Apesar de o governo ter dito que a recuperação econômica da crise do novo coronavírus já começou, essa retomada é parcial e deve seguir de forma “ainda mais gradual”. A avaliação é do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que, por isso, acredita que as pressões desinflacionárias “podem ter duração maior do que em recessões anteriores”.
O Copom também avisou, contudo, que a taxa básica de juros (Selic) está próxima do seu limite mínimo. E disse que, por isso, “eventuais novas reduções na taxa de juros exigiriam cautela e gradualismo adicionais” e “poderiam ser temporalmente espaçadas.”
A avaliação do BC sobre o cenário econômico brasileiro foi publicada, nesta terça-feira (11/8), por meio da ata da última reunião do Copom. Na ocasião, o Comitê reduziu a taxa básica de juros de 2,25% para a nova mínima histórica de 2% ao ano de forma unânime.
A ata do Copom explica que os últimos indicadores econômicos “sugerem uma recuperação parcial” no Brasil, já que “os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo”.
“Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e até do investimento. Contudo, várias atividades do setor de serviços, sobretudo aquelas mais diretamente afetadas pelo distanciamento social, permanecem bastante deprimidas”, lembrou.
Incertezas
E destacou que ainda há muitas incertezas sobre o rumo dessa retomada, seja por conta da evolução da pandemia do novo coronavírus, por conta da “necessária redução nos auxílios emergenciais a partir do final desse ano”.
“O Comitê ponderou que esta imprevisibilidade e os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual da economia”, conclui a ata do Copom.
O Copom acredita que “a natureza da crise provavelmente implica que pressões desinflacionárias provenientes da redução de demanda podem ter duração maior do que em recessões anteriores”. Por isso, projeta uma inflação de 1,9% para este ano, de 3% em 2021 e de 3,4% em 2022, em um cenário com o câmbio a R$ 5,20 e uma taxa de juros “que encerra 2020 em 2,00% a.a. e se eleva até 3,00% a.a. em 2021 e 5,00% a.a. em 2022.”
O Comitê também avaliou que, com a Selic em 2% ao ano, “já estaríamos próximos do nível a partir do qual reduções adicionais na taxa de juros poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos preços de ativos”. O Copom lembrou que a taxa básica de juros tem um potencial limite efetivo mínimo que é “significativamente maior em economias emergentes do que em países desenvolvidos devido à presença de um prêmio de risco” e tende a ser ainda maior no Brasil, “dadas a sua relativa fragilidade fiscal e as incertezas quanto à sua trajetória fiscal prospectiva”.
O Copom acredita, então, que “os juros baixos sem precedentes podem comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos, com potencial impacto sobre a intermediação financeira”. Para o Comitê, essa situação pode “gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar, sem o devido tempo necessário de transição para um novo ambiente, o bom funcionamento e a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais”.
“Assim, o Comitê concluiu que eventuais novas reduções na taxa de juros exigiriam cautela e gradualismo adicionais. Para tal, se necessárias, novas reduções de juros demandariam maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas e poderiam ser temporalmente espaçadas”, avisou a ata.
“O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno. Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva”, acrescentou.
A ata reiterou, portanto, o aviso de que a continuidade dos juros baixos está condicionada “à manutenção do regime fiscal, já que sua ruptura implicaria alterações significativas para a taxa de juros estrutural da economia” e “à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo, tendo em vista que a desancoragem indicaria que os custos derivados do estímulo monetário estariam se sobrepondo a seus benefícios”.
“O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, reforçou.
A ata também diz, contudo, que, cumpridas essas condições, o Copom considerou a utilização de uma “prescrição futura” (isto é, um “forward guidance) “de forma a prover o estímulo monetário considerado adequado para o cumprimento da meta para a inflação, mas mantendo a cautela necessária por razões prudenciais”. “A prescrição futura cumpre o papel de transmitir a visão do Comitê sobre suas ações futuras e tende a ajustar as expectativas expressadas na parte intermediária da curva de juros”, explicou. (CB)