O prazo estimado por essa visão é janeiro de 2029, quando Donald Trump terá de sair do governo dos Estados Unidos

IGOR GIELOW
MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS)
Na última quinta-feira (2), Vladimir Putin criticou duramente os governos europeus pelo que vê como “histeria” acerca da possibilidade de a sua Rússia atacar algum país do continente. “Eles repetem esse absurdo, esse mantra, sem parar”, queixou-se, sem deixar de dizer que a resposta está pronta.
Para o presidente russo, “é simplesmente impossível acreditar” que seu país vá entrar em guerra com alguma nação europeia, dado que 30 dos 44 Estados do continente são integrantes da Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos que preconiza a defesa mútua em caso de agressão.
Faz sentido, mas não concordam com Putin três integrantes da elite russa ouvidos pela reportagem na semana retrasada em Moscou, além de um muito bem conectado embaixador de país da Otan na capital.
Esse observador diz que a linha dura das Forças Armadas convenceram o “natchalnik”, palavra que significa “chefe” em russo e é aplicada a Putin nesses círculos, de que a Ucrânia será dobrada e que a Otan não terá capacidade de reação.
O prazo estimado por essa visão é janeiro de 2029, quando Donald Trump terá de sair do governo dos Estados Unidos. A lógica aplicada é de que o republicano deixará os membros europeus da Otan à sua própria sorte, retirando Washington das obrigações ante a aliança.
Por óbvio, é uma especulação firmemente rechaçada pelo próprio Putin, mas vai de encontro com as mais selvagens hipóteses na Europa. O comandante do Exército francês, Pierre Schill, disse que suas forças “precisam estar prontas para se engajar em combate, mesmo hoje à noite”.
Como a reportagem mostrou em julho, a Otan mesmo está em ritmo de guerra, com todos os seus principais Estados europeus falando em possibilidade de conflito até 2030, ou antes. A Presidência de Trump, errática em sua abordagem do conflito, parece dar um prazo mais factível.
Mas, como observa o diplomata ocidental, a coisa não é tão simples. As condições econômicas da Rússia, por mais resilientes que se tenham mostrado sob sanções até aqui, podem não ter elasticidade para uma ampliação da guerra.
Concorda com ele outro “insider” do Kremlin consultado pela reportagem. Mas ele ressalva que a situação na Ucrânia, ao menos nos limites de manutenção dos 20% conquistados até aqui, pode estar solucionada até o ocaso de Trump 2.0. Contando com a inação de Washington em caso de conflito, o famoso “você vai lutar por Tallinn?”.
Daí, uma agressão extra à Europa, testando os limites de Trump, pode não estar fora do cardápio. Nas últimas semanas, a histeria apontada por Putin baseou-se em algumas realidades: incursões de drones russos contra a Polônia e Romênia, invasão dos caças na Estônia, queixa de intrusão naval pela Dinamarca e avistamentos de drones no país nórdico, na Noruega e na Alemanha.
Para a Otan, tudo isso é um teste de estresse, visando avaliar velocidade de reação das defesas -que, até aqui e mesmo com a nova operação ocidental de proteção aérea em curso, mostraram-se tíbias.
O terceiro russo ouvido concorda com o cenário geral, mas lembra que os riscos para Moscou são muito grandes. Exceto que queira a Terceira Guerra Mundial, Putin sabe que seu país terá tudo a perder em caso de um conflito aberto com a Otan, além de ter dificuldades econômicas parra tal empreitada.
Isso dito, diz, as cartas estão na mesa.