[Crônica de Marcelo Torres]
Da forma como caminha a humanidade, com a vida se passando no mundo virtual, estamos todos governados por um tal de algoritmo.
É um ser invisível, misto de deus e diabo, que conhece mais sobre nós do que nós mesmos — a partir, obviamente, de tudo aquilo que você envia, recebe, lê, escreve, ouve e fala pelo celular ou computador.
Enfim, trata-se de um espião que sabe todos os seus podres, bem como seus verdes e seus maduros.
Se você pede ao Doutor Google, por exemplo, um remédio para hemorroida, aí é batata — ele passa a saber das suas necessidades, suas precisões e tudo neste quesito — e aí tome-lhe anúncio, artigo, matéria, o diabo.
Este é apenas um item entre centenas ou milhares de coisas que você publica, curte, comenta, abre, repassa, lê, assiste, pesquisa…
Eu mesmo, todo dia, de manhã, dou uma passada de olho nas “tendências do momento” — é a lista das notícias mais procuradas no Google nas últimas horas, mas são aquelas que mais se aproximam de você, porque são selecionadas pelo indigitado algoritmo.
Na maioria das vezes, não abro nenhuma, mas tem dia que alguma delas me atrai, por afinidade, por simpatia, por ideologia. Hoje mesmo (sexta, 12/07, estavam lá a gafe cometida pelo vovô Joe Biden, que trocou Zelensky por Putin — o que não chega a ser nenhum absurdo — e duas dezenas de manchetes sobre Lula, Bolsonaro, Copa América, Eurocopa, Olimpíadas e outras muitas mais.
Porém, o que chamou minha atenção foi a manchete ”Pânico na Praça Rui Barbosa: mulheres são atropeladas por ônibus”.
Com certeza, o Google colocou essa notícia para mim porque, na semana retrasada, eu fiz uma crônica um tanto saudosista sobre Alagoinhas-BA, e o texto circulou nos aplicativos mais que prato de micro-ondas, ou mais que pneu careca de caminhão.
Nas minhas prosopopeias, falei de fatos, personagens e lugares icônicos daquela que foi a capital da minha infância — e, entre os logradouros citados, estava a Praça Rui Barbosa velha de guerra.
Aquela chamada, aquele título, que falava em “pânico” e “mulheres atropeladas”, já me fazia antever a terrível cena: um ônibus sem freio, descendo desgovernado, havia atropelado muitas mulheres — uma grande tragédia.
De imediato, fiquei pensando: será que entre as mulheres havia alguma conhecida ou da nossa família? É verdade que as tias que lá moravam quase já haviam partido, mas é certo que ficaram as primas, além das filhas das primas, que não são poucas. E tenho lá ainda várias amigas, reais ou de redes sociais, também ex-vizinhas, ex-colegas de escola, ex-professoras, ex-colegas de trabalho, até umas duas ex-namoradas.
Pois especulava isso, abri o link para a notícia, que dizia: “Duas mulheres foram atropeladas por um ônibus na manhã desta quinta-feira, na Praça Rui Barbosa, no Centro de… Curitiba”. Eis aí: não se tratava de acidente em _Alagoinhas_, mas na capital paranaense.
Apesar do alarme exagerado do título, a reportagem informava que as duas mulheres, após receberem os primeiros socorros no local, tinham sido encaminhadas a um hospital e estavam ambas fora de perigo, apenas com alguns ferimentos.
Após o susto, cá fiquei pensando: desta vez, fui eu que enganei o desgramado — porque era outra a praça (apesar do mesmo nome) e outra a cidade. Mas depois, assuntando bem, foi ele que me passou a perna, o invisível, o indigitado, o tal do algoritmo.