Maria José Rocha Lima*
Assistindo a um vídeo de uma jovem neurocientista sobre empatia, me lembrei da minha mae. Ela acolhia a todos os desamparados incondicionalmente, era conselheira de jovens escorraçados de casa por não se adequarem aos padrões estabelecidos.
Lembrei-me do seu Temístocles, um velhinho bêbado e desamparado, pedreiro das obras realizadas lá em casa, com muito humor. Sempre contratado para pequenos consertos e pinturas, por anos a fio.
Certa vez, minha mãe deu para ele o nosso único fogão, ficamos mais de um ano cozinhando num “jacarezinho”. Deu-lhe também a minha cama, presente que ganhei do meu pai. Bela cama de madeira com desenhos xadrezes, parecidos com o parquet. Quando o filho do velho foi buscá-la, me debulhei em lágrimas. Os parentes protestaram: logo àquele velho bêbado? E minha mãe Dona Terezinha, dizia:
– Ele é um homem bom, trabalhador. Quem sabe o que se passou com ele, para ficar assim? Nnguém sabe.
Senti profundamente a perda da cama, mas me consolei e me conformei quando ela me disse que o seu Temístocles, já tão velho, dormia sobre uma folha de jornal.
Nunca esqueci o que minha mãe me disse sobre a doação:
– Minha filha, você terá muitos fogões e camas pela vida afora; Seu Temístocles, não, ele está muito velho, doente, os filhos o castigam e ele está sem esperança. Precisamos dar-lhe um pouco de conforto.
Minha mãe tinha plena razão. Hoje posso comprar fogões, camas, já tive vários modelos e marcas. De Seu Temístocles ficou a lição da empatia e a singela lembrança das suas expressões brincalhonas. Ele, sempre que concluía uma etapa da obra, dizia: “Comigo é mais quinhentos…”, divertindo a todos nós e espantando tristezas.
A empatia está na moda. Como acompanhei suas práticas de Dona Terezinha, ficou mais fácil compreendê-la na teoria.
Os neurocientistas em descobertas recentes vêm argumentando que há um conjunto de células chamadas neurônios-espelho, que estão relacionados às emoções e relações empáticas.
Os neurônios-espelho são um grupo de células descobertas pela equipe do neurobiólogo Giacomo Rizzolatti, e que parecem estar relacionadas com os comportamentos empáticos, sociais e os imitativos. Sua missão é refletir a atividade que nós estamos observando.
Um simples exemplo de um corte com papel sulfite, no qual se pinga uma gota de limão, nos afeta como se fosse nós.
A boa notícia da neurociência é que dada à nossa plasticidade cerebral se pode aprender a ser empático.
O historiador de culturas Roman Krznaric (2015), na sua obra o Poder da Empatia, cita o jornalista e erudito inglês Wright, que compreende empatia diferentemente do senso comum que é “tratar as pessoas do jeito que gostaríamos que nos tratassem”. Não é disso que tratamos, diz Krznaric (2015), “mais importante é tratarmos as pessoas como elas gostariam de ser tratadas”.
Ele afirma que não está falando sobre empatia no sentido literal de compartilhar as emoções das pessoas; sentir a sua dor etc., mas da capacidade de compreender e reconhecer a perspectiva do outro.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada estadual da Bahia de 1991 a 1999. É fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira e Psicanalista filiada à Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP.