Maria José Rocha Lima
A professora Marinalva Nunes foi vice – presidente da Associação dos Professores Licenciados da Bahia quando eu fui eleita presidente, com o vitorioso projeto Muda APLB, de expansão da entidade para todos os professores e para toda a Bahia. Formávamos uma boa dupla, na defesa dos professores baianos, reunindo combatividade, dedicação exclusiva e características de personalidades complementares: quando uma arrochava, a outra moderava. Uma parceria perfeita, que levava o movimento cada vez mais longe.
Eu conhecia Marinalva do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, onde estudamos. Nunca conheci alguém tão autêntica como a professora Marinalva Nunes, filha de Corujinha, apelido carinhoso do seu amado e admirado pai, da cidade de Maragogipe, no Recôncavo Baiano, que ela fazia questão de nos lembrar. Nós nos identificávamos fortemente pela combatividade e a independência em relação aos governantes, o que nos diferenciava de outras lideranças dos professores e funcionários públicos. Ela, juntamente comigo, entrou de cabeça no Projeto Muda APLB, aliás, se integrou à luta um pouco antes, quando começamos o Grupo de Fortalecimento da APLB, que começou com o Movimento dos Professores Primários. Na APLB, Marinalva se aplicava nos cálculos de perdas salariais, se especializando nos estudos jurídicos, no aperfeiçoamento do estatuto; sempre atenta à questão patrimonial. Estava sempre ligada na luta para a aquisição da sede própria, no que fomos vitoriosas.
A professora Marinalva coordenava a Zonal do Bairro de Brotas, que tinha base no Colégio Luiz Viana Filho, uma organização de vanguarda, combativa da cidade de Salvador. Certa vez, conversávamos por telefone quando ela me lembrou: nas escolas onde os professores temiam represálias de ACM, por participação nas greves, a zonal dava uma ajudinha, colocando Durepox nos cadeados dos portões de entrada. E as duas rimos, a valer. A zonal de Brotas era um celeiro de grandes quadros que, como ela, conquistaram a confiança dos professores e não negava fogo. Ali, tínhamos professores renomados como Jair Brito (foi secretário municipal de educação); Tia Miquita, uma das mais antigas e respeitadas professoras do Luiz Viana; professora Celsa Maria Ribeiro (que foi a primeira diretora eleita pelos professores do Luiz Viana); o professor José Honório Cardoso e a professora Elizete.
Recentemente, lendo o dossiê feito pelo SNI sobre a minha atuação política e rememorando aqueles momentos de desabridas coragem e ousadia, até de certa imprudência bem característica da juventude, ou dos neófitos, como eu e a professora Marinalva, consigo entender por que assustávamos os políticos baianos. O Poder Político é constituído por uma rede tão intrincada, tão cheia de nuances, de parentescos, de interesses pessoais e de tantos interesses… Uma professora desassombrada, como eu, espantava os que tivessem “conflitos de interesses”. Esta característica não combinava com partidos que funcionavam com práticas centralizadas, principalmente quando se aliavam aos governantes. Embora eu já desconfiasse de manobras diversionistas, que escondiam os tais conflitos de interesses, nome da moda para interesses menos nobres, era mais discreta na crítica. Já a professora Marinalva escancarava as suas insatisfações, rebelava-se nas escolhas de candidatos em eleições, pecado mortal e que teve como consequência a sua não indicação para a minha sucessão, na presidência da APLB. Aliás, a turma fez tudo para nos dividir, para reinar, porque a dupla ficou indomável. Mas ainda bem que as duas não sucumbimos e continuamos dando o nosso recado, cumprindo a nossa missão: eu, inicialmente como deputada por dois mandatos e posteriormente como consultora da educação, levando adiante a luta pelo FUNDEB, exercendo cargos executivos no Ministério da Educação e atualmente presidindo a Casa da Educação Anísio Teixeira; e a professora Marinalva, criando a Associação Classista de Educação e Esporte da Bahia – ACEB e sendo uma guardiã das conquistas dos professores, especialmente dos aposentados, e dos funcionários públicos da Bahia. A ACEB vem se consolidando não apenas com a missão de promover a educação profissional, mas na defesa dos professores e funcionários aposentados, dos segmentos mais desamparados. Também em defesa dos professores com mais tempo na carreira, que vêm sendo massacrados nos planos de carreira, que achatam os seus salários, por meio de manobras estatutárias diabólicas.
A ACEB conta, ainda, com o extraordinário trabalho de
Anne Cristina, filha de Marinalva, e do grande Marcelo Ramos, genro, que se tornou um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro e nessa pandemia tem socorrido milhares de baianos, levando adiante a bandeira da luta contra a fome, por justiça, igualdade e solidariedade.
Obrigada, Professora Marinalva!
*Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 19991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira.