Maria José Rocha Lima*
Na obra Ponerologia – Psicopatas no Poder -, Andrew Lobaczewski, em tradução brasileira de Adelice Godoy, são apresentados resultados de estudos realizados desde a década de 1920, mas só publicados em 2006, no Canadá, e em 2014, no Brasil, numa tentativa de responder a essa onda avassaladora de insanidades e defesa do mal como se fosse o bem e explicar a inversão de valores que temos assistido.
Muitos estão a perguntar o que aconteceu e acontece com tantas pessoas, muitas dessas com alto nível de formação, para que adorassem e adorem ainda governos mais corruptos, mais perversos e genocidas do mundo?
Andrew Lobaczewski conta, na obra Ponerologia: Psicopatas no Poder, que, “sessenta e tantos anos atrás, alguns estudantes de medicina na Polônia, na Hungria e na Checoslováquia começaram a notar que havia algo de muito estranho no ar. Eles haviam lutado na resistência antinazista junto com seus colegas, e isto havia consolidado laços de amizade e solidariedade que, esperavam, durariam para sempre. Aos poucos, após a instauração do regime comunista, novos professores e funcionários, enviados pelos governantes, estavam alterando profundamente o ambiente moral nas universidades daqueles países”. Naquela época, um jovem psiquiatra escreveu: (…) sentíamos que algo estranho tinha invadido nossas mentes e algo valioso estava se esvaindo de forma irreparável. O mundo da realidade psicológica e dos valores morais parecia suspenso em um nevoeiro gelado. Nosso sentimento humano e nossa solidariedade estudantil perderam seus significados, como também aconteceu com o patriotismo e nossos velhos critérios estabelecidos”.
O autor registra que entre esses estudantes havia questionamento e perplexidade. E prossegue, contando: “então, nos perguntamos uns aos outros: ‘isso está acontecendo com você também?”. Impossibilitados de reagir, eles começaram a trocar ideias, perguntando como poderiam se defender da devastação psicológica geral. Aos poucos essas conversações evoluíram para o plano de um estudo psiquiátrico da elite dirigente comunista e da sua influência psíquica sobre a população. O estudo prosseguiu em segredo, durante décadas, sem poder jamais ser publicado. Aos poucos os membros da equipe foram envelhecendo e morrendo (nem sempre de causas naturais), até que o último deles, o psiquiatra polonês Andrej (Andrew) Lobaczewski (1921- 2007) reuniu as notas de seus colegas e compôs o livro que contém parte dos estudos que mostravam que “o mal era o traço dominante no caráter dos novos dirigentes, que davam o modelo de conduta para o resto da sociedade, isto representava inequivocamente a psicopatia”.
O doutor Lobaczewski e seus colaboradores descobriram que só uma “classe de psicopatas” tem a agressividade mental suficiente para se impor sobre toda uma sociedade por meios truculentos; às vezes aparentando sofisticação, cedendo nas questões morais, para arrochar nas questões econômicas; descobriram que, quando os psicopatas dominam, a insensibilidade moral se espalha por toda a sociedade, roendo o tecido das relações humanas e fazendo da vida um inferno; descobriram que isso acontece não porque a psicopatia seja contagiosa, mas porque aquelas mentes menos ativas que, meio às tontas, vão se adaptando às novas regras e valores, se tornam presas de uma sintomatologia claramente histérica. E o histérico não diz o que sente, mas passa a sentir aquilo que disse – e, na medida em que aquilo que disse é a cópia de fórmulas prontas espalhadas na atmosfera como gases onipresentes, qualquer empenho de chamá-lo de volta às suas percepções reais abala de tal modo a sua segurança psicológica emprestada que acaba sendo recebido como uma ameaça, uma agressão, um insulto. “É assim que um grupo relativamente pequeno de “líderes psicopáticos” destrói a alma das nações”.
Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em Educação. Deputada Estadual de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista associada à Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP.