Costureira produz e doa máscaras de tecido a idosos em Ribeirão Preto (SP) — Foto: Angélica Faleiros/Acervo pessoal
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse na quarta-feira (1º) que máscaras de proteção podem servir como barreira eficiente para a população em geral contra o coronavírus (Sars-CoV-2). A sugestão de Mandetta tem como foco o uso de máscaras alternativas, preservando as cirúrgicas e as N95 para os profissionais de saúde.
O G1 ouviu especialistas e consultou órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Organização Mundial da Saúde (OMS) para montar um tira-dúvidas sobre uso de máscara para evitar a transmissão ou contágio pela doença Covid-9, incluindo os pontos positivos e negativos do uso da proteção pela população em geral.
- Por que antes as máscaras não eram recomendadas para a população em geral?
- O que afirmam os que são a favor do uso geral das máscaras descartáveis?
- Por que especialistas afirmam que a máscara pode ser vetor de contaminação?
- Não tenho Covid-19. A máscara pode me proteger?
- Como devo usar a máscara?
- A máscara é descartável? De quanto em quanto tempo devo trocar?
- As máscaras caseiras podem ser usadas?
- Quais os cuidados de higiene com as máscaras caseiras?
- Como devo descartar a máscara usada?
- Como outros países usam as máscaras?
- O que diz a Anvisa sobre o uso de máscaras descartáveis?
- O que diz a OMS sobre o uso de máscaras descartáveis?
Por que antes as máscaras não eram recomendadas para a população em geral?
Seguindo orientações da OMS, o Ministério da Saúde e a maioria dos especialistas apontavam o risco de um uso irregular das máscaras pela população em geral. Não utilizada da maneira correta, a máscara pode ficar contaminada e expor as pessoas ao coronavírus.
Outra preocupação da pasta era quanto à falta do produto no mercado, já que inúmeros profissionais da saúde denunciavam que não estavam tendo acesso às máscaras e outros itens de segurança individual. A dificuldade na importação dos produtos da China é um ponto de atenção.
O que afirmam os que são a favor do uso geral das máscaras descartáveis?
As máscaras descartáveis foram recomendadas para uso geral em outras epidemias na Ásia, como a de H1N1, depois que estudos mostraram que o item, quando associado aos cuidados de lavar as mãos e evitar aglomerações, diminuía as transmissões de gripe.
Isso porque a máscara, apesar de que ser uma barreira de baixa proteção, não deixa de ser uma barreira – se usada da maneira correta e combinada com as das demais medidas de proteção.
Além disso, no caso do coronavírus, como muitos infectados não apresentam sintomas e não sabem que estão com a Covid-19, a máscara para uso geral pode ajudar a conter a transmissão causada por essas pessoas assintomáticas.
Por que a máscara cirúrgica pode ser vetor de contaminação?
O uso inadequado é um dos motivos que pode torná-la vetor de contaminação.
“As pessoas podem se sentir incomodadas, porque não estão acostumadas ao uso, levando as mãos ao rosto com maior frequência e de forma errada”, diz o especialista do Serviço de Alergia/Imunologia da Santa Casa do Rio de Janeiro, Thiago Luiz Bandeira.
Segundo o alergista Marcello Bossois, a máscara também pode desmobilizar as pessoas em relação à higienização periódica das mãos por dar uma “falsa sensação de maior proteção durante o uso”.
Não tenho Covid-19. A máscara cirúrgica pode me proteger?
De forma limitada, mas pode. Isso porque o coronavírus é transmitido por meio de gotículas eliminadas na tosse, no espirro ou na fala. Apesar de não filtrar o ar, a máscara descartável pode servir de barreira para impedir que essas gotículas entrem em contato com as mucosas da boca e do nariz.
“A máscara também ajuda a evitar que a pessoa encoste a mão no rosto”, diz o epidemiologista André Ricardo Ribas Freitas, professor da Faculdade São Leopoldo Mandic.
“Acho que máscaras de pano para os comunitários funciona muito bem como barreira. Não é caro de fazer, faça você mesmo, tem na internet. Faça você mesmo e lave com água sanitária ou o nome [do produtor] que você conhece”, disse Mandetta nesta quarta.
Como devo usar a máscara?
A Anvisa alerta que é fundamental higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel antes e após usar a máscara. Isso independe de quem faz uso do acessório (se tem ou não tem sintomas da Covid-19).
- Com as mãos lavadas, é preciso colocar a máscara sobre o rosto de modo que cubra tanto queixo quanto nariz.
- A máscara não pode ficar frouxa no rosto. Para isso, uso o acessório de metal na parte superior da máscara para aderi-la ao nariz, evitando evitar entrada e saída de ar.
- Durante uso, não se deve tocar na máscara. Por isso, não é recomendado que tirar e colocar a máscara, nem que ela seja removida durante a fala.
- Quando for retirar a máscara, a pessoa não deve encostar a mão no tecido, apenas nas alças laterais que ficam acopladas à orelha.
De quanto em quanto tempo devo trocar a máscara?
Todas as máscaras de uso caseiro, sejam as descartáveis ou de tecido, precisam ser substituídas assim que ficarem úmidas.
