Maria José Rocha Lima*
Teve início ontem o atendimento de crianças do Projeto Doutora Sorisso, que visa à realização de Jornadas de Promoção da Higiene e Atendimento Odontológico para a Saúde Bucal de Crianças na Primeira Infância, junto a entidade da sociedade da civil que atende crianças no Distrito Federal.
O Projeto Doutora Sorriso tem como principal motivação o desejo da odontóloga Patrícia de Castro de socorrer as crianças das classes populares, que sofrem com as terríveis dores provocadas por cáries dentárias; promover o bem-estar destas crianças pequenas e o convívio social, devolvendo-lhe o sorriso perdido pela afetação por cáries ou perda precoce dos dentes.
O próprio nome do Projeto Doutora Sorriso teve origem no pedido de socorro de uma criança que disse:
“Doutora, eu tenho vergonha de sorrir, porque meus dentes estão feios”.
O projeto vem suprir as enormes carências da população mais vulnerável, que não encontra atendimento no Sistema Público de Saúde. E quando o atendimento ocorre é extremamente precário, demorado, ineficiente e inacessível à população trabalhadora, que não dispõe de tempo e transporte para as inúmeras idas e vindas. Sem falar que essa demora no atendimento prolonga o sofrimento de muitas crianças com dores de dentes, levando a família a solicitar a extração dos dentes, muito precocemente. A própria ineficiência do sistema de saúde resulta na implementação da cultura de arrancar os dentes.
A baixa escolaridade da população e os elevados custos dos tratamentos dentários tornam esses serviços inacessíveis à população de baixa renda. É muito alto o número de crianças das classes populares que apresentam dentes cariados, já nos primeiros anos de vida, na mais tenra idade.
As crianças deveriam, ainda pequenas, aprender a escovar os dentes com os seus pais e descobrirem o valor deste hábito para uma vida saudável e para o sorriso, tão necessário ao convívio social. Desde o nascimento deve ser desenvolvido o hábito de higienizar a cavidade bucal da criança. Isso é importante para evitar problemas de saúde como as cáries e infecções, que podem ocorrer caso essa higiene não seja realizada após a amamentação.
A escovação deve ser realizada pelos pais ou responsáveis, desde quando aparecem os primeiros dentinhos. Nos primeiros anos, a escovação e o fio dental devem ser ensinados de forma motivada, com ações lúdicas, sempre que possível. Também os hábitos alimentares com pouco consumo de carboidratos e açúcares devem ser adotados, a fim de uma melhor saúde bucal. Incluindo pequenos hábitos na rotina das crianças, é possível evitar problemas futuros, como uma dolorosa cárie, a perda precoce dos dentes e problemas sociais como o bullying.
Uma questão muito séria no tratamento de crianças pequenas é que não se tem a certeza de resultados absolutos, uma vez que estes dependem da educação dos seus pais. O ideal seria que o Projeto Doutora Sorriso criasse simultaneamente um pacote de atendimento solidário para os pais e irmãos, com vistas à implementação da cultura da higiene bucal na família. Bons exemplos e atividades recreativas durante o uso são fundamentais. Para Patrícia de Castro, “é sempre um desafio fazer com que uma criança pequena adquira hábitos higiênicos. O melhor é demonstrar a importância da higiene bucal na prática. Os filhos espelham os seus pais, acredita – se que o estímulo começa com as atitudes destes”.
*Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira, membro da Soroptimist International SI Brasília Sudoeste e Sócia Benemérita da Hora da Criança.