Apelidado de ‘Bolsonaro português’, o negacionista André Ventura, líder do Chega, quer ministérios em troca de alianças para formar novo governo. Eleições legislativas do país terminam no domingo.
Nas últimas eleições legislativas, em 2019 a extrema direita conseguiu, pela primeira vez, fincar o pé no Parlamento português com a entrada de um deputado do partido Chega. Se confirmarem os prognósticos das pesquisas de opinião, a legenda, que tem de 6% a 8% das intenções de voto, será elevada à terceira força política do país no próximo domingo (30).
A ascensão preocupa os dois principais partidos – Socialista (PS) e Social-Democrata (PSD) –, que, de antemão, rejeitam qualquer sociedade com a legenda de extrema direita. Mas o deputado André Ventura, presidente do Chega, se mostra confiante de que atuará como uma peça essencial na formação do novo governo.
Controverso por declarações racistas e xenófobas e pela defesa do retorno da pena de morte e da castração química para pedófilos, Ventura, de 39 anos, avisa: o Chega não quer ser “um partido muleta, que está no Parlamento apenas para levantar e abaixar a mão”. Com a perspectiva de obter mais cadeiras, quer também fazer parte do Executivo e ganhar ministérios. Mais do que isso, como ele diz, seu propósito é transformar a direita portuguesa.
Os socialistas, liderados pelo premiê António Costa, estão à frente nas pesquisas, seguidos pelos socialdemocratas. O chefe do governo foi forçado a antecipar as eleições por perder apoio dos partidos de esquerda na votação do Orçamento. Após funcionar por seis anos, a famosa Geringonça, aliança inédita entre PS, PCP, Bloco de Esquerda e Verdes, ruiu.
A saída mais viável para o Chega seria entrar em uma coligação com legendas de espectro conservador, uma espécie de “gerigonça de direita”, entre PSD, CDS (Centro Democrático Social, inspirado na democracia-cristã) e o Iniciativa Liberal. Mas os mais de 30 debates entre duplas de candidatos deixaram claro que ninguém quer se aliar ao partido. E Ventura não faz por menos.
No confronto com Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS, chamou seis vezes o partido de “direita mariquinhas”. Com Rui Rio, do PSD, foi incisivo: “Por que não quer o Chega?” Ouviu como resposta que o partido é instável e radical. “A negociação não pode chegar nunca a uma situação de coligação em que haja ministros do Chega ou que vá violentar os nossos princípios”, explicou Rio.
O líder do Chega foi condenado por racismo, ao chamar de bandidos os integrantes de uma família da comunidade Jamaica, em Lisboa. Seu partido abrigou filiados ligados a organizações neonazistas e ultradireitistas e está longe do título de antissistema, como insiste em ser rotulado. Populista, prega o fim dos pedágios, a redução do IVA para os donos de restaurantes e adere às manifestações de policiais.
Ventura integra a minoria de 10% de portugueses que não se vacinaram contra a Covid-19. Opõe-se ao certificado de vacinação e costuma comparecer sem máscaras a eventos, grudado nos partidários. Em comícios, reeditou o lema “Deus, Pátria, Família”, que os portugueses ouviam durante a ditadura salazarista — o mesmo que fez o presidente brasileiro com o slogan do integralismo. Não por acaso, tanta afinidade e admiração rendeu ao líder do Chega o apelido de “Bolsonaro português”.