Governo do Distrito Federal (GDF) abrirá, na próxima semana, 36 vagas, seguidas de outras 60, em até 10 dias. Medida visa garantir atendimento à população, principalmente após aumento da procura por pacientes do Entorno e de estados como BA, MA e PI
Após a identificação da cepa britânica do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em circulação na capital do país e em cidades do Entorno, além da pressão da procura por atendimento no DF, o Governo do Distrito Federal (GDF) anunciou a abertura de 100 leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) para pacientes com covid-19. A informação, antecipada nessa quarta-feira (17/2) ao Correio, é de que serão 36 novos na próxima semana e 60 em até 10 dias. Ontem, houve a abertura de cinco, contratados pela Secretaria de Saúde, no Hospital Daher, no Lago Sul.
No momento, a preocupação com a rede de saúde pública do DF tem relação com a chegada de pacientes de outras unidades da Federação, principalmente da Bahia, de Goiás, Minas Gerais e do Piauí. Atualmente, o Distrito Federal conta com 162 leitos de UTI destinados a pacientes com a doença, sendo 49 contratados de hospitais particulares. Na quarta-feira (17/2), a taxa de ocupação estava em 83,95%, com apenas 24 vagos e outros dois bloqueados, no aguardo de liberação.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) reconhece a situação de alta demanda, especialmente diante da transferência de pacientes de outras partes do país para o DF. “Não são apenas pessoas que moram no Entorno, mas também de cidades mais distantes — da Bahia, de Minas e até do Piauí — que estão buscando atendimento aqui”, afirmou. O chefe do Buriti destacou, porém, que nenhuma pessoa de fora que procurou assistência no DF ficou sem tratamento. “Conseguimos leitos para todos, mas a situação tem se agravado na medida em que essa eficiência atrai moradores de outras cidades. Mas todos serão acolhidos. Estamos trabalhando para reforçar nossa rede”, completou.
Agora, o chefe do Executivo local trabalha para conseguir novas vagas na rede particular para a população, com recursos do Ministério da Saúde. A pasta federal deve publicar, em breve, uma portaria para regularizar o pagamento de leitos de UTI em hospitais privados. “Pedi ao ministro (da Saúde, Eduardo) Pazuello para que o pagamento fosse feito por UTI usada. É o mais justo. De qualquer forma, ele garantiu que todos serão efetivamente pagos e, para mim, a palavra dele basta”, ressaltou Ibaneis.
O secretário Osnei Okumoto disse que a abertura de vagas ocorre diariamente: “Estamos ativando os novos leitos dia após dia. Levantamos a possibilidade de acordo com a necessidade e inauguramos quando possível. Ao longo da próxima semana, devemos ativar em torno de 36”, afirmou.
O infectologista Julival Ribeiro teme que ocorra, no DF, o mesmo visto em outras unidades da Federação após as festas de fim de ano. “Daqui a 14 dias, pode surgir um número muito maior de casos, sobretudo, se essa variante do Reino Unido estiver circulando muito aqui e, com isso, aumentarem os número de casos, de internações, de gente precisando de UTI, podendo levar à morte. O que as pessoas têm de fazer é respeitar as medidas sanitárias”, destacou o infectologista Julival Ribeiro.
Outro tema que preocupa, diante da situação de colapso que estados têm enfrentado envolve a quantidade de oxigênio disponível. No DF, a Secretaria de Saúde informou apenas que a capital federal está abastecida e que há estoque suficiente para atender toda rede pública. “Não há perigo de escassez do insumo. O contrato da SES-DF não é por quantitativo de cilindros. A pasta paga pelo metro cúbico abastecido”, informou o órgão.
Nessa quarta-feira (17/2), o Distrito Federal confirmou mais 10 mortes e 583 novos casos da covid-19. Com os registros, o número de vítimas da doença chegou a 4.718 (1,6% do total), com 286.720 infectados, dos quais 96,7% se recuperaram. A média móvel de casos ficou em 581,57 — queda de 26,5%, em relação ao resultado de 14 dias atrás, 3 de fevereiro. Quanto às mortes, na comparação com a mesma data, o indicador ficou em 9,85 (6,8% a menos).
Continuidade
A perspectiva da Secretaria de Saúde do DF é continuar a vacinar grupos prioritários até 22 de fevereiro: idosos com 79 anos ou mais, trabalhadores da saúde, povos indígenas aldeados, pessoas com deficiência em instituições, pacientes inscritos no Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad) ou idosos com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência. Se não chegarem novas doses, a campanha de imunização pode ser interrompida.
