Na Semana do Idoso, durante a qual é lembrada a criação do estatuto que garante os direitos da população acima de 60 anos, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) divulgou dados sobre ocorrências policiais cujas vítimas são pessoas dessa faixa etária.
Por meio da Divisão de Análise Técnica e Estatística da PCDF, e a pedido do Metrópoles, a corporação fez um levantamento exclusivo e revela que, entre janeiro e agosto de 2020, houve aumento de 28,16% em ocorrências nas quais idosos da capital foram alvos de estelionatários. Os números foram comparados com o mesmo período do ano anterior.
Em 2019, 1.704 idosos caíram em diversos tipos de golpe, ocorridos em todas as regiões administrativas do DF nos primeiros oito meses do ano. Esse número subiu para 2.184, também nos primeiros oito meses de 2020, período em que os dados foram compilados.
Foi no Plano Piloto onde houve a maior variação absoluta de casos. Nos oito primeiros meses de 2019, a PCDF registrou 472 golpes contra idosos na região administrativa. Este ano, houve aumento de 29%, totalizando 610 casos: ou seja, em 2020 foram registrados 138 crimes do tipo a mais.
Em segundo lugar aparece Taguatinga, com 170 ocorrências no mesmo período em 2019 contra 207 neste ano. Um aumento de 22%. Ceilândia, cidade mais populosa do DF, ficou em terceiro lugar no ranking. Apesar dos 154 golpes contra idosos ocorridos na região administrativa de janeiro a agosto deste ano, houve queda nesta numerária. Em 2019, foram registradas 157 ocorrências, três a mais que neste ano.
Golpistas preferem as quartas-feiras
Titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, Orientação Sexual e da Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), Ângela Maria Santos confirma as estatísticas elaboradas pela PCDF e acrescenta que não são raros os casos em que os mais velhos são vítimas de aproveitadores.
“Há várias ocorrências de golpes que as pessoas praticam contra os mais velhos, inclusive com desconto em contracheque. Hoje, para casos de estelionato contra o idoso a pena é dobrada. Antes, era de 1 a 5 anos de prisão para quem fosse condenado. Agora, essa punição vai de 2 a 10 anos”, explica a delegada.
Além do local onde ocorrem os crimes, os dados da Divisão de Análise Técnica e Estatística da PCDF trazem informações detalhadas, como dia, hora e local onde os golpistas mais agem no Distrito Federal.
A maioria dos crimes registrados no Plano Piloto, por exemplo, ocorreu às quartas-feiras. O horário mais crítico é das 11h59 às 18h59. Na somatória dos dois anos, dentro deste recorte, foram registradas 216 ocorrências nas asas Sul e Norte.
Em Taguatinga, as estatísticas se assemelham às do Plano. As quartas-feiras são os dias prediletos do estelionatários. É quando eles mais agem e mais fazem vítimas. No compilado 2019/2020, foram 72 ocorrências nesse dia da semana. O horário das 11h59 às 18h59 também é o escolhido pelos criminosos para atuar em Taguatinga.
As pessoas mais prejudicadas pelos golpistas estão na faixa etária dos 60 aos 64 anos, sendo alvos de 31,6% das ocorrências. Em seguida, vêm os idosos entre 65 e 69 anos de idade (27,2%) e dos 70 aos 74 anos (18%). E 14,9% das vítimas tinham entre 75 e 80 anos. Para completar os 100% faltam “apenas” 7,5%, lugar ocupado por idosos acima dos 80.
Assim como nos casos de violência física, como maus-tratos, as mulheres são maioria também quando o assunto são os golpes promovidos por estelionatários.
Do total de casos registrados no período analisado, 32% dos alvos estavam aposentados no momento do registro do boletim de ocorrência e só 4% eram servidores públicos ainda na ativa.
Tipos de golpes
Um levantamento feito pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) revela que, desde o início da quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus, houve um aumento de 60% em tentativas de golpes financeiros contra idosos no país.
Segundo a Febraban, as quadrilhas especializadas nesse tipo de golpe se aproveitaram do aumento das transações digitais causado pelo isolamento social e da vulnerabilidade dos consumidores, em especial dos mais velhos. Articulados, os bandidos usam da manipulação psicológica sobre o usuário a fim de conseguir com que ele lhes forneça informações confidenciais.
Um dos golpes mais comuns, são as ligações para a casa dos clientes, nas quais o estelionatário diz ser do banco X e pede para confirmar alguns dados pessoais e senhas. Ao fornecer informações sigilosas, a vítima expõe sua conta bancária e seu patrimônio aos golpistas.
Também existe os golpes nos quais o criminoso se apresenta como funcionário do banco e pede que o cliente realize uma transferência como um teste. É preciso alertar os clientes que bancos nunca ligam para realizar transações.
Há ainda o golpe do “bença, tia”, articulado de dentro de presídios de todo o país. Em uma ligação, o criminoso se passa por um parente da vítima e pede que seja feito um depósito, pois estaria passando por uma grande dificuldade financeira. Movido pelo apelo emocional, o idoso muitas vezes acabam cedendo aos pedidos dos “sobrinhos”.
Um novo formato de estelionato tem chegado ao conhecimento da Polícia Civil do DF, que alerta a comunidade. Também por telefone, bandidos entram em contato com pessoas idosas, passando-se por parentes e dizendo que estão precisando de dinheiro. Uma vez que convencem os alvos, os autores enviam um motorista para que a vítima efetue o pagamento por meio da máquina de cartão.
Os golpistas alegam que, por causa das recomendações de distanciamento social devido à pandemia de Covid-19, seria mais seguro que os idosos fizessem a transferência de forma não presencial. Após o pagamento, os motoristas envolvidos no crime realizam transferência bancária aos criminosos, ficando com “comissão” de R$ 100 a R$ 300.
Denúncia
Caso tenha informações sobre maus-tratos à pessoa idosa no DF, acione os seguintes órgãos:
GDF: 162
Ouvidoria da Defensoria Pública: 2196-4600
Direitos Humanos: Disque 100
Polícia Civil do DF: 197
*Com informações do Metrópoles