Presidente do Flamengo abre mão de indicação para o Conselho de Administração. Indicado à presidência pode seguir o mesmo caminho. Contra os dois pesam suspeitas sobre conflito de interesses incompatíveis com a atuação na empresa
Indicado por Bolsonaro, Landim disse que o clube requer sua presença e declinou do convite – (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Arquitetada para dar um alívio ao governo federal devido aos aumentos nos preços dos combustíveis — que deixaram o presidente Jair Bolsonaro irritado (PL) e temeroso sobre o impacto que poderia ter no projeto da reeleição —, a troca do comando da Petrobras tornou-se um inesperado problema. Ontem, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, desistiu da indicação para a presidência do Conselho Administrativo da empresa, conforme nota publicada no site do clube. Mas a situação pode se agravar mais com a possibilidade de o economista Adriano Pires, indicado para substituir o general Joaquim Silva e Luna à frente da petroleira, também declinar do convite.
A nota de Landim atribui a desistência, sobretudo, ao mau momento vivido pelo Flamengo, que no último sábado perdeu a final do Campeonato Carioca para o Fluminense (veja ao lado fac símile da carta). Porém, nos bastidores, sabe-se que isso é cortina de fumaça. O que estaria por trás seriam as ligações do cartola do futebol com Carlos Suarez, um dos fundadores da empreiteira OAS — que esteve envolvida no escândalo do Petrolão; ele é o S da sigla — e empresário do setor de gás, dono de oito distribuidoras.
Suarez é conhecido, também, pela relação de proximidade com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). É dono da Termogás — que controla concessionárias de gás encanado em locais não atendidos por gasodutos, como o Distrito Federal. O empresário é, ainda, proprietário da Companhia de Gás do Amazonas (Cigás), que tem uma pendência judicial com a Petrobras que ultrapassa os R$ 600 milhões sobre o recolhimento de PIS/Cofins.
Conflitos
A possível desistência de Pires se daria pelo mesmo motivo, uma vez que ele e Landim são apontados como representantes de interesses conflitantes com os da Petrobras. O indicado para substituir Silva e Luna, inclusive, vem sendo pressionado a divulgar a lista de clientes que tem na carteira de consultoria — como solicitou o PT ao Ministério de Minas e Energia.
Da mesma forma, o procurador Lucas Furtado, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), pediu que investiguem Pires. A solicitação foi feita à Controladoria Geral da União (CGU), à Comissão de Ética Pública e à própria Petrobras.
O economista é dirigente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que presta serviço a empresas e entidades dos setores de energia e óleo e gás. Entre elas, a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), que tem como associadas empresas concessionárias de serviços de distribuição de gás canalizado, e gigantes como Exxon Mobil, Shell, Braskem, Chevron, Ipiranga, CPFL Energia, Eneva e Engie.
“Com o general, tínhamos a segurança de que, pelo menos, não haveria falcatruas. Agora, não sabemos”, desconfia o presidente da Frente Parlamentar de Energia Limpa, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE).
No Parlamento, existe um pedido de convocação de Pires para comparecer ao Senado. Em relação a Silva e Luna, também há uma solicitação para que deponha no Congresso, aprovada em 8 de março, sem data marcada. Porém, com as recentes entrevistas concedidas pelo general, que usou palavras contundentes para classificar as razões pelas quais foi sacado do comando da Petrobras, a expectativa é de que seu comparecimento seja acelerado.
Se até os primeiros dias de março os congressistas queriam apenas informações sobre os preços, e o que a Petrobras poderia fazer a respeito, agora o foco mudou. Enquanto o Centrão, em dupla com o Palácio do Planalto, trabalhará para que os depoimentos de Pires e Silva e Luna não se concretizem, a oposição promete jogar pesado para que ambos sejam ouvidos — e, claro, criar mais desgaste para Bolsonaro com o intuito de estancar a subida que vem apresentando nas mais recentes pesquisas de opinião.
Da parte dos governistas, há, ainda, a preocupação de que consigam jogar o presidente na vala comum do histórico de corrupção da Petrobras. Se o governo insistir no nome de Pires, o Palácio do Planalto, além de garantir que os clientes do indicado para o comando da empresa não tirarão vantagem dos contartos que mantêm com a companhia, terá, também, que encontrar uma solução para os preços dos combustíveis — que acompanham as cotações do mercado internacional. (CB)