Polícia do DF reconstitui últimos passos de Odailton Charles Albuquerque Silva no CEF 410 — Foto: Reprodução
Após nove horas de um trabalho detalhado de reconstituição da morte do professor Odailton Charles Albuquerque Silva, o delegado Laércio Rossetto, que investiga o caso, afirmou pela primeira vez que trabalha com duas hipóteses: homicídio e suicídio.
“São duas vertentes que estamos trabalhando no momento: a possibilidade de ter ocorrido um homicídio e a possibilidade de ter ocorrido uma auto eliminação. É isso que nós vamos esclarecer.”
Neste sábado (15), a Polícia Civil interditou a área ao redor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410, na Asa Norte, em Brasília, onde Odailton trabalhava.
Durante o dia, 12 das 22 testemunhas que estavam na escola no dia 30 de janeiro – quando o ex-diretor passou mal – foram chamadas: a atual diretora do colégio, professores e outros funcionários.
O ex-diretor do CEF 410 morreu no último dia 4 de fevereiro. A polícia encontrou veneno de rato no corpo do educador que ficou internado durante cinco dias em um hospital.
Foto: Reprodução
Passo a passo
A reconstituição do caso começou por volta das 9h deste sábado (15) com três policiais militares. Eles estavam no CEF 410 no dia em que o ex-diretor foi à escola. Os militares contaram que viram Odailton no local e não perceberam nada de estranho no comportamento dele.
O delegado Rossetto disse ainda que as testemunhas negaram ter visto Odailton tomando suco de uva – como ele afirmou em mensagens de áudio para amigos.
Os exames, confirmaram que o ex-diretor morreu envenenado por um raticida. O mesmo laudo, no entanto, não constatou a presença de suco de uva no corpo de Odailton.
A polícia, então, pediu novos exames para descobrir se havia vestígios do veneno em outras partes do corpo dele e, assim, saber se o professor teve contato direto com o produto.
O laudo com o resultado fica pronto em 30 dias e vai ser anexado ao inquérito.
O que se sabe e o que falta saber sobre a morte do professor
O que se sabe:
- O caso é investigado como homicídio e suicídio;
- O laudo da perícia confirma que o professor foi envenenado com um raticida conhecido como chumbinho;
- A substância aldicarb foi encontrada no sangue e no vômito da vítima;
- A substância aldicarb causou a morte do professor e foi ingerida dentro da escola;
- Os peritos do Instituto de Criminalística também encontraram traços de relaxante muscular nos materiais biológicos do professor. No entanto, não foram localizados traços do suco de uva;
- A direção da escola nega que algum colega tenha oferecido suco ao professor envenenado.
O que falta saber
- Odailton teve contato direto com chumbinho?
- Há resquícios de veneno nas mãos do professor?
- O suco de uva foi oferecido por alguém?
- Onde está a garrafa mencionada por Odailton em áudio?
- Por que nas roupas e no vômito do professor não há resquícios de suco de uva?
- Quais os remédios ingeridos pelo professor?
- Existe suspeita de irregularidades na prestação de contas da escola?
Cronologia do caso
- 30 de janeiro
Odailton Charles Albuquerque Silva foi ao CEF 410 Norte. Ao chegar na escola – entre 12h e 12h30 – segundo ele, encontrou uma funcionária. De acordo com áudio enviado a uma amiga, ele teria bebido um suco de uva oferecido pela colega. Em seguida, conforme a gravação, o ex-diretor começou a passar mal e foi levado ao Hran. Médicos analisam o quadro de saúde como grave e a mulher dele registrou ocorrência na 2ª DP, como tentativa de homicídio. - 31 de janeiro
A esposa de Odailton voltou à delegacia para prestar depoimento e entregou uma bolsa térmica com gelo e as roupas usadas pelo marido no dia anterior. A mulher também mostrou os áudios enviados por Odailton a colegas. - 1º e 2 de fevereiro
Odailton Charles continuou internado em estado grave no Hran. Policiais da 2ª DP colheram depoimentos de testemunhas e pediram que peritos do IML coletassem material biológico do professor para fazer exames toxicológicos. - 3 de fevereiro
As amostras de sangue de Odailton Charles foram entregues pelo hospital ao Instituto Médico Legal (IML). Peritos começaram a examinar as roupas do educador e o material coletado. - 4 de fevereiro
Por volta das 16h, Odailton Charles Albuquerque Silva morreu no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). O corpo foi encaminhado para necropsia. - 5 de fevereiro
Peritos do IC foram ao CEF 410 Norte com o delegado responsável pelo caso. Os investigadores fizeram um croqui do local para tentar entender o que aconteceu no dia 30 de janeiro. Segundo a polícia, as câmeras de segurança da escola não estavam funcionando. - 6 de fevereiro
Um áudio gravado por professor, no momento em que passava mal, foi divulgado. O corpo de Odailton foi enterrado no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul de Brasília. No mesmo dia, um laudo da polícia apontou a presença de veneno de rato no corpo do professor. Segundo a perícia, a substância encontrada no vômito era chumbinho. - 7 de fevereiro
Em novo áudio divulgado, o professor envenenado dizia que faria uma denúncia contra a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto, por suspeita de desvio de recursos. No mesmo dia, a direção do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 se manifestou pela primeira vez sobre a morte de Odailton. O colégio negou que algum servidor tenha oferecido qualquer líquido ao colega. - 8 de fevereiro
A Polícia Civil aguardava o resultado dos exames que deverão indicar se o professor Odailton Charles Albuquerque Silva teve contato direto com o veneno de rato. - 9 de fevereiro
A Secretaria de Educação informou que a prestação de contas do CEF 410 Norte “está em dia”. Segundo a pasta, a escola apresentou os documentos de 2009 a 2018 e os mesmos foram aprovados. Ao G1, a secretaria informou que as contas de 2019 ainda não foram apresentadas, mas “estão dentro do prazo, que corre até o final de fevereiro”. - 10 de fevereiro
Uma semana após a morte do professor, o Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410, da Asa Norte, retomou as aulas com apoio psicológico para alunos e funcionários. - 15 de fevereiro
Reconstituição da morte do professor na escola, com a presença de 12 testemunhas que estiveram no local no dia 30 de janeiro quando Odailton teria ingerido o veneno.