Os terminais de São Paulo, que recebem a maior quantidade de passageiros, apresentam longas filas, congestionamento nas ruas do entorno e até problemas no fornecimento de energia elétrica.
Obras na entrada do Aeroporto de Guarulhos para a construção do sistema people mover — Foto: Guilherme Muniz/CBN
Saguão lotado, filas generalizadas, banheiros sujos ou parcialmente interditados. Esses são alguns dos problemas que os passageiros dos principais aeroportos do país tem enfrentado em meio à retomada dos voos no Brasil para níveis pré-pandemia. E isso tudo apesar do preço das passagens aéreas em alta.
Somente no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, o maior do país, o movimento em 2023 superou 41 milhões de passageiros. O índice é só 3% menor do que o registrado em 2019. O aeroporto é administrado pela iniciativa privada há 12 anos e foi considerado como o que oferece o pior serviço aos passageiros numa lista de 12 aeroportos monitorados pela Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil.
O órgão considera as condições oferecidas aos passageiros, como tempo em fila de inspeção, limpeza, restituição de bagagem, custo-benefício dos restaurantes, acesso à informação e acesso aos terminais. São problemas sentidos no dia a dia por viajantes de todo o país.
“O trem público não chega no terminal. Ele chega, mas não chega. Você precisa sair do trem e pegar um outro ônibus. Você não para dentro do terminal, como em outros países. É um perrengue porque você está com mala, sempre com muita coisa. Tem a questão da segurança”, diz Gisele Banheti, sócia-proprietária de uma empresa de eventos corporativos e passageira constante dos dois aeroportos paulistas.
Área interna do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. — Foto: Guilherme Muniz/CBN
Já o arquiteto e urbanista Matheus Carvalho notou a diferença de estrutura entre os terminais 2 e 3 do aeroporto de Guarulhos enquanto fazia uma conexão internacional:
“A gente percebe que a estrutura do terminal 2 é uma das mais antigas, a gente percebe que ele é bem mais datado, que ele já está mais cansado visualmente, tem muito ferro, muita sombra, então ele não tem o mesmo padrão do Terminal 3, que é o Terminal mais novo, mais contemporâneo”, afirma.
Rodrigo Maciel, presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos afirma que os principais problemas estruturais são notados no Terminal 2, construído em 1993.
“Na parte operacional que prejudica os passageiros, há esteiras de bagagem quebradas nos terminais de desembarque 1 e 2, e parte do telhado ainda é a mesma da inauguração do aeroporto, em 1988. A estrutura está enferrujada e há risco de queda do teto na área de desembarque doméstico do terminal 2”, diz.
Os dois aeroportos de São Paulo são administrados pela iniciativa privada. E a solução depende de investimentos das concessionárias, como afirma Thiago Nykiel, CEO da consultoria Infraway, especializada em infraestrutura. Ele pondera, no entanto, que a concessionária em Guarulhos, a GRU Airport, não deve fazer grandes investimentos agora, depois que mais de metade do prazo de concessão já se passou.
“O Guarulhos já está praticamente nos seus últimos 10 anos de concessão, tem a possibilidade de ser feito o aditamento do contrato, então nesse momento é realmente muito complicado para a operadora aeroportuária fazer grandes investimentos no terminal, dado que é o momento do contrato que você precisa, que você, dado investimento, é difícil você ter retorno sobre investimento”, explica Kykiel.
A cerca de 40 quilômetros de Guarulhos, a movimentação em Congonhas, que fica na zona sul da capital paulista, também causa superlotação e congestionamentos. Principalmente em horários de pico, como flagrado pela reportagem da CBN nas manhãs de segunda-feira e tardes de sexta
Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. — Foto: Guilherme Muniz/CBN
O fluxo já equivale a 99,5% do volume de 2019. Foram 22 milhões de pessoas em 2023. O terminal foi concedido há cerca de 5 meses, então ainda não foi avaliado pela Anac.
Mas, os passageiros relatam os problemas mais frequentes.
“Quando eu cheguei, o aeroporto tava bastante cheio, acho que foi até um dos motivos de eu não ter congeuido o Uber tão cedo. O ar-condicionado eu achei que faltou, eu passei calor ali dentro”, relata o publicitário Gabriel Batista.
Já a analista de produtos Karolaine Freitas relata a falta de estrutura nos banheiros do segundo terminal mais movimentado do país:
“Eu tive que usar o banheiro na área de desembarque e fiquei impressionada como o banheiro estava numa situação deplorável. As cabines não tinham suporte para papel e tinha uma moça dentro do banheiro que falava ‘quem tá sem papel, grita que eu levo o papel até aí'”, relata.
Nos últimos meses, os passageiros enfrentaram problemas como falta de energia, incidentes com jatos da aviação executiva, além de engarrafamentos no entorno e nos estacionamentos.
A concessionária espanhola Aena assumiu a gestão de Congonhas em outubro e deve apresentar, nesta segunda-feira, investimentos no terminal para minimizar os problemas apontados pelos passageiros. A expectativa é de que sejam aportados R$ 2 bilhões.
Voos no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. — Foto: Guilherme Muniz/CBN
A Anac informou que recebeu 173 reclamações sobre a qualidade do serviço prestado no aeroporto de Guarulhos desde 2020, sendo 12 este ano. Já Congonhas acumula 38 reclamações nos últimos 5 meses, sendo 13 delas nos últimos 2 meses e meio.
A concessionária Aena informou que, desde que assumiu a operação de Congonhas, revitalizou equipamentos e aumentou equipes de limpeza. Ainda este ano, a empresa promete ampliar a sala de embarque remoto e reformar banheiros.
A concessionária GRU Airport informou que trabalha em melhorias para o conforto dos passageiros. E que o transporte sobre trilhos ligando a estação de trem ao terminal terá capacidade de transportar até 2 mil passageiros por hora, por veículo. A entrega será ainda em 2024.
Fonte: jornal O Globo