Novas tecnologias têm ajudado a polícia no trabalho de rastreio e recuperação de aparelhos furtados. No ano passado, foram mais de 14 mil ocorrências registradas no DF

O número de ocorrências de furto de celulares no Distrito Federal segue elevado apesar de um trabalho técnico e estratégico desenvolvido pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Entre janeiro e abril deste ano, 4.637 telefones foram alvo dos bandidos, ante 4.969 no mesmo período de 2024. No ano passado todo, um total de 14.142 ocorrências foi registrado (veja Estatística).
A inteligência artificial e as novas tecnologias têm ajudado não só o trabalho das forças de segurança, como também na proteção de dados pessoais guardados na memória dos dispositivos. Ao todo, 13.691 aparelhos foram recuperados e restituídos desde 2021 até maio de 2025.
A estudante Gabriela* (nome fictício), 24 anos, teve o celular furtado no centro de Brasília, durante o carnaval de 2024, e conta que teve problemas no trabalho por ter ficado incomunicável. “Demorei quase um mês para conseguir comprar um novo”, relembra.
O crime ocorreu durante um bloco próximo ao Museu Nacional da República. “Um rapaz se aproximou de mim com umas flores e tentou flertar comigo, mas eu não quis. Ele se aproximou bastante e chegou a tentar me dar um abraço. Assim que ele saiu, percebi a ausência do meu celular”, relata. “Constatei que foi ele, porque meu celular estava dentro da minha pochete, muito próximo ao meu corpo, portanto, não tinha como ser alguém que não chegou tão perto de mim”, acrescenta.
Estatísticas
Período: entre janeiro e abril
2025: 4.637
2024: 4.969
Aparelhos recuperados pelas Delegacias Circunscricionais:
2023: 1.280 celulares
2024: 1.421 celulares
Aparelhos devolvidos aos proprietários:
2023: 1.056
2024: 1.057
*Fonte: SSP/DF
Combate
A PCDF implementou um mecanismo no qual o cidadão pode consultar, no site da corporação, o número de identificação do celular, denominado de IMEI (International Mobile Equipment Identity) e, com isso, verificar se há alguma restrição associada àquele aparelho.
É possível saber o número do IMEI do celular olhando na caixa do aparelho, na nota fiscal ou digitando *#06# e discar como se fosse fazer uma ligação. Desta maneira, o número aparecerá na tela. “Cada aparelho celular tem apenas um IMEI, independentemente de ser trocado o chip ou não”, explica o diretor do Departamento de Inteligência, Tecnologia e Gestão da Informação, Saulo Ribeiro Lopes.
O trabalho da polícia começa a partir do momento da denúncia. Assim que é reportado o furto de um celular e a polícia identifica o número do IMEI, a pessoa que está em posse do aparelho vai receber uma mensagem solicitando que compareça a uma delegacia. “Por meio do trabalho de inteligência, a polícia consegue rastrear os celulares furtados, mesmo que seja colocado um novo chip”, destaca o diretor.
A recomendação da polícia é que sempre seja solicitada a nota fiscal no ato da compra de qualquer aparelho celular. “Não vale a pena comprar celulares de origem duvidosa, porque há grandes chances de ser um produto de crime. Nesses casos, se a polícia identificar, a pessoa pode responder pelo crime de receptação”, alerta Saulo.
A pena para o crime de receptação dolosa, quando há consciência de estar adquirindo um produto roubado, varia de um a quatro anos de prisão. No caso da receptação culposa, quando não há ciência da compra de um produto roubado, a pena vai de um mês a um ano de prisão, ou multa.
A grande maioria de furtos de celulares no Distrito Federal ocorre em eventos onde há grandes aglomerações. “Atualmente, as pessoas sempre fazem questão de levar o celular para shows e festas, para registrar e tirar fotos. Não tem como ter um agente colado em cada pessoa em grandes eventos. O monitoramento por câmera também fica mais difícil por conta das aglomerações e também pelo ambiente menos iluminados. Os ambientes se tornam propícios para furtos”, ressalta o diretor. “Sempre que há um grande evento, há um impacto nas denúncias de furto de celular”, completa.
Transporte público lotado também é um ambiente propício para o furto de celulares, segundo o diretor de inteligência. “Recomendamos que, em especial em lugares com aglomerações, que mantenham o celular seguro e bem guardado”, afirma Lopes.