Palavras de especialistas
Alta nas demandas
Agora, a situação está diferente do que tivemos no começo da pandemia. Com a maior procura da população por tratamento de doenças comuns — que, na maioria, ficaram sem atendimento no começo da crise do novo coronavírus — a possibilidade de manobra que teremos em relação à covid-19 também diminui. Problemas simples se acumularam ao longo desse período em que as pessoas tiveram recomendação de evitar os hospitais, e isso pode fazer uma pressão no gerenciamento do sistema. Embarcamos na segunda onda sem termos tido nenhuma diminuição sensível dos casos. As pessoas precisam compreender que vamos ter de conviver com esse vírus por um tempo, mesmo com a vacina. Precisamos de um número grande de vacinados, para alcançarmos uma segurança real. Os cuidados continuam necessários.
Werciley Júnior, infectologista
Riscos das variantes
A Variante P1 está dentro do que chamamos de variantes de atenção, pois são mutações que podem ser mais perigosas e de impacto clínico. Elas têm uma série de mutações, como a E484k, que pode levar a uma fuga da resposta imune. Além de aumento da transmissibilidade, produzir uma doença mais grave, assim como casos de reinfecção, dificultar os diagnósticos e trazer falhas terapêuticas. Um exemplo foi a variante de atenção que afetou as pessoas do Sul da África e levou à redução da eficácia da vacina AstraZeneca de 90% para 10%. Estamos diante de um alerta, e o futuro depende exclusivamente de nosso comportamento.
Joana D’Arc Gonçalves, infectologista
Continuidade
A perspectiva da Secretaria de Saúde do DF é continuar a vacinar grupos prioritários até 22 de fevereiro: idosos com 79 anos ou mais, trabalhadores da saúde, povos indígenas aldeados, pessoas com deficiência em instituições, pacientes inscritos no Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad) ou idosos com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência. Se não chegarem novas doses, a campanha de imunização pode ser interrompida.
Confirmação nos próximos dias
Além da cepa britânica, variantes do novo coronavírus provenientes do Amazonas e do Rio de Janeiro estão em circulação na capital federal, segundo fontes informaram ao Correio. Em nota enviada ontem, a Secretaria de Saúde (SES-DF) negou a informação. No entanto, o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF) teria recebido dados a respeito, mas só pode divulgar detalhes após confirmação do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
Apesar da negativa da SES-DF, a reportagem confirmou uma infecção pela variante britânica da covid-19, a B.117, no Distrito Federal. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou a linhagem em uma das 11 amostras de genomas do vírus recebidas, como antecipado pelo Correio na terça-feira. Entretanto, ainda não há dados como data do registro, quantidade de casos identificados, nem endereço dos infectados.
Apesar da publicação em lista no site da Fiocruz, a fundação informou que “não foi responsável pela identificação dessa variante no DF”. Por enquanto, a Secretaria de Saúde afirma que a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep) e o Lacen-DF monitoram todos os casos de covid-19 registrados na capital federal. “Os sequenciamentos genéticos são encaminhados para os laboratórios de referência: Adolfo Lutz, Evandro Chagas e Fiocruz”, respondeu a pasta, em nota.
O laboratório estratégico do Instituto Adolfo Lutz comunicou que não tem autorização para repassar informações sobre sequenciamentos de genomas. A divulgação precisaria de aval da Secretaria de Saúde de São Paulo (SES-SP). Procurada, a pasta não deu retorno à reportagem até o fechamento desta edição.
A Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO) afirmou que a cepa britânica não avançou para outros municípios goianos. Atualmente, há dois casos em monitoramento pelas secretarias municipais, um em Luziânia e outro em Valparaíso. “O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) nacional está ciente das notificações. Entre as ações estão a investigação retrospectiva; a avaliação do histórico de viagem, do quadro clínico, da gravidade e do desfecho (do caso); o rastreamento e monitoramento dos contatos entre moradores da mesma casa, familiares e pessoas próximas; e notificação dos casos suspeitos para coleta de material e envio ao Lacen Goiás”, respondeu a SES-GO.
Diversidade genética
A descoberta da cepa britânica em circulação pelo DF preocupa especialistas. Contudo, a probabilidade é de que outras variantes estejam em circulação na capital federal, mesmo sem notificação oficial. Para César Carranza, infectologista do Hospital Anchieta de Brasília, o risco aumenta principalmente porque pacientes contaminados pela variante amazônica viajaram para outras partes do país para receber atendimento. “Por isso, é essencial reforçar as medidas indicadas para prevenção contra a covid-19. Além do mais, nos casos de algumas variantes, percebemos que a vacina tem uma queda de eficácia. Portanto, a situação deve ser controlada, e a população deve colaborar”, cobrou.
A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde informou que o sequenciamento genético “não é um método de diagnóstico, não é realizado para a rotina da confirmação laboratorial de casos suspeitos da covid-19, tampouco é indicado para ser feito em 100% dos casos positivos”. No entanto, o órgão admitiu que a análise desse tipo de resultado permite quantificar e qualificar a diversidade genética viral circulante.
Fonte: Correio*