Segundo o promotor Jacob Gutwillig, o tráfico da droga era para os Estados Unidos
(crédito: ORLANDO SIERRA / AFP)
O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, ajudou a traficar milhares de quilos de cocaína para os Estados Unidos, disse nesta terça-feira (9) um promotor nas alegações iniciais do julgamento federal contra o suposto traficante de drogas Geovanny Fuentes, em Nova York.
O promotor Jacob Gutwillig disse ao júri que Fuentes “inclusive subornou o presidente de Honduras” e se tornou “intocável” como resultado dessa associação. “O presidente o tornou à prova de balas”, declarou.
Em 2013 e 2014, Fuentes pagou subornos por um total de “25.000 dólares em notas com o dinheiro da droga” ao atual presidente, em troca de proteção “e algo mais valioso: acesso ao laboratório da droga do acusado” nas montanhas de Honduras, acrescentou.
O promotor disse que um homem presente nessas reuniões, um contador identificado como José Sánchez, que trabalhava para uma empresa de arroz com a qual Fuentes lavava dinheiro, contará ao júri “o choque, o medo que sentiu quando viu o acusado sentar-se com o presidente”.
E vai relatar que o presidente disse a Fuentes “que levaria tanta cocaína para os Estados Unidos que ‘meteriam as drogas pelos narizes dos gringos'”. O advogado da defesa, Eylan Schulman, tentou descredibilizar o eventual depoimento do contador em seus argumentos iniciais.
“Supostamente, 25.000 dólares é o suficiente para subornar um presidente”, afirmou. O contador “tem muito a ganhar e pouco a perder” com seu depoimento, alertou, e disse que ele espera receber asilo nos Estados Unidos em troca.
A defesa também disse ao júri que não deve acreditar no depoimento que será prestado por “um dos piores assassinos na face da Terra”, Leonel Rivera, ex-líder do cartel hondurenho Los Cachiros, que matou 78 pessoas e está preso nos Estados Unidos por tráfico de drogas.
Os promotores encarregados do caso consideram Hernandéz um “co-conspirador” de Fuentes no envio de toneladas de drogas aos EUA, mas não foi indiciado na Justiça.
O irmão do presidente, Tony Hernández, 42, foi declarado culpado de tráfico de drogas “em grande escala” em Nova York em outubro de 2019, e sua sentença, adiada várias vezes, está prevista para 23 de março. Ele pode ser condenado a uma pena máxima de prisão perpétua. Os promotores afirmam que Tony era o intermediário entre Fuentes e o presidente de Honduras.
Seu advogado durante o julgamento, Melvin Bonilla, foi morto na última quinta-feira em Honduras por homens armados.
Durante o julgamento de Tony Hernández, uma testemunha contou que testemunhou uma reunião em 2013, onde o ex-chefe do cartel de Sinaloa Joaquín “Chapo” Guzmán deu um milhão de dólares em dinheiro ao réu para a campanha presidencial de seu irmão José Orlando.
O presidente de Honduras, advogado que assumiu o cargo em 2014 e está em seu segundo mandato, nega todas as acusações e se apresenta como um herói na luta contra o narcotráfico e as gangues violentas que espalham o terror no país.
Na segunda-feira, ele garantiu em sua conta no Twitter que as testemunhas que colaboraram no julgamento e que o acusam darão “falsos testemunhos” para se vingar por sua luta contra o narcotráfico e reduzir suas penas de prisão nos Estados Unidos.
Por Agência France Presse/CB