O isolamento social recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço da disseminação do novo coronavírus teve reflexo no consumo de bebidas alcoólicas dentro de casa, que aumentou consideravelmente. O uso de medicamentos antidepressivos também cresceu.
Segundo o Sindicato do Comércio Atacadista de Álcool e Bebidas em Geral do Distrito Federal (SCAAB), mesmo considerando a migração do hábito de consumo e a restrição dos pontos de venda com o fechamento de estabelecimentos comercias, como bares e restaurantes, por exemplo, o volume de vendas apresentou alta da ordem de 15% a 20% em supermercados e hipermercados.
O setor credita o incremento principalmente ao fato de muitas pessoas acompanharem seus artistas preferidos por meio de shows feitos na internet, na modalidade live.
“Quanto ao comércio atacadista, o volume de vendas foi direcionado para segmentos específicos, que acabaram por substituir o volume de clientes que iam a bares e restaurantes. Vale lembrar também que algumas indústrias de bebidas fazem atendimento direto, sem recorrer a distribuidores atacadistas locais”, explicou o presidente do SCABB, Érico Cagali.
Apesar da comemoração da indústria de bebidas, profissionais da saúde fazem alerta sobre excessos.
A psicanalista Mariana Souza ressalta que a prática altera a percepção do tempo. “As pessoas bebem e perdem o sono, simplesmente não conseguem dormir. O álcool te dá uma sensação inicial de euforia, mas, quando passa, vem um efeito extremamente depressivo.”
Pontua ainda que pessoas acostumadas a uma rotina movimentada tendem a ficar estressadas por causa do confinamento social. Dessa forma, elas começam a apresentar alguns transtornos, como o aumento da ansiedade.
Venda de remédios ansiolíticos cresceu 30%Hugo Barreto/Reprodução
Antidepressivos
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos da capital da República (Sincofarma), a venda de antidepressivos, medicamentos para ansiedade e produtos fitoterápicos teve impulso de 30% nos dois últimos meses.
“As pessoas não estão frequentando consultórios médicos por medo da Covid-19 e acabam adquirindo remédios por conta própria para fugir da crise. Percebemos que os produtos para ansiedade e antiestresse, além de vitaminas para aumentar a imunidade, estão saindo bem mais do que os demais”, disse o presidente do sindicato, Francisco Messias Vasconcelos.
A comercialização de outros medicamentos, no entanto, caiu drasticamente. “Muitos clientes com receituário médico que vale por dois ou três meses de uso estão comprando menos pela falta de dinheiro. A população na periferia de Brasília é a mais afetada. As drogarias dessas regiões sofreram impacto muito grande”, assinalou Messias.
A diretora da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), Renata Soares Rainha, frisou que o aumento pode ser percebido também com base em pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizada em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, e a Universidade Estadual de Campinas.
“É um estudo de comportamentos. Eles usaram dados coletados entre os dias 24 de abril até 8 de maio e avaliaram quase 4,5 mil pessoas. Os próprios entrevistados se avaliaram em relação a como estão se sentindo durante a pandemia.”
Tabagismo
Os resultados apontaram que 40% dos participantes se sentiram mais tristes ou deprimidos; e 54% mais ansiosos e nervosos. Quanto ao sono, 29% passaram a ter problemas e 16% relataram dificuldades para dormir durante a quarentena.
Em relação ao cigarro, 12% dos entrevistados são fumantes. Entre eles, 28% declaram ter aumentado o consumo de nicotina.