Recuperação e devoluções
Desde novembro de 2024, a PCDF tem feito devoluções em massa de celulares furtados apreendidos por meio do trabalho de inteligência. A ação funciona como estratégia para mostrar à sociedade que é possível recuperar os aparelhos e, aos bandidos, que o crime não ficará impune. No último 23 de maio, um total de 430 aparelhos foi devolvido aos proprietários.
Prevenção
A tecnologia e a inteligência artificial oferecem mecanismos para ajudar a proteger dados e ajudar no rastreamento de celulares furtados ou perdidos e também na proteção de informações pessoais guardadas nos aparelhos.
O rastreamento por GPS está presente nos celulares e, hoje, é potencializado por redes Wi-Fi. “Há estudos para que esse rastreamento funcione mesmo com o celular desligado. A Google iniciou a implementação dessa função para Android 10 ou superior. Além disso, o GPS permite a criação de geofencings, cercas virtuais que disparam alertas, por exemplo, quando o aparelho sai de uma área determinada, como uma cidade, indicando possível roubo”, destaca o especialista em segurança da informação, tecnologia e crimes cibernéticos Rodrigo Fragola.
“Outro ponto importante é que existem redes chamadas mesh networks, nas quais os dispositivos se comunicam entre si. Alguns fabricantes vêm explorando essa tecnologia, que pode permitir que um celular roubado envie sinais a aparelhos próximos, repassando a informação até chegar ao proprietário por Wi-Fi ou outro meio”, completa.
Alguns aplicativos colaborativos auxiliam no mapeamento de áreas de risco. Entre eles estão ‘Onde Fui Roubado’, ‘Sai Pra Lá’ (voltado à violência contra a mulher, mas útil também em roubos de celular), ‘Motorola Alerta’, entre outros. “Neles, as pessoas denunciam os locais e situações em que foram roubadas, e o sistema alerta os usuários quando eles entram em áreas perigosas”, diz Fragola.
Como forma de proteger os dados armazenados em celulares pessoais, o especialista em cibersegurança e CEO da Every Cybersecurity, Eduardo Nery, alerta que o mais importante é blindar o que está na memória do aparelho. “Minha dica principal é ativar o bloqueio por biometria ou reconhecimento facial e, se possível, utilizar uma senha forte de desbloqueio. Além disso, manter a criptografia do aparelho ativada, a maioria dos smartphones atuais faz isso por padrão”, elenca.
Segundo Nery, outra medida essencial é usar autenticação de dois fatores em aplicativos bancários, e-mails e redes sociais. “Assim, mesmo com o celular em mãos, o criminoso não conseguirá acessar suas contas. E, claro, mantenha sempre o backup automático ativado em nuvem. Se o pior acontecer, você não perder suas informações e pode apagar tudo remotamente”, ressalta.
Sinistro
Além dos mecanismos de proteção e rastreio, é possível ainda fazer seguro para os celulares. Segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), a arrecadação total do seguro de telefones celulares chega a R$ 2,5 bilhões ao ano. Os dados mais recentes levantados pela entidade mostram que cerca de 10 milhões de aparelhos de telefone celular têm cobertura de seguros. Destes, em torno de 1 milhão aciona o seguro para ressarcir algum sinistro.
Como comunicar o roubo ou furto
Por meio do aplicativo Celular Seguro, desenvolvido em parceria pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e prestadoras, é possível solicitar o bloqueio do terminal móvel, da linha e de alguns aplicativos instalado no celular.
Para acessar o aplicativo, é necessário o cadastro prévio do celular e linha telefônica. Além disso, é possível cadastrar os dados de uma pessoa de confiança. Em caso de roubo ou furto, o usuário ou a pessoa de confiança deve entrar no aplicativo ou no site do MJSP e registrar um alerta, que é encaminhado às prestadoras e instituição parceiras para que os bloqueios sejam realizados.
Em fevereiro, foi introduzido o modo recuperação que permite, em vez de bloquear o IMEI, incluir em uma lista de terminais monitoras. Assim que um terminal monitorado é reativado na rede, o MJSP é notificado e, em seguida, é enviada uma mensagem no WhatsApp solicitando que o usuário compareça a uma delegacia para prestar esclarecimento.