No dia em que o presidente Jair Bolsonaro volta a defender reajuste a servidores da PRF, integrantes das forças de segurança anunciam greve em Minas Gerais. Eleição e crise econômica tornam diálogo com a categoria mais difícil
(crédito: foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Base de apoio importante para o presidente da República, as forças policiais dão sinais de que querem atenção especial dos políticos no ano de eleição. Enquanto o titular do Planalto sinalizou, mais uma vez, que almeja conceder reajuste salarial apenas para uma categoria, policiais mineiros anunciaram ontem uma paralisação em Belo Horizonte. A intenção é pressionar o governador do estado, Romeu Zema (Novo), a decidir sobre o pedido da classe de recomposição salarial de 24%.
Um dos líderes dos protestos, o presidente da Associação de Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG), subtenente Heder de Oliveira, afirmou que a categoria está unida. “Ao final da assembleia [de ontem] deliberou-se por entrar em estado de greve das forças. O desenrolar disso vai acontecer até o final dessa semana. Cada entidade vai articular com seus membros”, afirmou. “Mas uma coisa é certa: vai durar até quando o governo negociar”, garantiu. Por lei, forças de segurança são proibidas de fazer greve.
Em baixa nas pesquisas, Bolsonaro faz acenos às forças de segurança, uma de suas bases eleitorais mais fiéis. No Orçamento para 2022, aprovado no final do ano passado pelo Congresso, o Planalto incluiu uma reserva de quase R$ 2 bilhões para aumento a servidores. Apesar de não haver especificado para quem seriam destinados os recursos, ficou claro que o agrado estava voltado para policiais federais, rodoviários federais e agentes penitenciários. O reajuste seletivo provocou forte reação de outras categorias de servidores.
Ante a forte reação, o presidente recuou. Mas, ontem, voltou a sinalizar a intenção de conceder o reajuste, pedindo “compreensão” da sociedade.
Valorização nacional
Desde o final do ano passado, as forças de segurança pleiteiam reajuste. As associações de classe garantem, no entanto, que não existe um movimento nacional. Segundo o presidente da Aspra-BA e diretor da Associação Nacional de Praças (Anaspra), Marcos Prisco, o protesto em Minas é pontual. “Não tem nada começando a ser planejado e não existe nenhuma articulação nacional. As realidades locais são bem distintas, ainda que os pleitos sejam semelhantes”, disse ao Correio.
“O que precisamos é de uma política nacional voltada à valorização do profissional de segurança pública. Mas, enquanto isso não acontece, os governos se aproveitam disso para não atender nossos pleitos e para jogar a gente contra a sociedade e nos oprimir”, comentou.
Para Prisco, é natural que os governadores fiquem em estado de alerta porque, segundo ele, não tratam a segurança pública como deveria ser tratada. “Esse movimento em Minas pode aguçar os sentimentos em outros estados — por conta da similaridade das pautas —, mas não tem uma organização pronta ou alerta as outras entidades de outros estados”, disse.
Em Sergipe, a movimentação dos profissionais de segurança é por causa do adicional de periculosidade e da reestruturação da carreira. Neste ano, os policiais vêm fazendo manifestações e encontros em frente à Assembleia Legislativa de Aracaju desde a semana passada e pretendem continuar, com ato marcado para o próximo dia 24. Com o Movimento Polícia Unida, a categoria sergipana já pleiteia os adicionais há cerca de um ano e meio.
Apesar dos protestos, o cientista político Tiago Valenciano não crê em motim. “É mais uma manifestação em busca de reposição ou reajustes. O protesto de Minas reflete a situação da maioria das corporações nacionais, que precisam de ajustes salariais e melhores condições de trabalho”, observa. “Claro que, em ano eleitoral, toda movimentação de grupos organizados pode soar como anúncio do período de eleição, mas é preciso entender as pautas e separar o que virá do que está acontecendo”, ressalta.
O cientista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, também não vê risco. “Eu não acredito que isso seja motim e que isso vai ser utilizado do ponto de vista eleitoral. Mas, óbvio, que esses servidores sabem que têm um timing para pedir esse reajuste porque a lei eleitoral impõe esse limite e eles vão, junto a outras categorias, tentar esse reajuste”, aponta.
Em nota, Romeu Zema reconheceu a necessidade da recomposição salarial do funcionalismo público mineiro e a importância das Forças da Segurança para o estado. O governador ressaltou o reajuste concedido em 2020 e afirmou que os policiais “foram os primeiros profissionais a receberem o salário em dia”.