*Frutuoso Chaves
Talvez a expressão seja mais antiga. Mas lembro dela a partir da segunda metade dos anos de 1950 quando, ainda menino, eu começava a atinar para os ditos e ritos da rapaziada. “Qual é o pó?”, perguntava-se, então, à guisa de cumprimento. Mas era pergunta que também embutia a busca por novidades. “Beleza?”. Eis, aqui, a tradução atual para o modo como os jovens se cumprimentavam nos tempos da brilhantina.
Sem dúvida nenhuma, o “qual é o pó” de antigamente não pegaria bem nos dias de hoje. Uma pergunta dessas poria de orelha em pé os atuais avós, ou pais. E, não menos, o delegado de polícia.
Fui à Internet, pesquisei e não encontrei informações sobre o surgimento do velho e esquecido termo. Talvez decorra da sigla “PO” aplicada a “Puro de Origem”, um tanto comum nos registros dos criadores de zebus. Mera suposição, todavia, da qual não dou a garantia do acerto. Alguém me ajuda?
Também não sei se o “qual é o pó” teve amplitude nacional, ou se não passou de um regionalismo. Mas estou certo de que outro cumprimento corriqueiro nas décadas de 1940 e 50 – “Tudo azul?” – era expresso em todos os lugares e com todos os sotaques deste Brasil continental. Ganhou, inclusive, verbete no Aurélio.
“Tudo azul?” remete à condição de lucro nos livros de registro contábil das empresas. É, nas mesmas circunstâncias, o contrário de vermelho. No dito popular, a resposta, tal e qual, significaria tudo bem, tudo em paz, tudo tranquilo. Ou, como querem os meninos de hoje, tudo beleza.
A origem das expressões e sua utilização ao longo do tempo é assunto que sempre me cativou. Foi lendo uma coisa aqui, outra ali, que atinei para um bom número de significados.
O “vá tomar banho”, por exemplo, remonta aos idos da colonização quando os índios, mais limpos e higiênicos, já não aguentavam o mau cheiro dos portugueses. Antes de ser um insulto era uma sugestão.
“A dar com o pau”, ao que fui informado, advém do tráfico de escravos. Muitos, nos navios negreiros, preferiam a morte à escravidão. Fechavam, assim, a boca em busca da morte e eram alimentados à força com colheres de pau, goela a dentro. “Para inglês ver” é termo relacionado às leis com o valor de um risco na água, enganosamente cumprida. Advém da exigência britânica ao fim da escravidão no Brasil, menos por razões humanitárias e mais por questão econômica numa Inglaterra que, ao contrário de Portugal, se industrializava. Mas essa é outra história.
“Lavar a égua”, sinônimo de se dar bem, tem origem, também, ao que li, nos idos da escravidão, quando pequenas pepitas, ou pó de ouro, eram escondidos do dono das minas na crina ou nas caudas desses animais. A lavagem posterior, às escondidas, seria de muito bom proveito.
Quem roda a baiana pode ser barraqueira, ou seja, montar barraca para os acarajés de Salvador. Mas, tanto quanto isso, também pode compor aquela ala famosa das escolas de samba do Rio. E, então, beleza?
*Frutuoso Chaves, jornalista profissional com passagens pelos jornais paraibanos A União (Redator e Chefe de Reportagem), Correio (Redator e Editor de Economia), Jornal da Paraíba (Editorialista), O Norte (Editor Geral), O Globo do Rio de Janeiro e Jornal do Commercio do Recife (correspondente na Paraíba, em ambos os casos). Também pelas Revistas A Carta (editada em João Pessoa) e Algomais (no Recife).