Maria José Rocha Lima
O vice-presidente Hamilton Mourão está certo quanto à condenação da invasão da Rússia ao território Ucraniano, numa ofensiva que poderá abrir precedente para a invasão de outros países. Os países do Ocidente não podem se omitir frente à tamanha barbaridade, uma vez que conhecemos a sanha e o totalitarismo dos governantes russos, por poder e dominação. Acabei de assistir, no JN, assombrada um tanque de guerra passar por cima do carro de um civil, sem dó nem piedade. E mesmo após a tentativa de socorro de alguns civis, que buscavam retirar o motorista da ferragem, o tanque repetiu a ação de esmagar o carro e o seu ocupante.
Só não fiquei mais devastada com aquela terrível atrocidade, porque havia lido sobre o estudo do mal, Ponerologia: Psicopatas no Poder de Andrew Lobaczewiski, que viveu no meio de um regime de psicopatas, na Polônia, durante os tempos da ditadura Soviética. E entre outras constatações um grupo de cientistas de vários países do Leste Europeu descobriu que isso acontece não porque a psicopatia seja contagiosa, mas porque aquela mente menos ativa que, meio ao turbilhão, vou se adaptando às novas regras e valores, se tornam presas de uma sintomalogia absolutamente histérica. O histérico não diz o que sente, mas passa a sentir aquilo que disse – e, na medida em que aquilo que disse é a cópia de fórmulas prontas espalhadas na atmosfera como gases onipresentes, qualquer empenho de chamá-lo de volta às suas percepções reais abala de tal modo a sua segurança psicológica, seu falso self, que passa a ser recebido como uma ameaça, um insulto, uma agressão.
Quando se trata do mal nos vem à mente, na história dos últimos cem anos, regimes cada vez mais assassinos, numa tenebrosa sequência de psicopatas detentores de muito poder: Hitler, Stálin, Mao, Pol Pot, Castro, Kin Jong-um, entre outros.
Cientistas de várias áreas do conhecimento têm tentado responder a essas perguntas, especialmente depois das duas guerras mundiais, pensavam que tinha ficado a lição guerras nunca mais. Um grupo de especialistas do Leste Europeu, dentre estes Andrew Lobaczewski um expert no estudo da psicopatia buscaram respostas, muitos foram mortos e tiveram as suas anotações destruídas pelos governos totalitários.
Na apresentação da obra Ponerologia; Psicopatas no Poder Flávio Quintela (2014) fala das descobertas sobre esses psicopatas que vêm promovendo tragédias, genocídios, massacres, guerras. Para o autor, uma questão que precisava ser respondida: “o que leva o homem a cometer tamanhas atrocidades deixando na história rastros indeléveis de maldade e sofrimento? O que permite a vazão do mal por dentro dos grupos e das sociedades a ponto de fomentar as mais nefastas manifestações da maldade, que o homem comum não tem condição de compreender?”
Para responder a essas questões o próprio Lobaczewski teve que refazer seu trabalho três vezes: a primeira versão da obra foi queimada por ele mesmo para escapar das buscas efetuadas em sua casa pela polícia secreta,a segunda versão perdeu-se nas mãos de um turista que havia prometido levá-lo para fora da Polônia; a terceira versão foi possível graças a reconstituição satisfatória de dados.
Andrew Lobaczewski trabalhou na Polônia, longe dos centros políticos e culturais por muitos anos. O nome do cientista que reuniu as pesquisas, testes ficou mantido em segredo. Lobaczewski migrou para os Estados Unidos e recebia contribuições de cientistas da Hungria, Polônia, etc.
A síntese esperada, segundo ele, não aconteceu. Todos os contatos se tornaram inoperantes como resultado de uma onda pós- Stálin de repressão e de prisões secretas de pesquisadores no início da década de sessenta. O item mais característico do meu trabalho é o conceito geral de uma nova disciplina chamada “Ponerologia”, segundo Andrew Lobaczewski.
Ponerologia, o estudo do mal, do grego poneros (malícia, maldade)é a ciência da natureza do mal adaptada a propósitos políticos. O termo foi cunhado pelo psiquiatra polonês Andrzej M. Łobaczewski, que estudou como os psicopatas influenciam no avanço da injustiça e sobre como abrem caminho para o poder na política.
Mas o que o expert em psicopatia Lobaczewski e seus colaboradores descobriram foi que “só uma classe psicopatas tem a agressividade mental suficiente para se impor a toda uma sociedade por esse meios”. Descobriram também que, quando os psicopatas dominam, a insensibilidade moral se espalha por toda a sociedade, roendo o tecido das relações humanas e fazendo da vida um inferno. E ainda, descobriram que isso acontece não porque a psicopatia seja contagiosa, mas porque aquelas mentes menos ativas que, meio às tontas, vão se adaptando às novas regras e valores, se tornam presas de uma sintomalogia claramente histéria, ou histeriforme.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutora em educação e psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Diretora administrativa da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise. Membro da Soroptimist International SI Brasília Sudoeste.