Parlamentares que votaram a favor de Temer na semana passada condicionam a aprovação da reforma à punição dos infiéis com a perda dos cargos. Irritado com o tucano Geraldo Alckmin, presidente afaga publicamente o prefeito de São Paulo, João Doria
Integrantes da base aliada mandaram recados ao governo de que só aceitam o desgaste de votar a reforma da Previdência se, antes, o Planalto cortar os cargos de quem votou contra o presidente Michel Temer na última quarta-feira. Se isso não ocorrer, avisam, não dá para garantir ao Executivo sequer os 263 votos obtidos para enterrar a denúncia encaminhada à Câmara pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Para aprovar as mudanças na Previdência, o governo precisa de, no mínimo, 308 votos.
Temer e os ministros mais próximos estão cautelosos nas retaliações. Depois que a denúncia foi arquivada, o ânimo reformista renasceu e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem repetido que ela precisa ser votada na Casa até setembro. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que pode ser em outubro. Na base, o clima é outro.
O roteiro da guilhotina já foi até apresentado e deve envolver os cargos dos aliados infiéis nos estados e nos segundo e terceiro escalões da máquina federal. “Você não tem políticos como tinha antes Sarney (José Sarney) e Antônio Carlos Magalhães (ACM), que tinham 20, 30 cargos. Hoje todo mundo tem seus afilhados nos estados. Tem que ser uma troca cirúrgica”, explicou um dos vice-líderes do governo na Câmara, Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
“Vamos votar primeiro as reformas tributária e política. Depois, se der tempo, pensamos na Previdência”, avisou o líder do PR, José Rocha (BA). Outro vice-líder do governo, Beto Mansur (PRB-SP) terminou o levantamento que fez sobre os deputados que votaram contra o governo. Na planilha do parlamentar paulista, a expectativa era de, ao menos, 280 votos favoráveis ao Planalto. A conta fechou em 263, mais dois que justificaram o apoio ao arquivamento da denúncia no microfone após o término da votação.
Nessa planilha que Mansur apresentará ao líder do governo e aos demais líderes da base constam, pelo menos, 20 deputados que prometeram nominalmente apoiar Temer e traíram a confiança do presidente em plenário. “Temos que ter calma. Nosso foco deve ser a reforma da Previdência, e não um debate sobre cargos”, alertou o deputado do PRB. Mas esse grupo de 20 “traidores” está na mira de todos os líderes da base e não devem escapar das sanções.
Corte de cargos
Os ministros do PSDB devem ser preservados, embora o PMDB queira emplacar o deputado Carlos Marun (MS) no Ministério das Cidades. Mas os ministros tucanos terão que cortar os cargos dos 21 correligionários que votaram a favor da denúncia de Janot.
O Planalto está particularmente irritado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Interlocutores do presidente reclamam que o governador paulista foi muito ajudado pelo PMDB nas eleições e a bancada do partido na Câmara votou alinhada a Janot. Por isso, Temer fez questão de ir ontem a São Paulo afagar o prefeito paulistano, João Doria, possível adversário de Alckmin nas prévias internas do PSDB ao Planalto em 2018.
“Vejo aqui um parceiro e um companheiro. Alguém que compreende como ninguém os problemas do país”, disse Temer. Ambos assinaram um acordo que prevê a concessão à prefeitura de parte do Campo de Marte, hoje sob controle da Força Aérea, para construção de um parque e de um museu aeroespacial.
O Diário Oficial trouxe ontem uma nova leva de exonerações. Gustavo Adolfo de Andrade de Sá foi exonerado do cargo de diretor de administração e finanças do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit). Cintia de Melo Machado foi exonerada do cargo de assessor técnico da Diretoria de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal do Presidente da República.
Wagner Deio Lateri Júnior foi exonerado do cargo de Coordenador-Geral de Projetos e Infraestrutura, da Subsecretaria de Desenvolvimento Rural da Secretaria Especial da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Em seu lugar foi nomeado Kleber de Vasconcellos Viana. Também foi exonerada Aurilene Farias Alves, da Coordenação-geral de Administração e Recursos Humanos, da Subsecretaria de Planejamento e Gestão da própria secretaria de agricultura.
Outro que deixou o cargo foi Paulo Godoy Godinho, que era assessor da Chefia de Gabinete da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres da Secretaria de Governo da Presidência da República. Na sexta, deixaram o governo o secretário executivo do Ministério da Cultura, João Batista Moraes de Andrade, e o diretor do Departamento de Destinação Patrimonial da Secretaria de Patrimônio da União, André Luis Pereira Nunes.
Fonte: Correio Braziliense