Um consórcio internacional para a construção de um dos três telescópios gigantes que estão sendo planejados para os próximos anos está buscando o apoio do Brasil para ser concretizado. O Giant Magellan Telescope (GMT) – que deve ser instalado no Observatório Las Campanas, no Deserto do Atacama, no Chile – deve ter um espelho de 25 metros e apresentar uma resolução dez vezes maior do que a do telescópio espacial Hubble.
Hoje, o consórcio que gerencia o projeto já reúne 9 parceiros, entre eles instituições dos Estados Unidos, da Austrália e da Coreia. Mas, para financiar o projeto completo, são necessários outros três sócios. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) está atualmente avaliando a possibilidade de desembolsar uma quantia equivalente a R$ 115 milhões (ou US$ 50 milhões) para ter uma participação de 5% no consórcio.
Como contrapartida, pesquisadores do estado de São Paulo cujos projetos têm apoio da Fapesp ganhariam o direito de utilizar parte do tempo do GMT quando ele entrar em funcionamento, o que deve começar a ocorrer em cerca de 10 anos. A função de telescópios da classe do GMT é identificar com detalhes as características de planetas e fenômenos cada vez mais distantes no universo.
Na última semana, representantes do projeto GMT vieram a São Paulo para participar de um workshop promovido pela Fapesp para apresentar detalhes do telescópio gigante para a comunidade científica do país. Pesquisadores brasileiros da área de astronomia também apresentaram seus estudos durante o evento e demonstraram de que maneira o acesso ao GMT poderia contribuir para seus projetos.
De acordo com o pesquisador Hernan Chaimovich, coordenador dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), da Fapesp, o workshop é uma das etapas de avaliação promovidas pela fundação para avaliar a possibilidade de apoio. Ele observa que a primeira etapa de análise, já concluída, foi submeter o projeto ao crivo de pesquisadores de todo o mundo, o que resultou em um “excelente parecer”, segundo ele.
Mas ainda restam, segundo Chaimovich, algumas questões a serem esclarecidas antes de a Fapesp fechar o apoio, como ter garantias de que os pesquisadores brasileiros terão acesso adequado ao GMT e de que a chance de sucesso na construção do telescópio supere os potenciais riscos. “É preciso ter claro de que maneira a participação no projeto vai beneficiar as pesquisas realizadas no estado de São Paulo e se os riscos devem valer a pena para o contribuinte paulista”, disse o pesquisador durante o evento.
A Fapesp afirma que ainda não há previsão de quando será concluída a avaliação do projeto ou anunciada a decisão final da fundação.
Existem outros dois projetos de telescópios gigantes no mundo: o European Extremely Large Telescope (E-ELT) e o Thirty Meter Telescope (TMT). O Brasil ainda decide atualmente se vai ou não ser um dos parceiros no projeto do E-ELT, coordenado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO). Em 2010, o então ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, assinou o contrato de adesão, mas o processo ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional.
Caso a participação brasileira seja aprovada, o custo de adesão inicial que o Brasil deve quitar é de 130 milhões de euros, fora as contribuições anuais que já passaram a ser contabilizadas desde 2010.
Para o astrônomo Cássio Barbosa, professor da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), seria importante que o Brasil aderisse ao consórcio do GMT. “Neste momento, estamos em decisão sobre entrar no consórcio europeu (do E-ELT) ou não. O que está acontecendo é que todos os consórcios para telescópios gigantes estão encerrando as adesões. Se o Brasil não tomar uma decisão rápida, corremos o risco de perder essa onda de novos telescópios e passar talvez 20, 30 anos para que venha a próxima onda de projetos”, diz.
Barbosa explica que, atualmente, os pesquisadores brasileiros têm acesso a telescópios de 8 metros, que são considerados muito grandes. A próxima geração de telescópios, que são os gigantes, tem entre 25 metros (o GMT) e 39 metros (o E-ELT).
“Eles servem para ver as coisas em detalhes muito maiores. Com esse telescópio, teria como observar planetas do tipo da Terra, muito próximos a estrelas, que tivessem condições de desenvolver vida. Ou então ir cada vez mais longe, no fundo do universo e ver as primeiras galáxias se formando e ir voltando no tempo para ver como o universo começou a brilhar.”
Para a pesquisadora Wendy Freedman, presidente do GMT, o projeto tem poucos riscos, já que os principais desafios técnicos já foram superados. O telescópio será constituído por 7 espelhos primários com 8,4 metros de diâmetro cada um. Cada um dos espelhos primários terá um espelho secundário correspondente, de diâmetro menor. O primeiro dos espelhos já foi desenvolvido, polido e testado. Dois outros espelhos estão em processo de fabricação e o material do quarto espelho já foi comprado.
“Nós já testamos os componentes primários de engenharia que serão usados no telescópio. Em termos de seu diâmetro, ele é menor. Por isso, no total, ele tem o menor custo e os menores riscos técnicos em comparação com os outros projetos”, diz Wendy.
Ela afirma que a adesão ao projeto seria importante para os jovens pesquisadores brasileiros. “Haverá no máximo três telescópios gigantes no mundo e este estará na primeira linha. Será uma oportunidade incrível, especialmente para os astrônomos mais jovens do Brasil, que poderão estar na primeira linha da Astronomia.”