Maria José Rocha Lima*
O Projeto Curta Maria é um dos projetos educacionais mais bem sucedidos no enfrentamento da violência doméstica no Distrito Federal, em sete anos de execução. Ele é constituído por jornadas para produção de vídeos sobre a Lei Maria da Penha – por um mundo sem violência contra as mulheres e meninas.
O Curta Maria já realizou 24 jornadas, nove dessas na Edição Especial de 2021, totalizando a participação direta de 2,4 mil estudantes; já alcançou 150 mulheres vítimas de violência que participavam das comissões julgadoras; e milhares de participantes das comunidades escolares, nas quais foram realizadas as jornadas. O projeto também alcançou milhares de pessoas do Distrito Federal, por intermédio da divulgação nas mídias impressas e televisivas, além da divulgação ampla nas redes sociais, a exemplo da página do Banco Mundial e da Fundação Banco do Brasil, que apoiou a 2ª jornada.
Tudo começou nos CEM 02 e 04 de Sobradinho, com o apoio da então administradora Regional de Sobradinho, doutora Jane Klébia, atualmente deputada e Procuradora da Mulher na Câmara Legislativa e criadora da Frente Parlamentar Contra o Feminicídio.
Em 2016, foi reconhecido pela Casa da Mulher Brasileira como um dos melhores projetos de enfrentamento da violência doméstica. Teve o reconhecimento da ONU Mulher, participando da abertura dos 16 Dias de Ativismo de 2017, na Câmara dos Deputados. Um dos seus monitores foi Jovem Embaixador nos EUA. Teve o reconhecimento da Procuradoria de Mulheres do Senado, sendo apresentado na Pauta Feminina do Senado Federal, difundido por todo o país.
Em 2021, numa parceria com a AV3, realizou uma edição especial comemorativa dos 15 anos da Lei Maria da Penha. Neste mês de março devemos premiar jovens de nove escolas do DF, que tiveram o processo atropelado pelo ano eleitoral.
O Projeto Curta Maria foi objeto de monografia de conclusão de Curso de Bacharelado em Direitono estado do Paraná, por uma das suas monitoras, Gislaine Villas Voas.
Na 14ª Jornada, realizada no Centro Educacional Irmã Regina Velanes Regis – CEDIRMA Brazlândia/DF, homenageamos a Miss Universo Martha Vasconcelos (1968). No ano 2000, Martha migrou para os Estados Unidos, tendo sido ativista na luta contra a violência doméstica, trabalhando com refugiadas, por quase duas décadas. Nos EUA, obteve bacharelado e mestrado em Saúde Mental e Aconselhamento, pelo Cambridge College, e foi supervisora de uma ONG de combate à violência contra a mulher, dedicando-se ao acompanhamento e aconselhamento de mulheres vítimas de abusos sexuais e violência doméstica no estado de Massachusetts, notadamente entre imigrantes das colônias brasileira e portuguesa, trabalho pelo qual foi premiada pelo governo local em 2009.
O Curta Maria mostrou-se um projeto de estratégia eficiente e eficaz: atraiu os jovens com facilidade, inovou ao introduzir como ferramenta para aprendizagem o aparelho celular e, por tudo isso, fez sucesso e prosseguiu desde 2016, sempre inovando, designando jovens vencedores de jornadas anteriores como ministradores das oficinas, sob a coordenação pedagógica de especialistas da Casa da Educação Anísio Teixeira. A atuação desses jovens é uma rara oportunidade do exercício do protagonismo. E o protagonismo juvenil é uma forma de reconhecer que a participação deles pode gerar mudanças decisivas na realidade social, ambiental, cultural e política onde estão inseridos. Participar para eles é se envolver desde a discussão, decisão, desenho e execução de ações, visando à solução de problemas reais, como as diversas formas de violência contra a mulher, seja ela física, psicológica, sexual e patrimonial, além da violência extrema: o assassinato da mulher, caracterizando o crime de feminicídio.
Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International. Sócia Benemérita da Hora da Criança.