Para escapar do cárcere privado, vítima ligou para número de emergência da Polícia Militar, o 190, e simulou pedido de pizza
Imagem cedida ao Metrópoles/Reprodução
Após ligar para o número 190, uma mulher que estava sendo estuprada e torturada, em cárcere privado, conseguiu ser resgatada pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). O primeiro-sargento da reserva Wellington Thomas Sant’ana (foto em destaque), 57 anos, foi o responsável por decifrar que a chamada na qual a vítima fingiu encomendar pizza tratava-se, na verdade, de um pedido de socorro.
O caso aconteceu no início da madrugada de domingo (29/9). Segundo a corporação, a vítima foi violentada dentro de uma casa em Samambaia, por três dias, chegando a sofrer cortes de faca pelo corpo.
Wellington é policial militar há mais de 30 anos. Desde novembro de 2019, ele é um dos atendentes do Centro de Operações da PMDF (Copom).
Ao longo dos últimos anos, ele foi responsável por registrar diversas ocorrências que culminaram no salvamento de mulheres em situação de risco ou de violência doméstica. Na madrugada de domingo, o chamado de socorro veio disfarçado de um pedido de pizza.
“O pedido da pizza veio às 23h59 de sábado (28/9). Eu atendi o chamado de uma senhora que informou ter feito pedido de uma pizza e perguntou se ia demorar o pedido. Percebi que estava com dificuldade pra falar, peguei logo o endereço, e disse que ia enviar o pedido. Ela começou a chorar e se desesperar, momento em que suspeitei que ela estava sofrendo violência”, relembra o sargento Thomaz.
Para fugir, a mulher ligou para o 190, número de emergência da PMDF, pedindo a comida para disfarçar o chamado de socorro. O policial entendeu a senha:
– “Amiga, eu fiz o pedido de uma pizza aí e não está vindo. Eu fiz o pedido de uma pizza”, disse a mulher.
– “Como é o nome da senhora? Eu entendi que a senhora está falando. Eu vou mandar até um refrigerante geladinho, tá? Qual é o endereço completo aí senhora?”, indagou o policial, imitando um atendente, caso o agressor estivesse ouvindo a conversa.
– “É porque estou com muita fome”, declarou a vítima, emocionada.
– “Qual refrigerante a senhora vai querer?”, perguntou o militar.
– “Uma Coca-Cola. Eu estou precisando. Você pode vir logo? Eu estou com fome”, pontuou a vítima, disfarçando o pedido de socorro.
– “Está bom. Vai rapidinho, tá? É só aguardar”, completou o PM.
– “Obrigada! Obrigada! Agradeço! Gratidão”, disse a mulher, sem conseguir segurar as lágrimas.
De acordo com o sargento, após solicitar uma viatura para o endereço da vítima, não demorou 10 minutos até que ele fosse informado de que a mulher havia sido socorrida e o agressor preso.
A PMDF foi ao local, e a vítima saiu correndo de dentro de casa, informando que havia sido mantida em cárcere privado por três dias.
“Eu matei a charada de que ela estava precisando de ajuda. Pela voz, consigo identificar que a pessoa está precisando de apoio. Fui trocando o pedido da pizza, por uma solicitação de ajuda policial. Pedi prioridade na ocorrência”, conta o militar.
O agressor foi imediatamente detido e encaminhado à 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) para investigação e adoção das medidas cabíveis. Segundo a PMDF, a vítima está recebendo o suporte necessário.
Salvar vidas
O policial relata que em meio a diversos chamados de socorro, se depara com muitos trotes, que podem atrapalhar a atuação da PMDF. “Mesmo que seja trote, eu registro ocorrência. Em alguns casos, a gente ainda consegue identificar que a denúncia não procede. Salvar vidas é muito importante pra mim. É uma sensação de alegria”, reforça.
Recentemente, as orientações e atendimento do sargento também foram essenciais para salvar a vida de uma menina de 11 anos que havia sido abusada sexualmente em um bar de Santa Maria. O caso aconteceu no último 3 de setembro.
“A mãe da vítima ligou e falou que a filha estava em um bar que funcionava como ponto de prostituição. Segundo a mulher, o proprietário do lugar havia proibido a entrada dela no lugar. Pedi que ela se afastasse enquanto a viatura se deslocava para o endereço”, detalha.
O local, que funcionaria como prostíbulo de aliciamento de crianças, era frequentado pela garota para fumar e beber.
A mãe disse só ter conseguido resgatar a criança depois de acionar a Polícia Militar. Assim que foi salva, a criança contou a uma policial feminina e à genitora que foi com as amigas ao local.
Ela disse que o dono do comércio lhe ofereceu R$ 100 para praticar atos sexuais. Porém, caso não quisesse o dinheiro, poderia consumir a quantia em produtos.
A menina ainda relatou que o homem a puxou para dentro do estabelecimento, apertou e sugou os seios dela — o que deixou uma lesão na região. A vítima e a mãe foram levadas ao Instituto de Medicina Legal (IML), onde a lesão foi constatada.
O estuprador foi preso em flagrante por estupro de vulnerável e conduzido à 20ª Delegacia de Polícia (Gama). Ele já possuía diversas passagens criminosas, inclusive por estupro de vulnerável em 2013.
Com informações do Metrópoles