“Quando a máscara fica úmida, perde a capacidade filtrante e precisa ser trocada”, diz Freitas. “Por isso, se a pessoa passa uma boa parte do tempo fora de casa, é ideal ter 4 máscaras para fazer a troca.”
Quanto às máscaras cirúrgicas, segundo Bandeira, o tempo médio de eficácia é de duas horas, devendo ser descartada após esse período. Apesar disso, a recomendação é que esses itens sejam deixados de preferência para uso dos profissionais de saúde, já que estão em falta no mercado.
As máscaras caseiras são seguras?
Segundo Freitas, as máscaras caseiras impedem a entrada e saída de gotículas desde que sejam feitas com um tecido filtrante, como o TNT, e em três camadas:
- interna;
- intermediária filtrante;
- e externa.
Elas também devem ter o suporte de ferro na parte superior onde encosta no nariz, para garantir que a máscara fique bem presa ao rosto.
“Os melhores materiais são os filtrantes. Se não tiverem, podem ser tecidos à base de algodão, que também tem capacidade filtrante”, explica Freitas.
Segundo Thiago Luiz Bandeira, da Santa Casa do Rio de Janeiro, as máscaras feitas com apenas uma camada de tecido não devem ser utilizadas. Além disso, elas precisam ser lavadas assim que ficarem úmidas durante o uso.
Veja abaixo como higienizar a máscara caseira:
Como devo descartar a máscara usada?
Ao ser retirada, a máscara precisa ser imediatamente colocada em um saco plástico hermeticamente fechado ou bem amarrado antes de ser descartada no lixo comum. Além disso, a pessoa deve lavar as mãos com água e sabão após tocar na máscara usada.
Quais os cuidados de higiene com as máscaras caseiras de tecido?
As máscaras de tecido precisam ser lavadas com água e sabão toda a vez em que forem usadas – depois de secarem, devem ser passadas com ferro quente.
O que diz a Anvisa sobre o uso de máscaras cirúrgicas?
A Anvisa orienta que as máscaras devem ser de TNT e seu uso deve ter prioridade para profissionais da saúdee pessoas sintomáticas.
“[O ato de] Usar máscaras quando não indicado pode gerar custos desnecessários e criar uma falsa sensação de segurança, que pode levar a [pessoa a] negligenciar outras medidas, como a prática de higiene das mãos”, diz um documento da entidade.
O mesmo documento afirma que, para os casos sintomáticos, “usar uma máscara é uma das medidas de prevenção para limitar a propagação de doenças respiratórias, incluindo o novo coronavírus”.
O que diz a OMS sobre o uso de máscaras?
A OMS orienta que as máscaras sejam usadas apenas por profissionais da saúde e por pessoas sintomáticas. A entidade alerta para o perigo de contaminação nos casos em que as máscaras não são utilizadas e descartadas de maneira segura pela população assintomática e afirma que o item oferece baixa proteção contra o coronavírus.
No caso dos profissionais da saúde, a organização reforça que a máscara é eficaz, porque é utilizada com outros itens de segurança individual, como óculos, luvas e capote.
Além disso, a exemplo da Anvisa, a OMS teme que o uso indiscriminado possa levar à falta do acessório para quem realmente necessita utilizá-las.
Como outros países lidam com as máscaras?
O diretor-geral do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, George Gao, disse na sexta-feira (27) que não usar máscaras é o grande erro dos EUA e da Europa no combate à Covid-19.
“O grande erro nos EUA e na Europa, na minha opinião, é que as pessoas não estão usando máscaras. Este vírus é transmitido por gotículas e contato próximo. Gotículas desempenham um papel muito importante – você precisa usar uma máscara, porque quando você fala, sempre há gotículas saindo da sua boca. Muitas pessoas têm infecções assintomáticas ou pré-sintomáticas”, disse Gao em entrevista à revista “Science”.
“Se eles estão usando máscaras, isso pode impedir que gotículas que levam o vírus escapem e infectem outras pessoas.”
Na terça-feira (31), o jornal americano “The Washington Post” mostrou que funcionários do Centro de Controle e Prevenção a Doenças (CDC) dos Estados Unidos estão considerando alterar orientações oficiais sobre o uso de máscaras simples para todas as pessoas – inclusive as que não manifestaram sintomas da Covid-19.
No entanto, o CDC não divulgou nenhuma nota oficial sobre o assunto, e as recomendações nos EUA sobre o uso de máscaras se mantêm as mesmas: somente para profissionais de saúde e pessoas que apresentam sintomas.
Especialistas ouvidos pelo “Washington Post” informam que o uso de máscaras simples, até mesmo feitas de pano, podem ajudam a achatar a curva de transmissão e diminuir o número de casos.
Na Áustria, o governo passou a exigir que funcionários e consumidores passem a utilizar máscaras cirúrgicas obrigatoriamente em supermercados, como uma tentativa de diminuir a disseminação da Covid-19.
O chanceler do país informou à agência de notícias Reuters que as máscaras serão entregues às pessoas na entrada dos supermercados. (G1)