Tião Lucena
Miguelzinho tinha cinco anos quando se perdeu no emaranhado de ruas de Patos Espinharas. Era um pitoquinho de gente. Papai o levou, a seu pedido, para conhecer a cidade grande, numa das seguidas viagens do velho para reuniões sindicais.
Miguelzinho, curioso como sempre foi, deixou Seu Miguel discutindo as leis sindicais com o companheiro Caboclinho e saiu de rua afora admirando os prédios, os carros e as outras novidades.
Pela primeira vez Seu Miguel perdeu aquela serenidade que o caracterizava e botou as mãos na cabeça, achando que perdera o seu caçula.
Depois de muito procurar, avistou descendo pela Rua do Prado aquele pingo de gente,calça curta descobrindo as canelas,chinela japonesa, o cabelo jaquideme descendo pela testa, calmo que só um santo, achando que não fizera nada demais.
Ele sempre foi assim, o mundo sempre foi seu limite.
Quando veio pra João Pessoa estudar, foi levado ao Botafogo para ser goleiro. Treinos intensos, nada de ganhar dinheiro, mas valia o sacrifício.
Até que o treinador resolveu lhe dar um rela.
Miguelzinho não aguentou o desaforo:
-Vocês cheios de razão e não dão nem uma banha de porco pra gente passar nas canelas”.
Encurtou a vida de jogador, foi ser jornalista.
Em A União deu um show no teste, mas foi preterido pelo irmão de conhecido jornalista, protegido do editor. Melhor assim, mudou-se para O Norte e em pouco tempo era repórter político e diretor do sindicato.
Daí em diante, virou cidadão do mundo. Foi jornalista na Bahia, viajou pelas Américas, guerreou pelos sete mares até pousar em Brasília para fazer concurso de delegado.Está como delegado há 25 anos, na Polícia já foi quase tudo, é querido e respeitado pelos colegas de profissão e tem um milhão de amigos na cidade.
É poeta.Poeta com livros lançados e artigos publicados pelo mundo afora. .
Mas o seu maior mérito é ser filho de Seu Miguel e de Dona Nila. Para nós, seus irmãos, um filho mais novo, um irmão caçula.
Hoje ele chega aos 55 anos, mas continua a ser o nosso pingo de gente. Um pingo de gente querido, amado e mimado.