Época aguardada por muitos, as festas típicas retomam as tradicionais disputas de dança nas regiões administrativas do DF
Após dois anos sem festas de São João em decorrência da covid-19, as tradicionais apresentações de quadrilhas prometem, em 2022, voltar surpreendendo o público brasiliense. Os grupos costumam travar acirradas disputas pelo título campeão da Liga das Quadrilhas Juninas do Distrito Federal. Esperando apenas o momento de acender as fogueiras, caprichar no balançar de saias e bater de botas, os dançarinos juninos vão se apresentar em locais públicos de oito regiões administrativas. Com isso, os preparativos se intensificam.
Atual bicampeã do grupo especial do Distrito Federal e última vencedora do circuito nacional de quadrilhas do Brasil em 2019, a Si bobia a gente pimba, de Samambaia Sul, quer iniciar o campeonato de 2022 com o pé direito, e pretende fazer um arraiá de encher os olhos do público e dos jurados para conquistar o tão sonhado tricampeonato seguido na capital federal. “Festa junina é o momento de colheita, ou seja, é o momento de levarmos ao público a nossa mensagem, propósito e espetáculo.
Queremos, além de tudo, tocar o coração de quem assiste a nossa mensagem através do São João”, disse a coordenadora e noiva da quadrilha, Lethícia Martins, de 31 anos.
Completados 30 anos de fundação no último dia 28, o grupo pretende continuar contando histórias que possam sensibilizar o público, principalmente após o fim do estado de calamidade pública em Brasília. Segundo a noiva, a equipe — composta de 150 integrantes — trata 2022 como um ano de renascimento depois dos momentos difíceis de pandemia. “É como um respiro depois de dois anos sufocados. É uma oportunidade de valorizar muito mais a nossa arte e o nosso amor por esse trabalho, que fazemos com tanto esforço e dedicação, e que ficou prejudicado pela pandemia”, conta. O tema que será desenvolvido pelos dançarinos para defender o título é guardado a sete chaves por Lethícia.
Do outro lado do DF, quem pretende brigar pelo título, e também almeja o tricampeonato, são os integrantes do Arroxa o nó, do Paranoá. Com o tema: Picote corte no papel picado, o grupo pretende tirar o fôlego do público com as apresentações. De acordo com o presidente da quadrilha, Wagner Teixeira, a vice-campeã do último circuito lida com muita delicadeza a retomada do arraiá no DF, mesmo com a ansiedade da equipe, composta por 100 integrantes, em reencontrar o calor do público brasiliense.
“Nos adaptamos, reinventamos e estamos fazendo um preparativo intenso, com ensaios de quadra cheia, onde podemos reencontrar todo o grupo e viver a correria dos ensaios, que é de muita emoção. E, ainda, saber que logo estaremos com nosso trabalho pronto em arraiás, fazendo o que amamos e sentindo todo o carinho e energia do público, que tanto nos fez falta. Em apresentações on-line, por exemplo, sabíamos que o público estava por trás da tela, mas não podíamos vê-lo. Será incrível o reencontro”, comemora.
Reunindo tradição local e a vontade de fazer história em meio a tantas concorrentes do grupo de acesso da liga de quadrilhas, a equipe Eita bagaceira, de Ceilândia, é a novata no campeonato deste ano. Para realizar o sonho e conquistar os corações dos brasilienses nas etapas, garantindo uma vaga no grupo especial de 2023, eles apostam na referência da cultura nordestina, principalmente no casamento junino. “Nosso tema será Casamento junino num caldeirão cultural nordestino. É a história de como um mestre de cultura popular guardou o São João dele, com todas as suas referências e elementos. O caldeirão provoca em alegria e cor, ritmo e movimentação”, conta o presidente Johnni Sousa.
Como funciona o campeonato
Canjica, quentão, pé de moleque, arroz doce, bolo de fubá e muito arraiá. Para muitas pessoas, a época de festas juninas é um reencontro com as comidas típicas, além das tradicionais brincadeiras, música e literatura de cordel. Entretanto, para quem aguarda o ano inteiro pelas competições, ainda mais depois de dois anos de pandemia, pisar na quadra e dançar é o grande momento. O organizador e presidente da Liga de Quadrilhas do DF e Entorno, Márcio Nunes, destacou, ao Correio, que a largada da competição será após uma sessão solene na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em 20 de maio.
Assim como no carnaval, os participantes da liga são divididos em duas divisões: grupo especial e grupo de acesso. No especial, 14 quadrilhas lutam para vencer o prêmio mais desejado do circuito do DF e Entorno, que dá vaga para a competição nacional representando a capital federal. No de acesso, 14 equipes disputam três posições para subir de divisão. As apresentações ocorrerão nos fins de semana, em locais públicos.
“Quatro cidades terão o grupo de acesso e quatro cidades terão o especial. As 14 quadrilhas da divisão de acesso vão se apresentar no fim de semana em cada cidade e a melhor vai somar pontuação e, ao fim das quatro etapas, é a campeã da divisão. O mesmo ocorre na categoria especial, com a diferença que o vencedor vai para Belo Horizonte (MG), disputar o título nacional. Com três quadrilhas subindo, três se despedem no grupo de acesso e são rebaixadas. É igual futebol”, detalhou.
Ao todo, seis quesitos são avaliados por um corpo de jurados escolhidos por seus perfis técnicos. Os quesitos são os mesmos de outros estados: coreografia, marcação, figurino, animação, casal de noivos e repertório musical. As quadrilhas do DF passarão por: Santa Maria, Paranoá, Sobradinho, Ceilândia, São Sebastião, Samambaia, Cruzeiro e Taguatinga. “O casal de noivos, um dos mais concorridos quesitos do campeonato, será aquele que mais somar pontos na avaliação dos jurados. O vencedor desse quesito dirá muito de quem será campeão”, explica Márcio. A primeira etapa do grupo de acesso acontece em Santa Maria, em 29 e 30 de maio, já a categoria especial se apresenta em 5 e 6 de junho, no Paranoá.
Como vai ser a organização
Procurados, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Arquidiocese de Brasília e a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) afirmaram que as unidades e paróquias terão autonomia para definirem se farão ou não as festividades juninas em 2022. (CB)