Dejetos foram colhidos nos últimos nove meses, em oito estações de tratamento de esgoto da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Expectativa é divulgar resultados até fim de maio.
Uma pesquisa coordenada pela Universidade de Brasília (UnB) pretende medir a circulação do novo coronavírus nas regiões do Distrito Federal, a partir de amostras de fezes retiradas da rede de esgoto. Os dejetos foram colhidos nos últimos nove meses, em oito estações de tratamento de esgoto da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb).
A Rede Covid Esgotos foi criada com o objetivo de ampliar as informações para enfrentamento da pandemia. O projeto é uma parceria da Agência Nacional das Águas (ANA) com o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT).
A pesquisa começou em abril do ano passado, em Belo Horizonte (MG), e os resultados do monitoramento na capital mineira devem ser divulgados nesta sexta-feira (16). Segundo os pesquisadores, a expectativa é divulgar os achados no DF até o fim de maio. O grupo também quer ampliar as análises para Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Curitiba.
O superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes, afirma que os dados revelam que, entre o fim do ano passado e os primeiros meses de 2021, a concentração do vírus nos esgotos na capital mineira cresceu. “Isso coincide com o estágio da pandemia, dos casos registrados pelo sistema de saúde”, destaca.
Alguns estudos já apontam a presença de partículas do coronavírus em dejetos humanos três dias após a contaminação. A metodologia também é usada em países como a China.
“É uma estratégia para que a gente possa medir a circulação do novo coronavírus na cidade. É uma forma indireta de termos uma medida da população infectada pelo novo coronavírus, tanto a população com sintomas, como, inclusive, os assintomáticos, que nos seus excretos acabam eliminando o vírus”, explica Sérgio Ayrimoraes.
A metodologia já é usada pelo Instituto de Química da UnB, em parceria com a Polícia Civil do DF, para analisar resíduos de drogas no esgoto da capital. Também é possível verificar a concentração de pesticida na rede. Com o novo uso, a ideia é antecipar ações de combate a Covid-19.
“É uma ferramenta de vigilância epidemiológica bastante importante para subsidiar as autoridades de saúde, para nortear as medidas de enfrentamento da pandemia, como, por exemplo, as medidas de isolamento social”, analisa Sérgio.
A expectativa é que, a partir da análise, seja possível, além de quantificar a carga viral, regionalizar a dinâmica da circulação do vírus, de acordo com as condições socioeconômicas no DF, já que os equipamentos de coleta ficam em pontos estratégicos das estações de tratamento de esgoto.
“Pela estimativa que a gente fez, considerando a população atendida, significa que estamos tirando amostras representativas de 80% da população”, destaca a professora do Departamento de Engenharia Ambiental da UnB, Cristina Célia Silveira Brandão, uma das coordenadoras da pesquisa.
“Quando uma pessoa faz um exame do cotonete (PCR), o teste fala se a pessoa está com Covid ou não está. Mas tem outras 10 pessoas sem sintomas e que não fizeram aquele teste. Então, quando a gente faz amostragem do esgoto, os fragmentos estão lá, independente se a pessoa teve ou não sintomas”, explica.
“Isso pode dar uma noção de como está o problema da comunidade e, principalmente, o crescimento do vírus que vai ter impacto direto no sistema de saúde”, afirma a pesquisadora.