De acordo com levantamento, mesmo percentual não aprova modelo de policiamento; entre homens, sensação de insegurança é de 50%. Estudo ouviu 1 mil pessoas.
A maioria das mulheres se sente insegura ao andar pelas ruas do Distrito Federal, aponta uma pesquisa realizada pelo grupo ObservaDF, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). De acordo com o levantamento, que ouviu 1 mil pessoas, 70% das mulheres entrevistadas não aprovam o modelo de policiamento da capital.
Entre os homens, a percepção de segurança é um pouco maior: cerca de 50% dos entrevistados do sexo masculino acreditam que o policiamento no DF é regular, ruim ou péssimo.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) informou que o enfrentamento aos crimes violentos é prioridade na pasta. Além disso, a secretaria diz que tem programas voltados para proteção da população (veja íntegra da nota abaixo).
Os pesquisadores apontam ainda que, enquanto os homens são quase duas vezes mais propícios a acharem o policiamento de rua ótimo e bom, as mulheres são duas vezes mais propensas a achar o contrário. Guilherme Viana, professor e pesquisador da UnB, diz que as entrevistadas relataram sensação de insegurança em qualquer momento. “
“Elas apontaram falta de viaturas de polícia ou disseram que conhecem alguém da família ou amiga que já sofreu algum tipo de violência”, conta o pesquisador.
Para Viana, a questão vai além da segurança pública. “Esse é um dos fatores. Existe a insegurança socioeconômica, alimentar. Essas pessoas passam mais dificuldades”, diz o docente.
Ele aponta que, por conta das atribulações, a população de baixa renda tem maior necessidade de se expor a hábitos que aumentam a insegurança, como sair de casa mais cedo e encontrar paradas de ônibus vazias, por exemplo. Para mudar esse cenário, o pesquisador acredita que os resultados do trabalho precisam ser analisados e levados em consideração na elaboração de políticas públicas.
Vítimas mais vulneráveis
O especialista em Segurança Pública Leonardo Sant’Anna explica que, de acordo com estudos, os criminosos costumam analisar o nível de risco entre o crime que será cometido e o retorno que será obtido.
“A mulher se enquadra perfeitamente nesse tipo de cenário, com um nível de risco menor e um retorno maior”, diz o especialista em Segurança Pública.
De acordo com o Sant’Anna, a chance de uma mulher reagir à abordagem de um criminoso é menor. Além disso, segundo o especialista, “elas são melhores administradoras financeiras, ou seja, a probabilidade de que andem com dinheiro e cartão de crédito, por exemplo, é maior.
A ideia de que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher” também colabora com esse cenário, segundo o especialista. “Se não é oferecido um atendimento diferenciado, a tendência é que a mulher não busque o Estado, as autoridades”, afirma Sant’Anna.
O aumento na divulgação do número de casos de crimes praticados contra mulheres, como o feminicídio, é outro fator que contribui com a sensação de insegurança.
“É o que a gente chama do fenômeno do medo, que é um grande alterador de comportamento”, diz Sant’Anna.
Números no DF
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal divulga relatórios de análise dos crimes cometidos contra mulheres desde 2016. Os delitos analisados são feminícidio, violência doméstica e violência sexual.
Em 2021, 25 mulheres foram assassinadas devido à condição de gênero. O número é 47% maior do que em 2020, quando 17 ocorrências foram registradas. Apenas o ano de 2019 (27feminicídios) supera a marca do ano passado.
Confira o número de feminicídios no Distrito Federal por ano, desde 2015, quando assassinatos de mulheres por condição de gênero passaram a ser considerados um crime específico:
- 2021: 25 ocorrências;
- 2020: 17 ocorrências;
- 2019: 27 ocorrências;
- 2018: 25 ocorrências;
- 2017: 11 ocorrências;
- 2016: 20 ocorrências;
- 2015: 7 ocorrências.
Entre janeiro e março deste ano, o DF registrou 3.909 crimes de violência doméstica, de acordo com os dados da SSP. No ano passado, o número foi 4,8%maior para o mesmo período, quando 4.105 mulheres denunciaram crimes desse tipo.
Já em relação à violência sexual, os números no primeiro trimestre deste ano também são menores que no ano passado. Até março, a secretaria recebeu 130 denúncias de estupro, enquanto 175 ocorrências foram registradas em 2021. Entre um ano e outro, a queda foi de 25,7%.
O que diz a Secretaria de Segurança Pública
“A Secretaria de Segurança Pública informa que o enfrentamento aos crimes violentos contra a vida é prioridade da atual gestão e que, por meio do programa DF Mais Seguro, principal política de segurança pública do DF, vem mantendo a redução dos crimes violentos contra a vida na capital, mesmo frente aos números históricos conquistados nos últimos três anos. Em 2021, o DF apresentou o menor índice de homicídios dos últimos 45 anos.
Nos três primeiros meses deste ano, os casos de homicídio e latrocínio marcaram redução de 23% e 21,8%, respectivamente, no comparativo com o mesmo período do ano passado. Os casos de homicídio no DF caíram de 74, em 2021, para 57 ocorrências. Já o número de latrocínios registrados foi de quatro ocorrências nos três meses de 2022 contra seis ano passado.
No cenário nacional, o DF teve a maior queda percentual de homicídios do Brasil (13,4%), comparado a 2019, de acordo com o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Monitor da Violência (USP, Fórum Brasileiro de Segurança Pública e g1), o DF figura como a unidade da federação de maior redução de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) do Brasil, com -37%.
A SSP/DF destaca ainda que conta com o Mulher Mais Segura, programa que reúne medidas, iniciativas e ações de enfrentamento aos crimes de gênero e fortalecimento de mecanismos de proteção da mulher”.
Saiba como denunciar
O DF tem duas delegacias especializadas no atendimento à mulher (Deam), na Asa Sul e em Ceilândia, mas os casos podem ser denunciados em qualquer unidade.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também recebe denúncias e acompanha os inquéritos policiais, auxiliando no pedido de medida protetiva na Justiça.
- Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM)
Endereço: EQS 204/205, Asa Sul, Brasília
Telefones: (61) 3207-6195 e (61) 3207-6212 - Delegacia de Atendimento Especial à Mulher (DEAM II)
Endereço: QNM 2, Conjunto G, Área Especial, Ceilândia Centro
Telefone: (61) 3207-7391 - Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
Endereço: Eixo Monumental, Praça do Buriti, Lote 2, Sala 144, Sede do MPDFT
Telefones: (61) 3343-6086 e (61) 3343-9625 - Prevenção Orientada à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar
Contato: 3190-5291 - Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal
Contato: 180