*Frutuoso Chaves
Roupas de festa, semblantes risonhos, fragrâncias no ar. O conjunto de duas guitarras, um contrabaixo, uma bateria e um cantor, sempre à semelhança dos Beatles, iniciava o longo repertório com músicas alegres, os sucessos da época apropriados à dança livre e saltitante.
Qualquer par, então, servia aos requebros e trejeitos. Ninguém se encostava nesses começos de baile quando, não raramente, o salão acomodava grupos de quatro ou cinco na comunhão da mesma música e mesmo ritmo. E não se corria o risco de abrir o baile sozinho. “Vamos lá?”… E uma turma inteira ia.
Lá para as tantas, a banda reduzia o volume da bateria e o das guitarras. O cantor, por sua vez, punha tons de veludo na voz para a interpretação das músicas românticas, sentidas. Um par qualquer não mais servia. Era chegado o momento de tomar coragem e convidar aquela menina já antevista numa daquelas mesas desde o ingresso no clube ao lado dos pais.
Pouquíssimos decifravam aquelas letras de canções americanas, em sua maioria. Ou porque o salão quase inteiro não falasse inglês, ou porque, em sua totalidade, não entendesse o que saía da boca do cantor, intérprete de um idioma próprio, exclusivo: o embromês.
Mas não importava, pois o que se queria mesmo era aquela menina nos braços, era aquele perfume, era o roçar de bochechas e corpos colados. O que se pretendia era a eternização daqueles momentos. E, sem mais pensar, dançavam-se dores e tragédias com a alma nas nuvens.
É disto que lembrei ao ser informado da morte, sábado, do premiadíssimo B.J. Thomas. Foi do seu “Rock Lullaby”, a história de uma menina de 16 anos e de seu filho, ambos postos a enfrentar um mundo indiferente e cruel. Ela assustada, mas com uma modinha de ninar para o filho que chorava: “Vai ficar tudo bem”. Uma criança a embalar a outra, no dizer de B.J. Thomas. Dele mesmo que, na fase adulta, diante das agruras da vida, pedia: “Mãe, deixe-me ouvir aquela velha canção”.
Perdão, companheiro, aquele perfume e aquele vestido fininho embotaram-me a percepção dos teus versos. E perdoa, pelos mesmos e compreensíveis motivos, os da minha geração. Até porque há atenuante. Dançávamos com igual afinco “Bridge over troubled water”, um louvor à dedicação, ao amor e ao amparo sem limites”.
Ah, sim. Aproveito a oportunidade para também pedir desculpas, em nome de todos nós, a Bitão, a Hélio Santistebam, a Osvaldo Malagutti e a Paulo Roberto Fernandes, os Pholhas, pelo absurdo da ereção em “My mistake”, o drama de um sujeito que, corneado, matou a mulher. Vão desculpando aí.
*Jornalista profissional com passagens pelos jornais paraibanos A União (Redator e Chefe de Reportagem), Correio (Redator e Editor de Economia), Jornal da Paraíba (Editorialista), O Norte (Editor Geral), O Globo do Rio de Janeiro e Jornal do Commercio do Recife (correspondente na Paraíba, em ambos os casos). Também pelas Revistas A Carta (editada em João Pessoa) e Algomais (no Recife).