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Maria José Rocha Lima[1]
-O silêncio que mata, deixando marcas físicas, psíquicas e sociais traumáticas
Hoje, 18 de maio, é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil. A campanha Maio Laranja alerta e encoraja crianças, adolescentes e adultos para a importância de combater esse tipo de crime.
A Soroptimist International – na Região Brasil, sob o comando da Governadora Mariza Bueno Schuster, realizará às 19h uma Live “Formas Contemporâneas de Escravidão”, na qual soroptimistas brasilienses entrevistarão o doutor Cristiano de Souza Elói, Delegado de Polícia Federal.
A Deputada doutora Jane Klébia se pronunciou hoje sobre o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, denunciando esse grave problema. Solidarizou-se com as vítimas e seus familiares e apelou a “todos no sentido de lutar, juntos, contra esse crime hediondo”. Jane Klébia disse: “Lamento que o Brasil venha ocupando um dos primeiros lugares no ranking mundial, com mais de 500 mil crianças abusadas anualmente”. A deputada Jane realizará Audiência Pública sobre o tema na CLDF, no dia 23 de maio, terça-feira, às 10h.
O CRIME E AS CONSEQUÊNCIAS
Este crime do abuso e exploração sexual de crianças e adolescente humilha a vítima, é uma invasão brutal e representa uma tremenda ameaça. Quase sempre nubla sonhos, fere os coraçõezinhos e provoca um sentimento de que a vida não tem mais sentido. Quando alguém tem a sua intimidade violada e sente-se desrespeitada violentamente, o que resta são a dor e o trauma.
A violência sexual caracteriza-se tanto por um ato, entre um ou mais adultos
e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-la para obter estimulação. Ou o crime pode se caracterizar pela exploração sexual com fins comerciais do corpo/sexo, por meios coercitivos ou não, sob as formas de pornografia, tráfico, turismo sexual e prostituição.
Muitos são os estudos que constatam as consequências do abuso sexual infanto-juvenil, que deixam marcas – físicas, psíquicas, sociais, sexuais, entre outras – que, quase sempre, comprometem drasticamente a vida da criança ou adolescente.
O pior de tudo isso é que o agressor, em muitos casos, é alguém próximo da vítima ou da família. Geralmente se comportam bem no ambiente social, interagem bem com crianças e adolescentes. Têm condutas que mascaram as suas práticas íntimas. São pessoas frias, narcísicas, egocêntricas, arrogantes e mesquinhas. Ao identificar o abuso e o abusador, é preciso agir sem demora, pois as consequências são muito traumáticas.
A Revista Sinais dos Tempos, Edição Especial Quebrando Silêncio publicou em 2017 resultados de pesquisas que citaremos a seguir.
Estudos da Universidade de Harvard indicam que o hemisfério esquerdo do cérebro de crianças que sofreram abuso severo na infância se desenvolve menos que em outras que não foram abusadas.
Para a doutora Rosana Alves, PhD em Neurociências (2017), “quando o abuso infantil ocorre durante o período crítico em que o cérebro está sendo fisicamente esculpido pela experiência, o impacto do extremo estresse pode deixar uma marca indelével em sua estrutura e função, de acordo com as pesquisas lideradas pelo cientista Martin H. Teicher. Este mesmo grupo de estudiosos publicou artigo na revista da Society of Biological Psychiatry (EUA), em 2013, revelando descobertas sobre pessoas que sofrem violências severas na infância e têm estruturas cerebrais alteradas. Esses traumas afetam regiões do cérebro como o hipocampo, onde são formadas e recuperadas as memórias aversivas. Uma das equipes lideradas pelo doutor J. Douglas Mremner, da Escola de Medicina de Yale(EUA), comparou ressonâncias magnéticas de indivíduos normais com as de 17 adultos submetidos a abusos físicos ou sexuais na infância, todos eles portadores de distúrbios de estresse pós –traumático. Resultado: o hipocampo esquerdo de quem foi abusado mostrou, em média, 12% menos do que os demais. Consequentemente esses pacientes tiveram dificuldades em testes envolvendo memória verbal.
Outros estudos de Martin Teicher e colaboradores revelaram também os impactos do abuso sexual na infância sobre o Corpo Caloso, responsável pela integração dos hemisférios cerebrais. Em meninos tanto o abuso quanto o abandono na infância se mostraram nefastos, sendo que nas meninas o abuso sexual se mostrou altamente destrutivo, sendo associado a uma grande redução no tamanho das partes centrais do Corpo Caloso, o que dificulta a comunicação entre as partes do cérebro.
Desde 1993, esses estudiosos identificaram que os hormônios liberados durante o estresse da violência, além de prejudicar o amadurecimento normal das regiões do cérebro citadas, também provocavam uma tempestade elétrica no cérebro da vítima, podendo causar, assim, sintomas epilépticos, como formigamento, entorpecimento, vertigem, náusea, frio no estômago e alucinações, pensamentos intrusivos. Por tudo isso, é preciso quebrar o silêncio. E lembre-se que a proteção começa em casa.
[1] Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International Região Brasil e SI Brasília Sudoeste. Sócia Benemérita da Hora da Criança.
Foto de capa: Reprodução Diário do Nordeste – uso sem fins comercial