, acrescentando que “as partes expressarão suas posições concretas”.
“A razão de nossas divergências vem do fato de que temos sistemas políticos muito diferentes”, destacou, ao chamar Rússia de “a opressão máxima de sua própria sociedade”.
Esta é a quarta rodada de negociações entre Podolyak e o russo Vladimir Medinski, conselheiro do Kremlin. As três sessões anteriores aconteceram nas fronteiras Ucrânia-Belarus e Polônia-Belarus.
A nova rodada acontece após uma primeira reunião sem resultados entre os chefes da diplomacia russa e ucraniana na quinta-feira passada na Turquia.
A Ucrânia anunciou que voltaria a exigir uma trégua imediata nos combates e a retirada das forças russas, quase três semanas depois do início da invasão.
Guerra
A segunda-feira começou com um ataque contra um edifício residencial em Kiev, que deixou ao menos uma pessoa morta e 12 feridos, segundo equipes de emergência. Três dos feridos foram hospitalizados. As equipes de resgate afirmaram que o prédio fica na zona norte da capital ucraniana, e que um incêndio foi controlado pelos bombeiros depois de um disparo de artilharia durante a madrugada.
O governo local também afirmou que houve bombardeios contra a fábrica de aviões Antonov, onde duas pessoas morreram, segundo as autoridades ucranianas.
Além de Kiev, sirenes de alertas de ataque aéreo soaram antes do amanhecer em diferentes regiões da Ucrânia, como Lviv, Odessa, Ivano-Frankivsk e Tcherkássi.
Separatistas pró-Rússia de Donetsk, no leste da Ucrânia, afirmaram nesta segunda-feira que um ataque ucraniano deixou pelo menos 20 mortos e nove feridos no centro da cidade. No Telegram, forças de defesa de Donetsk publicaram fotos que mostram corpos ensanguentados entre escombros. A mensagem afirma que a defesa aérea da região interceptou um míssil ucraniano, e que estilhaços atingiram a população.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, insistiu nesta segunda que a Otan deve impor uma zona de exclusão aérea após o ataque à cidade de Lviv, a 25 quilômetros da fronteira com a Polônia, deixando 35 mortos, na contagem ucraniana —os russos falam em 180 mercenários estrangeiros mortos.
“Se eles não fecharem nosso céu, é uma questão de tempo até que mísseis russos atinjam seu território, território da Otan, as casas dos cidadãos da Otan”, disse Zelenski em uma mensagem de vídeo, em que reforçou que quer se encontrar com o russo Vladimir Putin.
Até aqui, os Estados Unidos descartaram intervir militarmente no conflito, e o presidente Joe Biden alertou que, se a Otan entrar para combater a Rússia, será a terceira guerra mundial. No domingo (13), Biden conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, e ambos “destacaram seu compromisso de responsabilizar a Rússia por suas ações e de apoiar o governo e o povo da Ucrânia”, disse a Casa Branca.
Russos e ucranianos dispararam mensagens otimistas sobre o andamento das negociações e chegaram a sinalizar no domingo que um acordo poderia chegar nos próximos dias. Enquanto outras negociações focaram em assuntos humanitários, nesta segunda autoridades dos dois países discutirão um cessar-fogo, segundo o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak. “Negociações. 4ª rodada. Discutirá paz, cessar-fogo, retirada imediata das tropas e garantias de segurança. Discussão difícil”, escreveu nas redes sociais.
As negociações em meio ao constante bombardeio ao porto de Mariupol, no sul do país, onde quase 2.200 pessoas foram mortas nos ataques, segundo autoridades ucranianas. Uma coluna humanitária que se dirige ao local teve que voltar no domingo, disse um funcionário da cidade à AFP, depois que os russos “não pararam de atirar”. Zelenski acusa Moscou de bloquear e atacar comboios humanitários, embora tenha dito no domingo que 125 mil pessoas puderam deixar o país.
O último relatório de inteligência do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha aponta que a Rússia teria estabelecido um bloqueio naval do Mar Negro para isolar a Ucrânia do comércio marítimo internacional.
A segunda-feira também começou com acusações de autoridades americanas vazadas à imprensa dos EUA de que a Rússia teria pedido à China equipamento militar para atuar no conflito, provocando preocupação na Casa Branca de que Pequim possa intervir mais diretamente na guerra. Moscou também pediu a Pequim assistência econômica para enfrentar as sanções impostas por boa parte do mundo ocidental, informou o jornal New York Times, que citou fontes do governos que pediram anonimato.
O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, que deve se encontrar com o principal diplomata da China, Yang Jiechi, em Roma nesta segunda-feira, afirmou que “haverá consequências no caso de esforços em larga escala para evitar sanções”.
Questionado sobre o pedido de ajuda militar da Rússia, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em Pequim negou e acusou os Estados Unidos de “desinformação”. “Apoiamos e encorajamos todos os esforços que conduzam a uma solução pacífica da crise”, disse.
A ONU estima que quase 2,7 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde a invasão, principalmente para a Polônia. O papa Francisco pediu no domingo pelo fim do que chamou de massacre. “Em nome de Deus, peço que pare com este massacre”, afirmou o pontífice. (JBr)