Os criminosos falsificavam decisões judiciais, em um esquema que desviou mais de R$ 3 milhões dos cofres públicos. Segundo as investigações, a quadrilha é chefiada por Willian Euclides Gomes Pereira, formado em Direito.
Para a polícia, os seis criminosos presos em Campinas são responsáveis por aplicar golpes em pelo menos 50 prefeituras — sempre usando decisões judiciais falsas.
O esquema funcionava assim: os bandidos ligavam e depois enviavam e-mails para as prefeituras simulando documentação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal — o símbolo, os termos jurídicos da cobrança, tudo parecia real, mas era falso. Os criminosos cobravam dívidas que variavam entre R$ 4 mil e R$ 65 mil reais.
“O golpe foi muito bem aplicado, a sentença era muito bem escrita, provavelmente eram pessoas que têm conhecimento do direito”, diz Victor Afonso Alves, procurador geral de Jandaíra.
O procurador de Jandaíra, na Bahia, conta que no ano passado um suposto funcionário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ligou e disse que a prefeitura devia quase R$ 7 mil, que seria uma dívida antiga com uma empresa de telecomunicações. O município recebeu a decisão judicial falsa por e-mail.
“Os termos técnicos usados na sentença eram surreais, como se fossem realmente elaborados por profissionais técnicos do poder judiciário”, afirma o procurador.
Os golpistas enviavam as cobranças por boletos bancários — sem qualquer identificação de que o pagamento seria para a Justiça. Foi assim que a prefeitura de Ribas do Rio Pardo, no Mato Grosso do Sul, fez pagamentos. O dinheiro caiu direto na conta dos bandidos.
“Em hipótese alguma, eu quero deixar bem claro, o Tribunal de Justiça vai enviar e-mail ou telefonemas pedindo para que vocês paguem boleto. Não existe isso de pagar boleto”, esclarece o juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Márcio Evangelista.
Chefe da quadrilha é formado em direito, diz polícia
A polícia estima que em três anos o prejuízo aos cofres públicos passou de R$ 3 milhões. Segundo as investigações, a quadrilha é chefiada por Willian Euclides Gomes Pereira, de 39 anos, formado em Direito, e conta com a participação de mais cinco pessoas.
Na última sexta-feira, 12, mais de 30 policiais civis do Distrito Federal e de São Paulo surpreenderam os criminosos em Campinas, onde eles cumprem seis mandados de busca e apreensão.
Quando algum funcionário das prefeituras ligava para os números que constavam nas falsas sentenças, quem atendia eram os próprios bandidos, e fingiam trabalhar no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Segundo as investigações, uma vez por semana os estelionatários se reuniam no escritório do crime para aplicar os golpes. A polícia já revirou tudo, inclusive encontrou telefones que funcionavam como uma central telefônica para enganar as vítimas. Descobriram que eles usavam um sistema para forjar as ligações.
“Eles realizam as ligações por uma conexão digital, e nesse sistema é possível que escolham o número, se eles querem o DDD 61, DDD 11, qualquer DDD, qualquer número”, afirma a delegada.
Os policiais também apreenderam notebooks, um cofre, máquinas de cartões de crédito e celulares usados pelos criminosos. Os presos foram trazidos para a divisão de investigação criminal de Campinas, e interrogados por quatro horas. Depois, todos foram indiciados por estelionato qualificado e associação criminosa.
De acordo com João Alfredo Daniezi, prefeito de Ribas do Rio Pardo, o valor pago indevidamente, seria possível comprar cerca de três a quatro mil testes rápidos de Covid.
“Nós temos hoje várias formas de constatar se o documento eletrônico que você está recebendo é fraudado ou não: QR code, endereço de página para confirmação. Todo documento eletrônico hoje que é um documento oficial tem que ter essa forma de constatar, de rever, de verificar se esse documento é verdadeiro” , afirma o juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
As prefeituras também têm mecanismos para identificar falsas cobranças.
“Não pague nada antes de esgotar todas as buscas, seja através da própria contabilidade da prefeitura, seja através da checagem efetiva se esse processo existe ou não”, explica o prefeito de Ribas do Rio Pardo.
Com informações do Fantástico/TV Globo