
Miguel Lucena
Muita gente liga a TV no noticiário policial para se anestesiar da própria dor. Entre uma bala perdida e um corpo carbonizado, o sujeito pensa: “eu tô na pindaíba, mas ao menos cheguei vivo em casa”.
Ver a tragédia alheia cria uma estranha sensação de alívio — uma catarse macabra que consola o coração machucado por boletos, filas e chefes rabugentos.
O povo transforma o horror em passatempo e faz do sangue o seu café vespertino. No fundo, é como se cada vítima fosse um lembrete de que, apesar do aperto, ainda estamos respirando.
Afinal, sempre há quem esteja pior.